Após ser alforriado aos 58 anos, Joaquim Pinto de
Oliveira, mais conhecido como Tebas, se tornou arquiteto na cidade de São Paulo
durante o Brasil
Colonial. Nascido em Santos, litoral paulista, em 1721, teve sua profissão
reconhecida apenas em 2018, mais de 200 anos depois de sua morte, quando
o Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (Sasp) o homenageou com
base em documentos oficiais reunidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN).
O jornalista Abílio Ferreira, organizador do
livro Tebas:
um negro arquiteto na São Paulo escravocrata (2019) aponta que
Oliveira não foi uma exceção, mas um personagem importante para enaltecer esse
segmento esquecido da população colonial. “Os africanos transplantados para as
Américas trouxeram consigo muitos conhecimentos, principalmente sobre o trabalho
com pedras e metais", afirma Abílio, em entrevista a Casa Vogue.
Tebas foi escravizado pelo
português Bento de Oliveira Lima, mestre de obras com quem ele teria aprendido
o ofício. Os dois foram para São
Paulo em busca de melhores oportunidades, numa época de Ascensão da
construção civil.
Nos anos 1750, Joaquim foi o responsável por diversas
obras que hoje são cartões
postais da capital, como a construção da torre da antiga Igreja Matriz da
Sé (1750), a ornamentação das fachadas das igrejas do Mosteiro de São Bento
(1766), da Ordem 3ª do Carmo (1777) e da Ordem 3ª do Seráfico São Francisco
(1783).
Entretanto, seu trabalho mais famoso não teve a mesma
sorte de permanecer ao longo do tempo. O Chafariz da Misericórdia, primeiro
chafariz público de São Paulo, foi demolido em 1866 após o processo de
canalização da água da cidade. A fonte foi erguida onde hoje está a Rua Direita
(próxima do metrô da Sé, no centro de São Paulo). Na época de sua construção,
diversos escravos buscavam água no local, que também servia como um ponto de
encontro entre eles.
Talentoso desde sempre, Tebas exerceu sua profissão
até falecer em 1811, aos 90 anos, devido a uma gangrena na perna causada por um
acidente de trabalho. O samba-enredo da Escola de Samba Paulistano da Glória,
escrito pelo compositor e ativista negro Geraldo Filme, em 1974, é uma
homenagem ao arquiteto. “Tebas, negro escravo. Profissão: Alvenaria.
Construiu a velha Sé em troca pela carta de alforria”, conforme diz a música.
Fonte: Revista Galileu
Nenhum comentário:
Postar um comentário