quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A TECNOLOGIA TEM DIFICULTADO O NOSSO PROCESSO DE MEMORIZAÇÃO?

 Pense na seguinte situação: você está pronto para sair de casa rumo a um compromisso muito importante, pessoal ou profissional, tanto faz. Quando você chega ao seu carro, tem uma perturbadora sensação de que está esquecendo algo ou de que não fez alguma coisa que deveria fazer antes de sair, mas não sabe exatamente o que era. 

Com certeza muitos já viveram essa experiência ao menos uma vez na vida. Mas você já parou para pensar o que motiva esses episódios? É realmente normal esquecermos de algo, ou será que existe alguma coisa que possamos fazer para ter uma memória um pouco melhor? 

Antes de tudo, precisamos entender como nosso cérebro funciona. “Nós, seres humanos, temos um cérebro que age como priori pela sobrevivência e recompensa. Armazenamos memórias com base na emoção para que possamos melhor sobreviver e evoluir. Por essa razão, os traumas jamais são esquecidos, no mínimo, eles ficam em nosso inconsciente na região mais primitiva do cérebro”, explica o neurocientista e psicólogo Fabiano de Abreu em entrevista exclusiva ao site Aventuras.  

Fabiano autor do estudo Técnicas para uma melhor memorização: Levando em consideração as nuances da personalidade, explica que o nosso cérebro usa muita energia e, com isso, é normal que ele “economize” essa energia para usar com memórias mais importantes e coisas essenciais.

“Temos duas questões para o nosso cérebro: uma é a busca da recompensa, o outro é a sobrevivência. Ambos os fatores determinam que a emoção seja crucial para o armazenamento de algo que nosso organismo tem como determinado em nosso DNA, a memória”. 

 “Se não tivéssemos a memória, não saberíamos o que é bom, certo, ruim ou errado, para nossa sobrevivência”, diz o neurocientista. “O processo evolutivo também faz parte de uma melhor sobrevivência. E a ansiedade é a pulsão para suprir essas pendências. Nosso cérebro opta por algo mais útil para poupar energia e a ansiedade é o gatilho de cobrança”. 

Com a tecnologia tornando nosso cotidiano 'mais fácil’, nosso cérebro acaba ficando mais “preguiçoso” — termo esse usado por Abreu para explicar que, de forma instintiva, nosso cérebro acaba criando um descanso para a memorização.  

Para o psicólogo, diversos hábitos — ou melhor, a falta deles —, contribuem com isso. É o caso da leitura, um dos fatores cruciais no processo de evolução da inteligência a partir do Império Romano.  

“O sedentarismo, os alimentos industrializados, as drogas, hábitos alimentares com alimentos que não favorecem a memorização, a televisão, o vício na dopamina que pede conquistas mais imediatas causando além de disfunções, desperdício do tempo que poderia ser utilizado para aprofundarmos mais nos conteúdos”, também são, para o neurocientista, fatores que ajudam nesse esquecimento repentino. 

Porém, apresar de parecer algo que tem se tornando cada vez mais universal, a dificuldade para memorização se dá, muito mais, em países como uma educação de pior qualidade. Uma das explicações para isso não é somente a falta de recursos ou até mesmo a de tempo, mas sim como as pessoas aproveitam determinada tecnologia.  

No caso da internet, por exemplo, Fabiano diz que pessoas que vivem em países com uma qualidade de educação menor, tendem a usar a internet de maneira “vulgar”, ou seja, consumindo conteúdos que não levam ao conhecimento, diferentes daqueles que as usam para aprofundar seu aprendizado.  

“Países com pior nível educacional e cultural para o conhecimento, tendem a usar mais as mídias sociais, sem informações úteis, com mais imagens e menos texto”, explica. “Uma coisa é usar a internet para uma ampla leitura, reforçando as sinapses em algo que traga conhecimento, que traga algo novo e útil. Outra coisa é ficar entrando na rede social para ver nada, ver coisas que não agregam ou se aborrecer com publicações que o afetam e levam ao estresse”.  

“Quantas vezes já pegou no celular hoje para entrar na rede social e não fazer nada?”, questiona. Fabiano explica que muitas pessoas usam celulares ou computadores só pelo fato de terem que entrar nas redes sociais, mesmo que aquilo não contribua em nada para aquele momento.  

Quanto a isso, ele diz que há uma explicação e faz um alerta: “Cada like e follow recebido é compensado pela dopamina que é viciante e estimula a ansiedade para que possa ter mais recompensas, tornando-se um ciclo vicioso. Isso afeta os neurotransmissores que resultam na falta de atenção, na fadiga e na incapacidade do processo linear de memorização”. 

Porém, apesar de todos esses contras, não devemos demonizar a tecnologia e a internet, e sim saber aproveitá-las da melhor maneira possível. Para isso, Abreu dá algumas dicas de como promover e incentivar a cultura do conhecimento e aprendizagem entre os jovens. 

O primeiro passo, explica, é determinar o que os filhos vão ver na internet e o tempo de consumo. “Crianças precisam ter atividades lúdicas que promovam a psicomotricidade para o desenvolvimento cognitivo. Buscar maneiras e ferramentas para o conhecimento com recompensas que incentivem este estilo de educação”.  

Além do mais, também é necessário ser exemplo para eles. “A cultura também se faz na observação e na cópia, se os pais leem, se os pais têm hábitos que sirvam de exemplo, os filhos tendem a copiá-los. Há técnicas para os filhos com déficit de atenção possam praticar para uma melhor memorização. Estes devem utilizá-las e os pais devem dedicar mais tempo aos filhos”, conclui o neurocientista.

Fonte: AH

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

ANÁLISE DE DNA SUGERE QUE PRIMEIROS MORADORES DAS AMÉRICAS FORAM EXTERMINADOS POR COLONOS ANTES DE CRISTÓVÃO COLOMBO

 Um novo estudo sugere que as coisas já estavam complicadas nas Américas antes de Cristóvão Colombo chegar aqui. Uma pesquisa de DNA realizada revelou que, antes do navegador chegar ao continente, os primeiros habitantes da região quase foram exterminados por colonos.

Os pesquisadores acreditam que essas mortes ocorreram principalmente por doenças, que podem ter sido trazidas pelos invasores, mas também por guerras travadas entre os grupos. Isso teria acontecido pelo menos um milênio antes da colonização de fato, há 6 mil e 7 mil anos.

O estudo foi realizado por meio de uma análise de DNA de 174 habitantes antigos do Caribe e Venezuela, que viveram entre 400 e 3.100 anos atrás, além do material genético de mais 89 indivíduos. 

Por meio dessa investigação, também foi possível entender mais sobre as populações nativas da época. O líder da pesquisa, David Reich, da Harvard Medical School, explicou que eles descobriram que o número de pessoas na região provavelmente era menor do que pensávamos.

Acredita-se que havia entre 10 mil e 50 mil nativos antes da chegada de Colombo, contrariando a hipótese do historiador Bartolomé de las Casas, que, no começo de 1500, sugeriu que havia ao menos 3 milhões de pessoas em Porto Rico e Hispaniola. 

Descobertas arqueológicas milenares sempre impressionam, pois, além de revelar objetos inestimáveis, elas também, de certa forma, nos ensinam sobre como tal sociedade estudada se desenvolveu e se consolidou ao longo da história. 

Sem dúvida nenhuma, uma das que mais chamam a atenção ainda hoje é a dos egípcios antigos. Permeados por crendices em supostas maldições e pela completa admiração em grandes figuras como Cleópatra e Tutancâmon, o Egito gera curiosidade por ser berço de uma das civilizações que foram uma das bases da história humana e, principalmente, pelos diversos achados de pesquisadores e arqueólogos nas últimas décadas.  

