terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

MORTE PREMATURA DE BOECHAT É TRAPAÇA DO DESTINO

De todos os temores da vida, a morte é o único que tem 100% de chances de se realizar. Em função dessa inevitabilidade, a melhor maneira de se relacionar com a morte é esquecer que ela existe. Mas neste início do ano da graça de 2019, a morte parece decidida a impedir que os brasileiros esqueçam da sua existência. Não bastasse a sequência de tragédias que matam inocentes, morreu Ricardo Boechat, um jornalista que dava voz aos brasileiros assassinados pela impunidade dos muito vivos.

Por uma dessas trapaças do destino, o último comentário de Boechat na Rádio Bandeirantes antes de sua morte foi sobre o lado mais trágico das tragédias nacionais. Ele falou sobre as mortes produzidas pela lama tóxica da Vale, em Brumadinho (MG). Mencionou as mortes dos garotos no Centro de Treinamento do Flamengo, no Rio de Janeiro. Depois, citou reportagem do Globo sobre o desfecho de dez grandes tragédias ocorridas no Brasil —do incêndio na Boate Kiss às enchentes de Santa Catarina e do Rio.

Boechat leu o título da reportagem: "Negligência e impunidade marcam tragédias no país." E interpretou o sentimento nacional ao criticar a falta de punição dos responsáveis por desastres —agentes públicos e privados, cuja ação ou omissão criminosa se manifestam nos Poderes Executivo, Legislativo e também no Judiciário.

O retrato de uma sociedade é o resultado da análise de tudo o que sobra para ser desenterrado muitos anos depois. No futuro, quando a arqueologia fizer suas escavações à procura de sinais que ajudem a entender a decadência do Brasil, encontrará em meio aos escombros deste 11 de fevereiro de 2019, evidências de que o destino foi trapaceiro com os brasileiros. Com tantas mortes procrastinadas, o acaso matou prematuramente, num acidente de helicóptero, uma das vozes que se esforçavam para demonstrar que a corrupção e o descaso matam no Brasil.

Fonte: Blog do Josias de Souza

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