sábado, 22 de setembro de 2018

SORRIA, MARIA

  SORRIA, MARIA      
   Carlos Machado

Nasceu envolta em molambo
de tão mísera tinha um pano
Caiu cedo no mundo
Não teve chance um segundo
Nem pelos pubianos trazia
Quando o corpo foi subjugado
Por indivíduo depravado  

Jogada na vala da orgia
Sujeitou-se a tirania
Escalou os píncaros do submundo
Mas, fugitiva do destino imundo
Foi escrava em casas belas
Peregrina, pagã
Criou corpo de donzela
Mãe solteira perdeu o filho
Levado por desconhecido

Tratou de arrumar companhia
Gente que desconhecia
Ralava desde o piscar do dia
Nem a hora de fechar os olhos sabia
Mas, tudo em casa adquiria
E mesmo assim apanhava e sorria
Pegou tempo de cadeia
Saiu na legitima defesa
Para não apanhar mais todo dia

Recomeçar foi o dilema
A escola virou lema
Apegou-se a santa Maria Madalena
Dentro da igreja pagava a pena
Com emprego garantido
Arrumou um canto protegido
Encontrou o filho perdido
E José para marido

Finalmente, que estranha ironia
Não era mais chamada de vadia
Como senhora da sociedade vivia
Não trabalhava mais noite e dia
Enfim, o destino lhe sorria
E feliz da vida seguia

Domingo, dia de intensa alegria
Com a família a palavra de Deus ouvia
Contrita, rezava as graças que recebia
Sem imaginar que naquele dia
uma bala perdida a mataria

E lá estava Maria
Jogada na terra fria
No corpo a alma se esvaia
E quem a visse dizia
Que a morta sorria

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