Fonte: AH


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

CASO DANIELLA PEREZ: BRUTAL CRIME QUE ESCANDALIZOU A TV BRASILEIRA COMPLETA 28 ANOS

Um dos crimes mais brutais conhecidos no Brasil completa 28 anos hoje, 28 de dezembro: o assassinato da atriz e dançarina Daniella Perez, filha da autora de telenovelas Glória Perez. 

Na ocasião, Daniella, que tinha 22 anos, foi morta por seu companheiro de novela, Guilherme de Pádua. O ator contou com a ajuda de sua esposa, Paula Nogueira Thomaz, para pôr fim à vida da parceira de cena, protagonizando um dos crimes que escandalizou o país e abalou a TV brasileira em 1992.

Daniella Ferrante Perez Gazolla, mais conhecida como Daniella Perez, nasceu em 11 de agosto de 1970, no Rio de Janeiro. Filha da renomada autora de telenovelas, Glória Perez e Luiz Carlos Saupiquet Perez, a jovem tinha uma carreira promissora como atriz e dançarina.

Ligada à arte, Daniella chegou a receber um convite para trabalhar na companhia de dança "Vacilou, Dançou" da coreógrafa Carlota Portela. No entanto, foi durante sua primeira aparição na TV que conheceu seu marido, o ator Raul Gazolla. Apaixonados, em 1990, Daniella e Raul se casaram e, naquele mesmo ano, a dançarina foi convidada a participar da novela "Barriga de Aluguel", da Rede Globo, de autoria de sua mãe.

Devido ao seu carisma e bela atuação foi convidada, posteriormente, a participar de mais três novelas, até que o brutal crime interrompeu sua vida. Na época, Daniella estava no auge de sua carreira, interpretando a personagem

Aos 22 anos, a jovem promissora teve sua vida interrompida. Seu colega de trabalho e ex-ator, Guilherme de Pádua e sua esposa, Paula Nogueira Thomaz, armaram uma emboscada — após as gravações da novela —, e a assassinaram com mais de 18 golpes de faca. Segundo a autópsia, a atriz teve o pescoço, o pulmão e o coração perfurados. 

Na semana do crime, o personagem de Guilherme de Pádua teve suas cenas reduzidas, o levando acreditar que estava sendo prejudicado por Daniella e Glória Perez. De acordo com a perícia da época, Guilherme estaria pressionando a atriz para que ela convencesse sua mãe a aumentar sua participação na trama. Insatisfeito, o assassino arquitetou o crime junto de sua esposa, que tinha um ciúmes doentio de Daniella. 

 

Em menos de 24 horas, a notícia de sua morte percorreu o país. Para não levantar suspeitas, Guilherme apareceu em seu velório, demonstrando estar abalado com o ocorrido. No entanto, no mesmo dia, o casal confessou às

Na noite do brutal episódio, uma testemunha avistou uma movimentação estranha e anotou as placas dos carros, ligando imediatamente para a polícia. Ao chegarem no local, não encontraram o segundo veículo, mas ao fazerem uma investigação no Projac viram que o carro de Guilherme se encaixava com a descrição da testemunha. Posteriormente, descobriram que o assassino alterou a placa, o que mostra a premeditação do crime.  

Guilherme e Paula foram detidos imediatamente e condenados por homicídio duplamente qualificado: por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima. No entanto, ambos cumpriram somente seis anos dos 19 anos de regime fechado — ao qual foram sentenciados. 

Por meio da insatisfação popular e de manifestações engajadas por Glória Perez, houve uma alteração da legislação penal, um episódio inédito na história do Brasil. O sumiço da personagem Yasmin, da novela, foi explicado com uma viagem de estudos para o exterior, já o personagem interpretado por Guilherme de Pádua, simplesmente deixou de existir. 

Fonte: AH 

sábado, 26 de dezembro de 2020

CASO SANTIAGO ANDRADE: A TRÁGICA MORTE AO VIVO DO CINEGRAFISTA BRASILEIRO

 Santiago Andrade foi jornalista por duas décadas de sua vida, a última delas trabalhando na TV Bandeirantes — e de certa forma acabou morrendo em decorrência da profissão. O cinegrafista tinha 50 anos de idade quando estava cobrindo um protesto nas Ruas do Rio de Janeiro, onde aconteceu o evento que levaria ao seu fim. 

Era fevereiro de 2014, época das manifestações dos 20 centavos, que depois ganharam outras proporções, tomando o país. O jornalista carioca não viveria para ver esse depois, todavia. Isso porque um rojão jogado por um dos manifestantes acabou atingindo sua cabeça, colocando-o imediatamente em estado grave. 

Ele foi socorrido por colegas de profissão e um membro da Cruz Vermelha que estava próximo do local, sendo levado para o hospital às pressas. Apesar dos esforços dos médicos, infelizmente, não havia muito que desse para fazer por ele. 

Santiago sofreu afundamento do crânio e perdeu parte da orelha esquerda. Quatro dias após o protesto em que foi atingido, morreu no hospital, cercado por sua família. 

O jornalista fez trabalhos de grande relevância ao longo de sua carreira. Alguns exemplos são sua cobertura dos Jogos Pan-americanos de 2007, o massacre de Realengo em 2011 e o Rio+20 (uma conferência da ONU que discutiu sustentabilidade) em 2013. 

Também ganhou dois prêmios jornalísticos por uma reportagem tratando dos problemas de mobilidade urbana enfrentados pelos usuários de transporte público do Rio de Janeiro. 

A mídia de todo o país reagiu em solidariedade à morte do carioca, dessa forma fazendo com que o caso ganhasse grande cobertura.  O Jornal Nacional, por exemplo, da emissora Globo, homenageou o cinegrafista no fim de uma de suas edições.  

“Não é só a imprensa que está de luto com a morte do nosso colega da TV Bandeirantes Santiago Andrade. É a sociedade. A Rede Globo se solidariza com a família de Santiago, lamenta a sua morte, e se junta a todos que exigem que os culpados sejam identificados, exemplarmente punidos. E que a polícia investigue se, por trás da violência, existe algo mais do que a pura irracionalidade", leu William Bonner. 

Em seguida, o telão do jornal mostrou a foto de Santiago, sob o som dos aplausos da redação.  

Na época, também ocorreram protestos de jornalistas, exigindo, por exemplo, mais segurança para cinegrafistas que precisassem sair às ruas durante manifestações. Isso porque se o carioca contasse com equipamentos de proteção adequados, como por exemplo um capacete, o rojão provavelmente não seria fatal. 

A própria Dilma Roussef, na época presidente do Brasil, manifestou-se a respeito da trágica morte, dizendo que: “Não é admissível que os protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem respeito por vidas humanas. A liberdade de manifestação é um princípio fundamental da democracia e jamais pode ser usada para matar, ferir, agredir e ameaçar vidas humanas, nem depredar patrimônio público ou privado". 

As imagens da manifestação gravadas pelo próprio jornalista e outros colegas ajudaram a encontrar os possíveis culpados pelo lançamento do rojão. Fabio Raposo e Caio Silva de Souza foram acusados por homicídio doloso (em que não há intenção de matar), sendo que o primeiro foi responsável por levar o rojão, e o segundo por acendê-lo.

Até a primeira metade de 2020, embora já fizessem seis anos do crime, o julgamento dos dois ainda não havia ocorrido.

A filha de Santiago, também jornalista, publicou um emocionante relato em seu Facebook em homenagem ao pai: “Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai. Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode!”

“Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e dos meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu.”, contou ela.

Fonte: AH

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

A PREMIADA FOTO DE PINGUINS VIÚVOS QUE PARECEM SE CONFORTAR SOB AS LUZES DA CIDADE

 O ano de 2020 gerou muitas imagens pungentes e poderosas. Mas em um concurso de fotografias marinhas na Austrália, o público decidiu premiar um retrato íntimo e singelo de dois pinguins viúvos que parecem se reconfortar num abraço enquanto observam a paisagem urbana no horizonte.

O registro premiado no Ocean Photography Awards, organizado pela revista Oceanographic, foi feito pelo fotógrafo alemão Tobias Baumgaertner, em Melbourne.

Segundo ele, os dois pinguins tinham perdido seus companheiros recentemente e aparentemente abraçados perto de uma colônia de quase 1.400 pinguins-fadas, a menor espécie de pinguins com uma altura média de apenas 33 cm. A população é monitorada por voluntários.

"Um voluntário se aproximou de mim e me disse que a branca era uma senhora idosa que havia perdido seu parceiro e, aparentemente, o mesmo aconteceu com o pinguim macho mais jovem à esquerda", escreveu Baumgaertner no Instagram.

"Desde então, eles se encontram regularmente, confortando um ao outro e ficando juntos por horas observando as luzes dançantes da cidade."

O fotógrafo passou três noites com a colônia de pinguins antes de conseguir tirar esta foto.

Inicialmente ele pretendia capturar uma imagem que "mostrasse a pressão que o desenvolvimento humano exerce sobre populações de animais selvagens", mas percebeu que conseguiu ir bem além disso.

"Entre não poder ou ter permissão para usar qualquer luz e os pequenos pinguins se movendo continuamente, esfregando suas nadadeiras nas costas uns dos outros e limpando uns aos outros, era realmente difícil conseguir uma oportunidade ", disse ele. "Mas eu tive sorte durante um momento lindo."

 

Fonte: BBC NEWS- BRASIL

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

HÁ 37 ANOS, A TAÇA JULES RIMET ERA ROUBADA DA SEDE DA CBF

 Em 1928, dois anos antes da primeira Copa do Mundo de futebol, que foi vencida pelo Uruguai, o Congresso da Fifa decidiu que a equipe campeão ganharia uma taça que representaria o título.

Na época, Jules Rimet, então presidente da entidade máxima do futebol, decidiu que o troféu seria feito em ouro e que sua posse definitiva ficaria com a equipe que conquistasse primeiro três edições do torneio — algo que, até então, parecia surreal demais para acontecer.  

No entanto, esse feito considerado, praticamente, impossível pelo dirigente, foi realizado pelo Brasil em apenas 40 anos. Após os títulos seguidos de 1958 e 1962, a seleção canarinha superou a derrota em 66 e se tornou tri mundial com um show de Pelé e companhia no México, em 1970.  

Sendo assim, a Jules Rimet, como a taça ficou conhecida, passara a ser exposta na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na Rua Alfândega, 70, no centro do Rio de Janeiro. Por lá, o troféu ficou até a noite de 19 de dezembro de 1983, quando foi roubada.  

A Jules Rimet, com uma base de pedras semipreciosas, pesava cerca de 3,8 quilos e media 35 centímetros de altura. Além de seu valor simbólico, não só futebolisticamente falando, ela representava uma grande honra e era motivo de orgulho para nação, além de ser avaliada em 18 milhões de cruzeiros.

Primeiro roubo

Apesar do roubo de 1983 ser o seu último e definitivo, afinal, a taça jamais foi recuperada, a Jules Rimet já havia passado por um episódio semelhante anos antes, em 1966, quando estava em exposição em Londres, quatro meses antes do mundial que seria realizado na própria Inglaterra.  

Sob a tutela do Brasil, a CBF concordou em exibir o troféu em uma exposição de selos. Apesar do grande esquema de segurança, o troféu foi furtado. No momento do episódio, ao menos dois vigilantes faziam ronda na área da exposição, mesmo assim, pela manhã, eles não se depararam com nada suspeito e acabaram sendo rendidos pelos bandidos.  

O desaparecimento levou investigadores da Scotland Yard a uma incessante caçada. Na época, um homem, identificado apenas como Jackson, chegou a fazer um pedido de resgate pela taça: ele queria 15 mil euros em notas de 1 e 5, ameaçando derreter o troféu caso o dinheiro não lhe fosse pago. 

Concordando em recompensá-lo, a polícia encheu uma mala com jornais, que foram cobertos com uma camada de notas de 5 euros. Tudo não passava de uma isca para prendê-lo, o que funcionou.

Jackson, que era, na verdade, Edwar Betchley, ex-soldado de 46 anos, ainda estava sendo interrogado pela polícia quando a Jules Rimet foi encontrada — sete dias após o roubo —, por um cachorro mestiço chamado Pickles, que a encontrou embrulhada num jornal em um jardim de um bairro no subúrbio de Londres.  

O cão virou estrela mundial, participando de programas de televisão e filmes, chegando a ter seu próprio agente. Já Edwar disse que era apenas um intermediário de um ladrão chamado “The Pole”. Porém, o suposto criminoso jamais foi encontrado. Betchley morreu em 1969, dois anos depois de ser preso por extorsão.  

Um fato curioso do primeiro roubo é que, segundo o livro Day of the Match, um assessor da CBF disse que este era um sacrilégio que jamais seria cometido no Brasil, onde até mesmo os ladrões eram apaixonados por futebol. Ele não poderia ter se equivocado mais.  

O roubo

Com o tri de 70, o Brasil passou a ter direito em ficar em definitivo com a Jules Rimet. Porém, em 1983, ela desapareceria novamente, desta vez, para sempre. Na sede da CBF, o troféu ficava exposto em um caixa de vidro à prova de bala, que era pendurada na parede por uma moldura de madeira.  

Mas isso não foi o suficiente, já que a caixa foi arrombada pelos ladrões. Ironicamente, enquanto a taça original estava em exposição, uma réplica sua era mantida protegida dentro de um cofre. Quem a roubou, tinha conhecimento não só disso, como de todo o funcionamento do prédio.  

O mandante do crime fora Sérgio Peralta, representante do Atlético Mineiro na CBF. Para o grande roubo, ele teve ajuda de dois comparsas: Chico Barbudo, experiente na compra e venda de ouro; e Luiz Bigode, amigo de Chico. Além deles, o ourives Juan Carlos Hernandez foi apontado como o responsável por derreter os troféus — além da Jules, outras três taças foram levadas.  

No dia seguinte ao roubo, em 20 de dezembro, começaram às investigações para recuperar um dos maiores símbolos do “orgulho nacional”. Porém, apesar da força-tarefa, encontrar os responsáveis pelo crime parecia uma missão impossível, afinal, nenhuma das suspeitas se concretizava.  

Porém tudo mudou quando Antônio Setta, conhecido como Broa, delatou Sérgio Peralta, que o havia convidado para o roubo — oferta essa que foi recusada por Setta. Apesar de, em um primeiro momento, a polícia não levar a sério a acusação, os agentes passaram a investigar Peralta depois de mais uma busca frustrada.  

Com isso, em 25 de janeiro de 1984, Sérgio acabou sendo preso. Porém, ele afirma que só confessou o crime por ter sido torturado pelos polícias, que também teriam agredido Luiz Bigode. Chico Barbudo não apanhou, mas disse que os investigadores levaram cerca de 2,5 quilos de joias de ouro de sua casa.  

