sexta-feira, 5 de junho de 2020

A CANTORA-MIRIM DO EGITO ANTIGO

Há quase três mil anos uma menininha cantora deixou faraós e membros da realeza egípcia encantados. Ela fazia parte do coro real e se apresentava nos templos religiosos de Amon-Rá, o rei dos deuses, que existiram ao longo do rio Nilo. Cantando e tocando instrumentos da época, como sistrum (uma espécie de chocalho), harpa ou “badalo” de osso, a menina alcançou tanto prestígio que mereceu ser enterrada em um sarcófago, honraria destinada apenas à elite real. Hoje, com o uso de novas tecnologias, especialistas estão desvendando segredos e refazendo histórias de múmias, como as da pequena cantora Tjayasetimu, que viveu no Egito por volta de 900 aC.

O sarcófago com os restos mortais de Tjayasetimu foi submetido a um estudo sofisticado realizado em um hospital de Manchester, na Inglaterra. Os registros obtidos por meio de tomografia computadorizada e exames de raios-X foram analisados por um software a partir do qual foram criadas imagens tridimensionais que revelaram o que estava oculto. Sob as ataduras que envolviam o corpo de Tjayasetimu, os especialistas descobriram um corpo bem preservado de uma menina que teria entre 7 e 9 anos de idade, com cabelos na altura dos ombros e um rosto em boas condições. Descobriam também dentes permanentes que não tinham irrompido, alojados no interior das arcadas.

Professor-adjunto do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Projeto Bape (Brazilian Archaeological Program in Egypt), José Roberto Pellini é um entusiasta da aplicação das novas tecnologias ao estudo das múmias conhecidas desde os séculos 18 e 19, como o caso da menina cantora. “Mostram um pouco mais do cotidiano do Egito antigo no final do Novo Império e nos dão um pouco do vislumbre de como essa categoria muito específica de cantoras e cantores eram representados”, disse Pellini. “Eles estão bem representados nas tumbas, em imagens de cenas de banquetes e em outros contextos.”

A morte prematura de Tjayasetimu, segundo os especialistas, pode ter ocorrido por uma doença de curta duração como a cólera, porque o corpo estava bem preservado, sem traumas ósseos nem fraturas. Mas o que confirmou a importância da menina cantora na corte egípcia foram o acurado processo de mumificação e o sarcófago. O corpo estava envolto em bandagens pintadas e o seu rosto coberto por um véu delicado, sob uma máscara de ouro. A cantora mirim foi colocada em um sarcófago dourado, embora de um tamanho maior do que ela, que tinha cerca de um metro de altura. Hieróglifos e pinturas no sarcófago revelam que ela era “cantora do interior” no templo do deus Amon-Rá. Segundo Pellini, casos como o de Tjayasetimu comprovam que o trabalho de “repesquisa” feita nos antigos sarcófagos, múmias e documentos, a partir de novas tecnologias e novas abordagens, trazem novos dados e completam a história.

Fonte: IstoRevista  É

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