O professor Samuel Paty, um pai de família de 47 anos,
pagou com a vida a iniciativa de mostrar caricaturas do profeta Maomé em uma
aula sobre a liberdade de expressão. Pouco depois de deixar a escola onde
trabalhava na pequena cidade de Conflans-Saint-Honorine, por volta das 17h da
sexta-feira 16, o educador foi decapitado por um terrorista,
um jovem de 18 anos de origem chechena que ficou indignado com a atitude da
vítima em sala de aula.
Neste sábado 17, alunos, pais, colegas e amigos de
Paty o descrevem como um homem gentil, apaixonado pela profissão. O crime
chocou o país – o Palácio do Eliseu anunciou a realização de uma homenagem
nacional ao professor, nos próximos dias. Centenas de pessoas se dirigiram em
frente à escola e depositaram flores no local.
“Quando li ‘professor, [escola] Bois d’Aulne e
decapitação’, pensei na hora: ‘é o senhor Paty!’”, disse o ex-aluno Martial, 16
anos, à AFP.
A escola fica em um bairro industrial da cidade, de 35
mil habitantes e a cerca de 50 quilômetros de Paris.
“Ele se envolvia nas aulas, queria realmente nos
ensinar as coisas. De tempos em tempos, ele promovia debates, a gente
conversava”, relata o garoto.
“Estou destruído. Samuel Paty foi meu colega de
formatura. Era um estudante brilhante, um superprofessor, um homem de diálogo”,
disse, no Twitter, um ex-colega da vítima. “Citarei o teu nome e o teu exemplo,
camarada, a todos que quererão ainda exercer essa linda profissão”,
complementou.
De porte pequeno, óculos e discreto, o professor era casado e tinha filhos. Na semana passada, como já havia feito em outras ocasiões nos últimos anos, ele levou à sala de aula uma caricatura de Maomé, publicada no jornal Charlie Hebdo, para explicar aos alunos sobre aquela que é um dos pilares da República francesa, a liberdade de expressão. A classe tinha em média 13 anos e cursava o equivalente ao oitavo ano do Ensino Fundamental brasileiro.
Desta vez, porém, a iniciativa não foi bem recebida
por todos. Os alunos relatam que o professor perguntou quem era muçulmano na
sala e ofereceu a eles a possibilidade de se retirar ou não olhar, se
preferissem não visualizar o desenho. Alguns saíram; outros, não.
Nas horas e dias que se seguiram, o que ocorreu
naquela aula foi o assunto na hora do recreio. Alguns pais foram além e levaram
uma reclamação à associação de pais e alunos. Um deles publicou um vídeo
indignado nas redes sociais, no qual chama Paty de “bandido”, incita outros
pais a se mobilizarem contra a atitude do educador e divulga o nome da escola.
Ele chegou a ir à polícia acompanhado da filha para denunciar o que considerou
como um ato de islamofobia por parte do professor – que reagiu prestando queixa
por difamação.
Desde então, Paty “andava desconfortável”, observa
Myriam, aluna de 13 anos da escola. “Tinha alunos dizendo ‘ele é racista’.
Outros qualificativos circularam, como ‘islamofóbico’”.
Paty “não fez isso para criar polêmica ou desrespeitar
os pequenos, nem por discriminação”, alega Nordine Chaouadi, pai de outro
adolescente de 13 anos que descreve professor como “um senhor supergentil”.
A polícia investiga qual o papel do vídeo no crime, já
que o autor do ataque tinha 18 anos e não estudava no local. O autor, nascido
em Moscou e com um visto de refugiado na França, obtido em março deste ano, foi
morto pela polícia instantes depois do assassinato.
Fonte: AFP
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