Em março de 1988, o trio foi julgado e condenado a 9 anos de prisão cada. Já Carlos Hernandez, pegou uma pena de três anos. No entanto, acabou fugindo para a França, em 1988, onde cumpriu sete anos de prisão por tráfico de drogas. Desde então, jamais foi visto novamente. 

Chico Barbudo, por sua vez, ganhou apelação de pena e estava em liberdade quando foi assassinado por cinco homens em 28 de setembro de 1989. Já Sérgio Peralta foi preso em 13 de julho de 1994, ganhando liberdade condicional em setembro de 1998.

Ele morreu, de infarto, em agosto de 2003. Luiz Bigode também foi encarcerado, ficando detido em Bangu até 1998. Atualmente ele reside no Rio de Janeiro.  

Já Antônio ‘Broa’ Setta morreu no dia 3 de dezembro de 1985, em um acidente de carro perto da Lagoa Rodrigo de Freitas. Fato curioso é que o acidente ocorreu justo no dia que ele iria depor em uma audiência, o que fez com que muitos suspeitem que sua morte foi queima de arquivo. 

Fonte: AH

sábado, 19 de dezembro de 2020

RATOS, MORTES E CAOS: REVOLTA DA VACINA, A REBELIÃO QUE MUDOU A SAÚDE DO BRASIL

 

Em tempos de pandemia e com a possibilidade do acesso a vacinas, a discussão sobre a aplicação, eficácia e, até mesmo, questões que saem do âmbito sanitário, se tornaram pautas de debates sociopolíticos acalorados no auge da disseminação do novo Coronavírus. Porém, se engana quem acredita que tal discussão é inédita.

No início do século 20, três graves doenças foram capazes de acarretar epidemias que chegavam a espalhar corpos pelas ruas das principais capitais do país.

Além de ser terrível na infecção humana, eram proliferadas com ainda mais força graças a grande quantidade de lixo acumulando nas ruas.

No Rio de Janeiro, especificamente, a presença de ratos e mosquitos como transmissores acarretavam em milhares de mortes. Sem a possibilidade de realizar uma limpeza total nas ruas, a iniciativa governamental e mais rápida para frear o aumento de casos seria a implementação forçada da Lei de Vacinação Obrigatória — suficiente para causar um dos maiores distúrbios na história do país.

Estoura a Revolta

Havia alguma coisa diferente no ar naquela manhã abafada e úmida de 13 de novembro. Nos últimos dias, boatos haviam tomado os bares, as conversas em família depois que estudantes e operários saíram em passeata pelo centro do Rio de Janeiro, gritando palavras de ordem e protestando contra o governo do presidente Rodrigues Alves.

Mas nem quem acompanhava de perto as notícias podia prever os acontecimentos que se seguiriam. De repente, sem que parecesse haver qualquer organização, grupos de pessoas começaram a chegar ao centro.

Tomaram as ruas do Ouvidor, da Quitanda, da Assembleia e, quando chegaram à praça Tiradentes, já eram milhares. "Abaixo a vacina", gritavam. O comércio baixou as portas e a polícia chegou. A multidão respondeu em coro: "Morra a polícia", sendo correspondida com tiros e cacetadas.

A cidade do Rio não tinha nada de maravilhosa. Entre 1872 e 1890, a população passou de 266 mil para 522 mil pessoas. Não havia emprego para todos e a maioria se virava como podia: carregava e descarregava navios, vendia tranqueiras, fazia pequenos serviços. É claro que ainda havia entre eles ladrões, prostitutas e trambiqueiros.

Os pobres moravam em cortiços. O mais famoso deles, o Cabeça de Porco, no número 154 da rua Barão de São Félix, chegou a ter 4 mil moradores. "As autoridades consideravam os cortiços antros de doenças e de pouca-vergonha.

Para a mentalidade da época, que aliás não mudou muito, as moradias pobres abrigavam as classes perigosas, sujas, de onde saíam as epidemias e toda sorte de ruindade", diz o historiador Sidney Chalhoub, da Unicamp, autor de Cidade Febril: Cortiços e Epidemias na Corte Imperial.

Tanta gente concentrada em condições miseráveis era um berçário de doenças. E a situação tinha consequências drásticas que iam além da saúde pública. Por causa da imagem de ser reduto de doenças, navios estrangeiros se recusavam a aportar no Brasil.

E a fama não era injustificada: em 1895, o navio italiano Lombardia, atracado no Rio, perdeu 234 de seus 340 tripulantes, vítimas de febre amarela. Companhias europeias faziam questão de anunciar viagens diretas à Argentina, garantindo aos interessados que seus navios passariam ao largo da costa brasileira. Uma tragédia para um país que vivia da exportação.

Quando Rodrigues Alves assumiu a presidência em 1902, prometendo trazer o país para o novo século, viu naqueles cortiços um obstáculo a ser removido. Inspirados nas recentes reformas de Paris, sob a tutela do Barão Hausmann, os cortiços teriam que sair, as avenidas, entrar.  

Medo de injeção

Mas, para combater as doenças que abatiam os cariocas, não bastariam as reformas urbanas no centro da cidade. Mais uma vez apoiando-se no exemplo francês, o governo brasileiro apostou nas técnicas de saúde pública que estavam sendo colocadas em prática por médicos como Louis Pasteur.

Para apoia-lo nessa área, Rodrigues Alves convocou um jovem médico do interior de São Paulo que acabara de estagiar em Paris, Oswaldo Cruz

Assim que assumiu a diretoria de Saúde Pública, em 1903, Oswaldo encarou batalhas contra a peste bubônica e formou brigadas sanitárias que saíram pelo centro da cidade caçando ratos pelas casas e ruas.

Chegou a adotar o método pouco ortodoxo de comprar ratos, para estimular a população a caçar o roedor. Apesar das inevitáveis fraudes, houve gente que foi presa por criar ratos para vender às autoridades, a campanha contra a peste foi um sucesso.

Para enfrentar a febre amarela, no entanto, Oswaldo encontrou oposição. Nem o combate aos mosquitos era consenso. Na época, não se sabia que a doença era causada por um vírus nem se conhecia seu mecanismo de transmissão, e, embora o cubano Carlos Finley já houvesse publicado sua tese de que a doença era transmitida por um mosquito, um grande número de médicos brasileiros acreditava que a febre amarela era causada por alimentos contaminados.

Em 1904, seria a vez de combater a varíola. "Já havia leis que tornavam obrigatória a vacinação desde 1884, mas essas leis não pegaram", diz José Murilo. O governo resolveu, então, fazer uma nova lei obrigando toda a população a se vacinar, em novembro de 1904.

O projeto, que permitia que os agentes sanitários entrassem na casa das pessoas para vaciná-las, foi aprovado na Câmara e no Senado, mas não sem antes quase levar aos sopapos os partidários de Rodrigues Alves e seus opositores, que não eram poucos.

Entre eles havia os partidários do ex-presidente Floriano Peixoto, que não se conformavam com um governo civil, como o senador (e tenente-coronel) Lauro Sodré e, na Câmara, o major Barbosa Lima. O senador Ruy Barbosa se manifestou, em plenário, dizendo: "Assim como o direito veda ao poder humano invadir a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme".

Com a querela política, o assunto chegou à imprensa. Os jornais se dividiram: o Commercio do Brazil, do deputado florianista Alfredo Varela, e O Correio da Manhã, de Barbosa Lima, atacavam a vacinação, enquanto o diário governista O Paiz defendia a ideia com unhas e dentes.

Logo, não se falava em outra coisa no Rio. Os representantes dos trabalhadores não concordavam com a nova lei, que, entre outras coisas, exigia o atestado de vacina para conseguir emprego, e criaram a Liga Contra a Vacina Obrigatória, que em poucos dias arregimentou mais de 2 mil pessoas.

