Um papa
detestava tanto seu antecessor que decidiu desenterrá-lo e lhe dar um
julgamento
A Igreja Católica passava por uma época turbulenta no fim do século 9.
Enquanto no século 20 a Roma teve oito papas, no século 9 contavam-se às
dezenas os que se sucederam no cargo – a maioria na casa dos 30 anos. “Em
alguns casos, os papas terminavam assassinados, eram depostos e fugiam”, diz a
historiadora Valéria Fernandes da Silva, especialista em história da Igreja. As
poderosas famílias de Roma tinham influência na Santa Sé, o que levou algumas
pessoas perturbadas a se sentar no trono de Pedro. Mas, em termos de bizarrice,
nenhum superou Estevão.
No começo de 897, o papa Estevão VI (alguns o citam como Estevão VII)
tomou uma atitude excêntrica: ordenou a exumação de seu antecessor Formoso,
morto nove meses antes. No evento conhecido como sínodo cadavérico, o corpo do
papa-defunto (isso mesmo, o corpo), vestido com insígnias e ornamentos, foi
julgado e condenado por excesso de ambição. Estevão excomungou Formoso, que foi
despido de suas vestes papais e teve amputados os dedos da mão direita, usados
para abençoar os fiéis. Seu corpo putrefato foi atirado no rio Tibre, pena
comum a criminosos.
Depois do ocorrido, a popularidade de Estevão foi para o fundo do Tibre
junto com o corpo de Formoso. Ele foi deposto numa rebelião e estrangulado até
a morte, ainda em 897. No ano seguinte, o novo papa João IX anulou o sínodo
cadavérico no Concílio de Ravena e ordenou o retorno do corpo de Formoso,
resgatado do Tibre, à tumba, na Basílica de São Pedro. “Foi talvez o período
mais conturbado da história do papado”, diz a historiadora Valéria Silva.
“Coisas assim são um sintoma da instabilidade da Igreja, da crise de autoridade
e da ingerência das grandes famílias.” Estevão foi considerado louco.
Fonte:
Aventuras na História
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