domingo, 23 de julho de 2017

COLUNA DO LÁZARO ALBUQUERQUE: CRÔNICA DO DOMINGO


CADA MACACO NO SEU GALHO...
Lázaro Albuquerque Matos
“Não se aborreça, moço da cabeça grande

Você vem não sei de onde
Fique aqui, não vá pra lá
Esse negócio da mãe preta ser leiteira
Já encheu sua mamadeira
Vá mamar noutro lugar
Xô xuá
Cada macaco no seu galho
Xô xuá
O meu galho é na Bahia” - (Riachão).
Em 1972, Caetano Veloso e Gilberto Gil voltaram do exílio em Londres imposto pela ditadura militar. Mesmo os dois sendo bons compositores, com capacidade de celebrarem o retorno com uma música de autoria deles, com nível intelectual à altura de suas composições, os baianos preferiram assinalar a volta com a música “Cada Macaco No Seu Galho”, feita por um compositor desconhecido, mas baiano como eles, chamado Riachão. Não se sabe o que levou os compositores a não tirarem de suas lavras uma música de exaltação ao retorno deles ao Brasil. Eles escolheram e gravaram pra isso “Cada Macaco No Seu Galho”, a música de Riachão.
O exílio dos cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil veio justamente por suas composições. As letras delas incomodavam o regime militar implantado no Brasil por meio da ditadura. Além das músicas de protesto, com letras de ideologia política, Caetano e Gil eram anarquistas, sim, senhor, pelo traje que usavam. Eles combatiam a ditadura com as músicas que faziam, e anarquizavam-na com as roupas extravagantes e irônicas que vestiam no movimento “Tropicália”, quebrando a ordem natural das coisas.
Em Londres, Gilberto Gil compôs a música “Aquele Abraço” e gravou lá. Foi abraço para o Rio de Janeiro, para o Chacrinha – Velho Guerreiro – e para a torcida do Flamengo, enquanto Caetano Veloso preferiu uma homenagem à cidade inglesa que os acolheu no exílio. A música “London London” foi composta por Caetano com essa finalidade. Ele mandou para Gal Costa gravar no Brasil. Foi um grande sucesso. 
Se eu fosse Caetano e Gil, pelo amor que eles têm à Bahia, teria escolhido a música “Na Baixa do Sapateiro”, do compositor Ary Barroso, como fundo musical do retorno deles ao Brasil. Ary era mineiro, mas baiano de coração, como prova a música dele. A música de Ary, Na Baixa do Sapateiro, é uma ode à Bahia.
“Bahia, terra da felicidade
Morena, eu ando louco de saudade
Meu Senhor do Bomfim
Arranje outra morena (Bahia)
Igualzinha pra mim
Ô, Bahia, não me sai do pensamento”...
Roberto Carlos antecipou o retorno de Caetano ao Brasil, em dezembro de 1971, com a música “Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos”, no seu LP daquele ano. Roberto e Erasmo Carlos compuseram isso, referindo-se a Caetano quando ele voltasse à Bahia:
“Um dia areia branca seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos a água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir
Pra ver você voltar
E ao se sentir em casa
Sorrindo vai chorar
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história para contar 
De um mundo tão distante”.
A expressão cada macaco no seu galho não indica uma adaptação do macaco, pulando de galho em galho, no querer se dar bem em tudo, em qualquer lugar. O macaco gosta de pular de galho em galho, mas não é isso que “Cada Macaco No Seu Galho” nos ensina. Por essa expressão, aprendemos que uma pessoa não deve se meter naquilo que não lhe diga respeito. E ensina mais isso: cada um na sua, em seu devido lugar, sem querer ocupar o lugar do outro. 
Afirma-se, com “Cada Macaco No Seu Galho”, que cada pessoa tem seu lugar certo, ou seu o próprio galho. Não é necessário preocupar-se com o lugar do outro, com intromissões indevidas. Um quebra-galho aqui e outro ali, em determinada situação, não tira de sentido o “Cada Macaco No Seu Galho”
Aí sobram razões para Caetano Veloso e Gilberto Gil afirmarem, por meio da música de Riachão, que eles são macaco e o galho deles é o Brasil, e, como não poderia deixar ser – e principalmente – a Bahia.
Xô xuá!
Até domingo, Duque Bacelar.
Xô xuá!
Tu és minha árvore. 
Xô xuá!
Sou um macaco no teu galho.





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