Pudores e violência

Pela lei, os agentes de saúde tinham o direito de invadir as casas, levantar os braços ou pernas das pessoas, fosse homem ou mulher, e, com uma espécie de estilete (não era uma seringa como as de hoje), aplicar a substância. Para alguns, isso era uma invasão de privacidade e, na sociedade de anos atrás, um atentado ao pudor.

Os homens não queriam sair de casa para trabalhar, sabendo que suas esposas e filhas seriam visitadas por desconhecidos. E tem mais: pouca gente acreditava que a vacina funcionava. A maioria achava, ao contrário, que ela podia infectar quem a tomasse. 

Uma população pobre, ignorante e sob o risco de perder as casas, ofendida agora em seus mais íntimos pudores; uma imprensa ateando fogo; políticos apoiando. Estava dada a receita e a panela de pressão já apitava. Voltemos àquela manhã de novembro.

Quando deixamos 1904, policiais e a população trocavam tiros e pauladas pelas ruas do centro da cidade. O corre-corre foi grande a multidão se dispersou, deixando o centro para se reunir mais além, nos bairros populares. Naquele 13 de novembro, houve confusão no Méier, Engenho de Dentro e Andaraí. Vinte e duas pessoas foram presas.

Mas o pior estava por vir. No dia seguinte, logo cedo, grupos aparentemente desarticulados vindos dos bairros rumaram para o Centro. No caminho viraram bondes, derrubaram postes de iluminação, reuniram entulho no meio das ruas e se prepararam para enfrentar a polícia.

No bairro da Saúde, próximo ao porto, a barricada reuniu 2 mil pessoas, segundo relato do Jornal do Commercio, que chamou o lugar de Porto Arthur, em alusão a um forte na Manchúria, onde japoneses e russos travavam uma sangrenta batalha.

Liderados entre outros por Horácio José da Silva, o Prata Preta, os defensores de Porto Arthur estavam armados com revólveres e navalhas. Alguns marcharam com armas nos ombros e se espalhou que tinham até um canhão.

Por três dias conseguiram repelir a polícia, mas no dia 16 o Exército, apoiado por tropas de São Paulo e Minas Gerais, invadiu o local, numa ação que contou ainda com bombardeios da Marinha. O suposto canhão era um poste deitado sobre uma carroça.

No dia 14, enquanto o pau ainda comia nas ruas, a confusão chegou aos quartéis. O esforço conspiratório que duraria o dia todo começou logo cedo. O senador Lauro Sodré e o deputado Alfredo Varela reuniram-se no Clube Militar com a cúpula dos militares. No entanto, o ministro da Guerra, marechal Argollo, conseguiu melar o encontro e mandou todo mundo para casa.

À noite, uma parte dos conspiradores tentou tomar a Escola Preparatória do Realengo, mas não conseguiu. Outro grupo, liderado pelo próprio Sodré, invadiu a Escola Militar da Praia Vermelha e convenceu cerca de 300 cadetes comandados pelos generais Silva Travassos e Olímpio Silveira a marcharem rumo ao Palácio do Catete.

Lá, deram de cara com cerca de 2 mil homens leais ao governo. Houve tiroteio, Lauro Sodré desapareceu, mas o general Travassos foi ferido e preso. Saldo da quartelada: três golpistas mortos e 32 soldados feridos.

Nas ruas, a batalha só terminou no dia 23, quando o Exército tomou um dos últimos núcleos da revolta, o morro da Favela. Pelos cálculos do historiador José Murilo de Carvalho, durante toda a revolta foram detidas 945 pessoas, sendo que 461, todas com antecedentes criminais, foram deportadas para locais distantes como o Acre e Fernando de Noronha. Não há estatísticas oficiais, mas acredita-se que 23 pessoas tenham morrido, segundo as estimativas dos jornais da época, e pelo menos 67 ficaram feridas.

A vacinação obrigatória foi suspensa. Mas o governo manteve a exigência de atestado para casamentos, certidões, contratos de trabalho, matrículas em escolas públicas, viagens interestaduais e hospedagem em hotéis. Nem todos esses cuidados, no entanto, impediram um novo surto de varíola. Em 1908, quando a cidade do Rio de Janeiro registrou quase 10 mil casos, o povo fez fila, voluntariamente, para se vacinar.

Fonte: AH


sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

QUASE 70% DAS VÍTIMAS DE TRABALHO INFANTIL SÃO PRETAS OU PARDAS, DIZ IBGE

 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quinta-feira (17) dados que mostram que quase 7 em casa 10 vítimas de trabalho infantil no Brasil são pretas ou pardas. As informações são da Folha.

De acordo com a pesquisa, em 2019, elas eram 66,1% entre os que trabalhavam até os 17 anos, uma alta em relação aos 64,8% de 2018. Houve uma redução de 16,8% do trabalho infantil entre 2017 e 2019, mas, apesar da melhora, 1,8 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos ainda trabalhavam no ano passado. Esse número corresponde a 4,6% da população nessa faixa etária, contra 5% de 2018.

É considerado trabalho infantil toda atividade econômica ou de autoconsumo perigosa ou prejudicial à saúde e desenvolvimento mental, físico, social ou moral das crianças, e que interfira na sua escolarização.

Quanto às atividades de autoconsumo, elas envolvem quatro conjuntos de trabalho: cultivo, pesca, caça e criação de animais; produção de carvão, corte ou coleta de lenha, palha ou outro material; fabricação de calçados, roupas, móveis, cerâmicas, alimentos ou outros produtos; e construção de prédio, cômodo, poço ou outras obras de construção.

O trabalho infantil afeta as taxas de frequência escolar de crianças e adolescentes, segundo o IBGE. Enquanto 96,6% dos jovens entre 5 e 17 anos declaram frequentar a escola, os que trabalham somam 86,1%.

Segundo a legislação brasileira, até os 13 anos é proibida qualquer forma de trabalho. Entre 14 e 15 anos, é permitida apenas a forma de aprendiz. Entre os 16 e 17 anos, o trabalho é permitido, desde que com carteira assinada e vedados o trabalho noturno, insalubre e perigoso.

Fonte: Isto É

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

DE 'MARIA VAI COM AS OUTRAS' A 'DOR DE COTOVELO': A ORIGEM DE 10 EXPRESSÕES FAMOSAS

 1. Maria vai com as outras

De acordo com o pesquisador Brasil Gerson, autor de História das Ruas do Rio, a expressão tem origem no início do século 19, com a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro. A mãe do rei João VI, a rainha Maria I, costumava passear às margens do rio Carioca, no antigo bairro de Águas Férreas.

Acontece que Maria I era conhecida por sua insanidade mental (manifestada após a morte do filho e da Revolução Francesa), tanto que era tratada como “A Louca”. Como ela ia passear levada pelas mãos de suas damas de companhia, o povo dizia: “Maria vai com as outras”.

2. A cobra vai fumar

Surgiu como slogan da Força Expedicionária Brasileira, constituída em 1943 para lutar na Europa, durante a Segunda Guerra. Era uma resposta à descrente opinião pública da época, que dizia que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra.

A partida para a Itália só ocorreu em junho de 1944. Mas o ceticismo pairava no ar desde 1942, quando o presidente Getúlio Vargas anunciou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais nem à expedição de contingentes simbólicos. Além de adotar o irônico slogan, a FEB editou um periódico que se chamava ...E a Cobra Fumou!

3. Quebrar o galho

Quando alguém nos ajuda a resolver um problema, dizemos que essa pessoa nos "quebrou um galho". Existem duas versões diferentes para explicar a origem desse regionalismo tão usado no Brasil.

