quarta-feira, 8 de julho de 2020

EM PORTUGAL E ESPANHA, COLONIZAÇÃO É ENSINADA COMO ‘EXPANSÃO DE TERRITÓRIO’

Em 12 de outubro de 1492, Cristóvão Colombo errou o caminho para as Índias e foi parar no Caribe -- hoje, parte da atual América Central. Apesar do "Novo Mundo" ter habitantes, os povos ameríndios, esta data ficou conhecida como o Descobrimento da América. Desde então, todos os anos acontece, na Espanha, o Dia da Festa Nacional (ou Dia da Hispanidade), porque, em muitos países do outro lado do Atlântico, o início da colonização das Américas ainda é motivo de celebração.

Com o movimento Black Lives Matter ("Vida Negras Importam", em português), imagens em que pessoas negras do Congo aparecem enjauladas -- como pets de crianças brancas, e com membros mutilados como castigos por não cumprirem suas cotas de exploração de borracha -- foram disseminadas pela internet. Eram fotografias feitas de 1867 até 1960, quando parte do território do continente africano era uma colônia belga. No dia 30 de junho, o atual rei da Bélgica, Philippe, aproveitou o aniversário de 60 anos da independência do Congo para pedir perdão pelos atos de violência. Foi a primeira vez que um monarca pediu desculpas pela colonização.

O fato impressionou porque não é comum, em países como a Espanha e Portugal, as pessoas terem a real dimensão do quão violento é a colonização. Nestes lugares, os descobrimentos são explicados como meros processos de "expansão de território", que representou momentos gloriosos de suas respectivas jornadas.

"Nas escolas espanholas, a história das colônias é colocada sob o contexto do engrandecimento da Espanha. Para falar de como os navegadores espanhóis levaram minérios para a Europa, de como eles trouxeram a organização de governo para as Américas. De como eles dominaram os maias, astecas e incas", diz Leia Adriana da Silva Santiago, professora do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Goiano. A historiadora entrevistou nove professores do ensino secundário de nove escolas diferentes de Barcelona, na Espanha, para um artigo da revista espanhola "Enseñanza". "Um dos professores me disse que não sabia o que falar sobre as Américas -- já que este, de acordo com ele, era um tema marginal em seu país. Porque, se não for sob este contexto de engrandecimento da Espanha, não se fala sobre a colonização."

Marta Araújo, pesquisadora principal do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em Portugal, fez um trabalho extenso, de setembro de 2008 até fevereiro de 2012, sobre os manuais de ensino portugueses, que incluiu entrevista com professores e estudantes. Publicada no artigo "Raça e África em Portugal: um Estudo sobre Manuais Escolares de História", a investigação mostrou que ainda há uma leitura pouco crítica sobre o colonialismo português dentro de Portugal. "Ele costuma ser abordado como algo positivo, já que ajudou no crescimento do país em todos os níveis, porém também coloca a Escravatura sob a mesma perspectiva", diz a pesquisadora.

Fonte: UOL

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