Um dos significados da palavra galho é “conjunto de riachos que se reúnem para formar um rio”. Assim, para os viajantes, “quebrar um galho” significa abrir um caminho em um afluente de rio para desembocar de forma mais rápida no rio principal.

4. Dor de cotovelo

expressão, incorporada pelos dicionários de língua portuguesa, se difundiu graças ao sambista Lupicínio Rodrigues. Lupe, como era conhecido, foi um mulherengo incorrigível. Usou suas diversas desilusões amorosas como inspiração para compor.

Ele costumava classificar sua dor de cotovelo em três categorias, conforme a intensidade: a federal, que sempre acabava em um porre; a estadual, suportável; e a municipal, que não rendia sequer um samba. Praticamente todos os sambas de Lupe mencionavam a 'dor'.

5. Enfiar o pé na jaca

Não é nenhum segredo, enfiar o pé na jaca quer dizer tomar uma carraspana, ficar de pileque, ser um borrachão. Ainda que em algum lugar alguém deva ter enfiado o pé na grudenta e descomunal fruta, a origem da expressão não tem nada a ver com algo que você possa comprar na feira livre.

Originalmente era ‘‘enfiar o pé no jacá”, com acento. Jacá vem tupi aya’ka e era um cesto feito de bambu ou cipó. Ele era usado preso no lombo de animais de transporte de carga no Brasil colonial, entre os séculos 17 e 18.

Em suas viagens, quando os tropeiros paravam em bodegas de beira de estrada e exageravam na bebida. Na hora de subir de volta no burrico, quem saía trançando as pernas podia enfiar o pé no jacá, passando o maior vejame, ultraje, opróbrio, carão. 

6. Com os burros n’água

Designada quando alguém faz esforço para conseguir algo e se dá mal, a frase vem dos tempos do Brasil colonial, que, entre os séculos 17 e 18, viu a necessidade de escoar ouro, cacau e café entre o Sul e o Sudeste e adotou a ideia dos colonizadores espanhóis, que transportavam entre Potosí (Bolívia) e Porto Belo (Panamá) cargas sobre burros ou mulas.

Era comum os condutores das tropas enfrentarem caminhos torturantes. Muitas vezes davam, literalmente, com os burros n’água — em travessias alagadas onde os animais morriam afogados. Como o dono da mercadoria arcava com o dano, a locução passou a ser empregada sempre que alguém leva a pior.

7. As paredes tem ouvido

Tanto ocidentais quanto orientais concordam com a expressão que alerta para os perigos de sermos escutados sem saber. O dito existe, nessa mesma forma, em línguas como alemão, francês e chinês. Sua origem remonta a um antigo provérbio persa que dizia: “As paredes têm ratos, e ratos têm ouvidos”.

Um dos primeiros registros de provérbio semelhante em inglês aparece no clássico medieval The Canterbury Tales, escrito por Geoffrey Saucer entre 1387 e 1400. Saucer descreve algo como “aquele campo tinha olhos, e a madeira tinha ouvidos” em um dos contos.

A expressão ganhou um sentido quase literal, que pode ser testemunhado até hoje em castelos medievais e, principalmente, palácios renascentistas. Muitos deles – como o Palácio dos Doges, em Veneza, Itália – escondem dutos e aberturas pelas paredes, construídas na época para possibilitar a audição, em outras salas, de encontros políticos a portas fechadas.

8. Fazer uma vaquinha

O ato de juntar algumas pessoas para coletar um dinheirinho passou a ser conhecido como “fazer uma vaquinha” no século 20 por causa do futebol. Nas décadas de 20 e 30, quase nenhum jogador de futebol ganhava salário – luxo só garantido aos atletas do Vasco da Gama.

Nesses tempos bicudos, muitas vezes a própria torcida reunia-se a fim de arrecadar, entre si, um “prêmio” para agraciar os craques. A grana era paga de acordo com o resultado obtido em campo. Os valores dessas “bolsas” associavam-se aos números do jogo do bicho, loteria criada nos fins do Império.

Se arrecadassem 5 mil réis, por exemplo, chamavam o prêmio de “um cachorro”, já que 5 é o número do cachorro no jogo. Dez-mil réis eram “um coelho”. Quinze mil réis, “um jacaré”. Vinte mil, “um peru”. Vinte e cinco mil, o prêmio máximo, era chamado de “uma vaca”. Nascia a expressão “fazer uma vaquinha”.

9. Arranca-rabo

Sinônimo de briga, confusão, escândalo, a expressão tem origem em Portugal. Mas os fatos que a inspiraram remontam às guerras da Antiguidade. Segundo Deonísio da Silva, professor de Letras da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, os guerreiros egípcios adotaram a prática de decepar a cauda dos cavalos das montarias inimigas para provar aos súditos a vitória em uma batalha.

“Um oficial do faraó Tutmés III (1504-1450 a.C.) chegou a registrar em suas escrituras a glória de ter arrancado o rabo do cavalo do rei adversário”, escreve ele no livro De Onde Vêm as Palavras.

O apreço pelo troféu inusitado durou milênios, chegando às terras lusitanas e, depois, ao Brasil. Aqui, os cangaceiros cortavam o rabo do gado de fazendas, para humilhar seus proprietários durante as invasões.

10. Segurar vela

Quando não existiam as lâmpadas – que podiam ser alimentadas por óleo de baleia ou gás –, as velas eram a principal fonte de luz. Por isso, na Idade Média, os iniciantes em todo tipo de trabalho braçal seguravam velas para que os mais experientes enxergassem o que faziam. Em teatros e outros lugares que funcionavam à noite, por exemplo, havia garotos acendedores de vela.

Em francês, uma das explicações da expressão (“tenir la chandelle”) se refere a criados que eram obrigados a segurar os candeeiros durante as relações sexuais de seus patrões e se manter virados de costas para não ver o que acontecia.

Entre 1500 e 1600, “segurar vela” passou a significar “ajudar em uma posição subordinada, desconfortável”. Com o tempo, serviu para designar a amante de um triângulo amoroso, e, mais recentemente, o amigo solteiro que acompanha um casal.

Fonte: AH

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

MACHU PICCHU FECHA ATÉ FIM DE PROTESTOS QUE AFETAM SERVIÇO DE TRENS

A cidadela inca de Machu Picchu, joia do turismo peruano, permanecerá fechada até que terminem os protestos de moradores que bloquearam a linha férrea, afirmou nesta terça-feira (15) o diretor do parque arqueológico, José Bastante.

"A reabertura acontecerá quando for resolvida a situação" dos protestos dos locais, disse Bastante por telefone à AFP da cidadela vazia, onde está com uma equipe reduzida de vigilância.

"Não podemos expor os visitantes, não podemos expor nosso pessoal", acrescentou o responsável ao justificar a decisão das autoridades de fechar a cidadela de pedra.

Machu Picchu fechou as portas na segunda-feira por motivos de segurança devido a manifestações de moradores locais que afetam o serviço de trem que transporta os visitantes até a cidadela, localizada em uma área montanhosa da região de Cusco, no sudeste do Peru.

A Diretoria de Cultura de Cusco informou em um comunicado que o fechamento foi decidido "a fim de proteger a integridade de seus visitantes".

A medida foi adotada seis semanas após a reabertura da atração turística, que havia ficado fechada por quase oito meses devido à pandemia do novo coronavírus.

Os protestos dos habitantes de Machu Picchu e Ollantaytambo contra as empresas ferroviárias que prestam serviço na região começaram na última semana. Eles exigem tarifas mais baratas e maior frequência de trens na rota entre Cusco e Machu Picchu.

O trem é o único meio de transporte dos turistas que visitam a cidadela, mas também é muito utilizado por quem mora na região, onde operam apenas duas empresas: a Inca Rail e a Perú Rail.

As manifestações começaram pacificamente na última quarta, mas se intensificaram no final de semana com a ocupação da estrada, confrontos com a polícia e ameaças de ocupação da cidadela.

Machu Picchu havia aumentado sua capacidade em 40% em 1º de dezembro, indo para 1.116 visitantes diários, um mês após sua reabertura, em meio a uma gradual redução das infecções por covid-19 no Peru.

Antes da pandemia, entre 2 mil e 3 mil pessoas entravam por dia no parque. Desde o retorno até 31 de dezembro, a entrada é gratuita. Durante a visita, todos devem usar máscaras.

Machu Picchu ('Velha Montanha' em quéchua) foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1983 e, em 2007, foi escolhida como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno em uma pesquisa online internacional.

A mítica cidadela, construída no século XV, colocou o Peru no mapa do turismo mundial em meados do século passado. O local foi "descoberto" pelo explorador americano Hiram Bingham em julho de 1911, embora alguns locais soubessem de sua existência.

Fonte: UOL 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

DEBATE ETERNO: AFINAL, QUEM INVENTOU O AVIÃO?

 

As invenções que mudam o curso da história não costumam surgir da noite para o dia. São resultado do trabalho árduo de diversos inventores e cientistas, que preparam o terreno para uma descoberta revolucionária. Entretanto, o crédito costuma ir para apenas uma pessoa, que, por inventividade, gênio ou até por sorte, acaba dando o passo decisivo.

A ele ou ela está garantida todas as glórias. Às vezes, porém, é difícil determinar quem merece ter seu nome imortalizado. É o caso da disputa entre Alberto Santos Dumont e os irmãos Wilbur e Orville Wright. Santos Dumont é louvado como Pai da Aviação no Brasil.

No resto do planeta, ele é um ilustre desconhecido: o título de desbravadores dos céus cabe aos Wright. Nos Estados Unidos, terra natal dos dois irmãos, houve a maior festança no centenário do primeiro voo da dupla, ocorrido em 1903 – três anos antes de Santos Dumont voar com seu 14 Bis.

Mas, afinal, qual das datas está correta? Quem foi o inventor do avião?

Para tentar responder a essas perguntas, é preciso voltar à virada do século 19 para o 20. “Dois grandes desafios se apresentavam com relação à conquista do ar: a dirigibilidade dos balões (ou seja, a capacidade de controlá-los) e o voo com aparelhos mais pesados do que o ar”, descreveu o físico Henrique Lins de Barros, autor do livro Santos Dumont e a Invenção do Voo.

A partir de 1890, as experiências se multiplicaram em ambas as frentes. Havia muita expectativa, o problema é que não existia uma definição para o voo controlado, nem do balão nem do “aparelho mais pesado do que o ar”.

Em 1898, foi criado o Aeroclube da França. Com o intuito de estimular a competição e ao mesmo tempo estabelecer marcos históricos definitivos, o Aeroclube criou prêmios que seguiam critérios básicos.

Para a dirigibilidade dos balões, foi definido que a experiência seria pública, realizada diante de uma comissão oficial e com data marcada, para evitar que fatores como condições climáticas favorecessem algum concorrente.

Até então, a prática comum era levar um cientista de renome para observar a demonstração e escrever um parecer, mas os relatos eram subjetivos e carregados de emoção.

Em outubro de 1901, o Prêmio Deutsch – oferecido pelo magnata do petróleo Henri Deutsch de la Meurthe, no valor de 50 mil francos – foi arrematado por Santos Dumont, após contornar a Torre Eiffel a bordo de um dirigível.

Sua principal inovação foi acoplar um motor de combustão interna movido a gasolina (que depois ele usaria nos aviões) a um balão de hidrogênio. Um a zero. No entanto, definir o que seria um voo de avião era um desafio bem maior.

O assunto era polêmico, e muitas pessoas nem sequer acreditavam na possibilidade de algo mais pesado do que o ar levantar voo. A descrença era comum até entre célebres cientistas. Em 1895, o físico e matemático britânico Lord Kelvin declarara que “máquinas voadoras mais pesadas que o ar são impossíveis”.

A ciência, porém, avança contrariando o impossível, e homens cheios de imaginação se lançaram ao sonho de voar. O francês Clément Ader montou um aeroplano em forma de morcego, que chegou a perder contato com o chão, sem ganhar, no entanto, altitude.

Samuel Langley, dos EUA, conseguiu fazer um pequeno modelo não tripulado voar. Entretanto, era Otto Lilienthal quem causava sensação na crítica especializada e, de longe, se tornara o preferido do público.

Voando em planadores inspirados nos pássaros, o alemão mostrou que um voo eficiente era possível. Para o Aeroclube francês, no entanto, planar não era o mesmo que voar. Ainda se discutiam os critérios para determinar o prêmio do primeiro voo de aparelho mais pesado do que o ar, quando, em 1903, chegou à Europa a notícia de que os Wright haviam realizado os primeiros voos controlados em um avião.

Porém, a única evidência era um telegrama escrito pelos próprios irmãos, contando terem voado contra ventos de cerca de 40 km por hora. Nos dois anos seguintes, os rumores eram de que eles haviam percorrido distâncias cada vez maiores, chegando a impressionantes 39 km. “Mas os irmãos não divulgavam uma foto sequer, e não permitiam que testemunhas neutras acompanhassem o experimento”, conta o físico Marcos Danhoni Neves.

Os franceses ignoraram o feito, por falta de provas concretas e também devido ao vento forte, que ajuda o avião a decolar. Estabeleceu-se que o voo deveria ser feito com tempo calmo, e que o aparelho fosse capaz de alçar voo sem ajuda de elementos externos (o vento ou uma catapulta, por exemplo).

Como no caso dos balões, a façanha deveria ser acompanhada por uma comissão oficial. E foi assim que, no dia 23 de outubro de 1906, foi realizado o primeiro voo homologado da História.

Nos campos de Bagatelle, em Paris, na presença de juízes e de uma multidão de curiosos, Santos Dumont pilotou seu 14 Bis por exatos 60 metros, a uma altura entre 2 e 3 metros. “O homem conquistou o ar!”, gritavam as pessoas em terra firme.

Pelo feito, o brasileiro recebeu prêmio de 3 mil francos oferecido por Ernest Archdeacon, um dos fundadores do Aeroclube. Menos de um mês depois, em 12 de novembro, ele voou ainda mais longe, 220 metros (a 6 metros de altura), batendo o próprio recorde.

Conduta diferente

Enquanto isso, os irmãos Wright mantinham segredo sobre sua invenção, apesar dos convites para que fossem demonstrá-la na Europa.

 “Um dos motivos pelos quais os americanos se recusavam a participar dos eventos franceses era que seu avião, para decolar, usava uma catapulta, com um peso de 700 kg que descia de uma torre e impulsionava o aparelho para o voo, algo totalmente fora do parâmetro dos europeus”, diz.

Outra razão para mistério era o medo de que sua ideia fosse roubada. Em 1904, a Feira Mundial de Saint Louis ofereceu um prêmio para quem conseguisse voar, mas eles não compareceram.

Em 1905 e 1906, tentaram vender o projeto da máquina voadora para o Ministério da Guerra dos EUA e depois para o governo francês, mas recusaram-se a fazer demonstrações e, por isso, o negócio não foi para frente.

A conduta dos Wright era bem diferente da de Santos Dumont, que publicava seus projetos. E, ao contrário dos americanos, que consideravam sua invenção relativamente acabada, o brasileiro estava sempre testando novas engenhocas.

Antes do 14 Bis, ele se esforçara para aperfeiçoar o dirigível. Até 1905, construiu mais oito aparelhos do tipo, sem contar um helicóptero que não decolou e um aeroplano que foi abandonado no meio.

Só então voltou-se para o desenvolvimento de uma máquina “mais pesada do que o ar”. O próprio Santos Dumont explicou mais tarde a razão da demora: “É que o inventor, como a natureza de Lineu, não faz saltos: progride de manso, evolui”.

Ele sabia que a decolagem dependia de um motor potente e, enquanto não havia um, seguia explorando os balões. Curiosamente, o primeiro projeto de Santos Dumont era parecido com um avião moderno, mas diferente dos aviões da época. Porém, devido às críticas, ele abandonou a ideia.

A cautela estava ligada também a um evento que abalou os pioneiros da aviação: a morte de Otto Lilienthal, cujo avião se espatifou em 1896. “O episódio lançou uma onda de medo entre os inventores, que resolveram adotar a configuração chamada canard”, conta Henrique.

Canard quer dizer “pato” em francês e refere-se à posição das asas na parte de trás e o bico na frente. Nessa configuração, o profundor – leme horizontal que ajuda a erguer o nariz da aeronave para que ela possa levantar voo – fica na frente, enquanto nos aviões atuais é localizado na traseira.

Os Wright foram os principais divulgadores do canard e influenciaram o próprio Santos Dumont, que adotou a configuração no 14 Bis.

Em 1908, os Wright finalmente levaram o Flyer para a Europa e apresentaram pela primeira vez as fotos do voo de 1903. “A essa altura, todos estavam interessados nos recordes de distância, e os Wright, que de fato tinham desenvolvido melhor a parte de aerodinâmica e controle no ar, sabiam que, nesse ponto, poderiam se sair bem”, diz.

Os americanos causaram sensação no Velho Mundo com voos de mais de 100 km. Tornada pública, sua invenção ajudou a impulsionar o desenvolvimento da aviação, que atingiria um marco com a travessia do Canal da Mancha (entre França e Inglaterra) pelo francês Louis Blériot, em 1909.

Inovações importantes

Na comparação, do ponto de vista aerodinâmico, o avião brasileiro sai perdendo. Baseado no conceito das células de Hargrave (caixotes vazados como em pipas japonesas), o 14 Bis acabou ultrapassado.

Porém, trouxe inovações importantes: o trem de pouso e os ailerons, que permitem a inclinação para os lados, conferindo maior estabilidade. E há quem defenda que a aeronave dos Wright nem sequer possa ser considerada um avião.

“O que eles inventaram não passa de um planador motorizado. Muita gente se surpreende ao saber sobre a catapulta”, diz Marcos.

A polêmica está cercada de ufanismo, e é provável que jamais possamos dizer com certeza quem foi o primeiro homem a voar. Porém, há um fato curioso. Uns 100 anos depois do feito de Santos Dumont, o 14 Bis voltou a ganhar os céus.

Ou quase: trata-se de uma réplica, construída pelo coronel paulista Danilo Flôres Fuchs, que pilotou seu avião diversas vezes, no Brasil e na França. “Ele é bastante estável e é possível atingir distâncias maiores de 1 km”, afirmou o aventureiro na época.

Nos EUA, sonha-se fazer o mesmo com o Flyer. Existe até uma fundação, a Discovery of Flight Foundation, que se dedica a estudar a façanha dos Wright, construindo réplicas e tentando fazê-las voar. Ainda não conseguiram.

Fonte: AH


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

MITOS E MÉTODOS PECULIARES: A BIZARRA SAGA DA MENSTRUAÇÃO NA IDADE MÉDIA

 

Os tabus que cercam a menstruação ainda são grandes nos dias de hoje, mas na Idade Média eles com certeza eram ainda maiores. A misoginia, que muitas vezes impedem as mulheres de conhecerem os próprios corpos, unida ao conservadorismo de muitas sociedades, fizeram com que o tema fosse praticamente censurado.

E o desconhecimento leva à ignorância. O período menstrual estava cercado de mitos e algumas ideias bizarras sobre o que ele representaria. Algumas dessas narrativas imaginativas sem comprovação científica ainda existem nos dias de hoje: quem nunca ouviu que não deveria lavar o cabelo enquanto estivesse menstruada?

Na Idade Média, um pensamento que cercava a menstruação era a de que seu sangue era completamente venenoso. Muitos homens repudiavam esse momento, acreditando que seu sangue teria um poder do mal tão forte capaz de apodrecer colheitas e vinhos, além de sua capacidade de supostamente deixar animais em estado de loucura.

Por esse motivo, sexo durante esse período não era indicado. Por mais que se tratasse apenas de um mito popular, pessoas de fato consideravam que o fluxo de sangue das mulheres era tóxico. Isso fazia com que o ato sexual fosse desencorajado, porque acreditava-se que o sangue poderia queimar o pênis do homem.

Somente a partir desse discurso que considera o fluxo menstrual como algo tóxico e venenoso é possível perceber que a relação das moças com esse período provavelmente não era uma das mais fáceis. Ora, se o ato de menstruar era considerado impuro, algo sujo e poluído, como poderiam entendê-lo sem preconceitos?

A “ciência” da época também não ajudava. Na verdade, ela piorava toda a situação. Alguns considerados “especialistas” do período julgavam que a menstruação era uma doença que aflorava no corpo da mulher a cada mês. Nada sobre ela fazer parte do ciclo reprodutivo do organismo feminino.

Nessa questão, alguns médicos do período também supunham que se uma mulher não passasse por esse processo, o sangue que deveria sair pela vagina teria que sair de outra forma. Então, eles removiam sangue diretamente das veias da moça que não teve seu fluxo daquele mês. Esse método era aplicado logo após a tentativa de fazer o sangue vir colocando lã com pepino e leite dentro de seu órgão genital.

Como, então, as mulheres de fato lidavam com esse período? Provavelmente com muita vergonha e constrangimento. Se hoje temos absorventes, coletores menstruais e até mesmo calcinhas absorventes, naquela época não havia nada nem ao menos parecido. O que muitas faziam era usar tecidos como uma espécie de absorventes.

O material escolhido geralmente era o linho por sua maior capacidade de absorção. Mas, ainda assim, existe uma questão: onde colocar o tecido, sendo que não existiam nem ao menos calcinhas na época? Bom, as moças provavelmente o penduravam com algo parecido com o cinto em sua cintura e pernas. 

Esse método com certeza não era muito seguro, o que fazia com que os tecidos muitas vezes caíssem ao chão, revelando o sangue menstrual. Episódios como esse faziam com que os “absorventes” improvisados fossem chamados de “tampão monstruoso” por muitas pessoas.

Algumas mulheres, no entanto, não usavam esse recurso para conter o fluxo da menstruação, o que fazia com que o sangue apenas escorresse por suas pernas. Pesquisadores apontam que a popularidade de roupas de cor vermelha durante a Idade Média se decorresse desse fato. Também era habitual que elas carregassem noz-moscada ou flores secas para esconder o cheiro. 

Nos dias de hoje, as coisas mudaram. Mulheres podem escolher entre diversos tipos de absorventes e métodos de contracepção que às vezes até mesmo impedem a menstruação de acontecer. Ainda assim, o tabu acerca do tema ainda não sumiu totalmente, o que revela que a misoginia ainda está presente na sociedade.

Fonte: AH