A primeira grande reação dos libertos com a Lei Áurea
foi, naturalmente, comemorar. À medida que a notícia espalhava-se, grandes
comemorações eram realizadas e festas aconteceram tanto nas grandes cidades,
como nas zonas rurais do Brasil. Uma vez passada a euforia, a nova situação
levou os libertos a procurarem melhores alternativas para viver, e Walter
Fraga, utilizando o cenário do Recôncavo Baiano, fala que uma das reações dos
libertos foi mudarem-se de lugar.
Assim, muitos escravos acabaram abandonando as
fazendas nas quais foram escravizados e mudaram-se para outras ou então foram
para cidades. Essas migrações de ex-escravos aconteceram por múltiplos fatores.
Os libertos mudavam-se para distanciarem-se dos locais em que foram
escravizados, ou então iam para outros lugares procurar parentes e
estabelecer-se juntos desses ou até mesmo procurar melhores salários,
conforme descreve Walter Fraga.
Essas migrações, na maioria dos casos, eram uma ação
mais realizada pelos homens jovens, por terem melhores possibilidades de
estabelecerem-se em uma terra para cultivá-la. As mulheres que possuíam filhos
e os idosos tinham menos possibilidades de migrar à procura de melhores
condições.
A migração de ex-escravos gerou uma reação de grandes
proprietários e das autoridades daquela época trazendo-lhes muita insatisfação,
sobretudo porque os primeiros não aceitavam mais as condições de trabalho
degradantes que existiam antes de 1888 e porque estavam sempre em busca de
melhores salários. Assim, os grandes proprietários, sobretudo do interior do
país, começaram a pressionar as autoridades para que elas reprimissem essa
movimentação.
Com isso, os grupos de ex-escravos que migravam
começaram a sofrer com a repressão e foram sendo taxados
de vadiagem e vagabundagem. Essa medida focava, sobretudo, os
libertos que eram mais insubordinados e que costumavam não aceitar as condições
impostas pelos grandes proprietários.
Muitas vezes também, os grandes fazendeiros e antigos
donos de escravos impediam que os libertos fizessem suas mudanças. Muitos
desses eram ameaçados fisicamente para que não se mudassem, e outra estratégia
utilizada era a de tomar a tutoria dos filhos dos ex-escravos. Inúmeros grandes
proprietários acionavam a justiça para ter a tutoria sobre os filhos dos
libertos e com isso forçavam esses a permanecerem em sua propriedade. Houve,
inclusive, casos de filhos de libertos que foram sequestrados.
Existiram senhores de escravos que não aceitavam pagar
salários para os ex-escravos, mas havia muita resistência por parte dos
libertos quanto a isso. Após a Lei Áurea, os libertos passaram a questionar as
condições que lhes eram oferecidas e essa atitude passou a ser vista como
insolência. A repressão mencionada anteriormente foi uma resposta dos grandes
fazendeiros a isso.
Se os libertos não encontrassem condições que lhes
agradassem, e se tivessem outras condições, a migração era sempre uma opção. Os
pagamentos exigidos eram realizados diariamente ou semanalmente e a jornada
deveria ter um limite. Aqueles que se mudavam para as cidades acabavam
aprendendo diferentes ofícios, tais como o de marceneiro, charuteiro (produtor
de charuto), servente, pedreiro etc. As mulheres, na maioria dos casos,
assumiam posições relacionadas com o trato doméstico.
Logo após a abolição da escravatura, uma das questões
mais importantes, e que foi definidora para garantir a manutenção do liberto
como um indivíduo marginal e subalterno na pirâmide social, foi a questão
da terra. Não foi realizada reforma agrária e, assim, a grande maioria dos 700
mil libertos, a partir de 1888, não teve acesso à terra, sendo esses forçados a
sujeitarem-se aos salários baixos oferecidos pelos grandes proprietários.
A falta de acesso à educação por parte dos
libertos era uma preocupação para esses e foi uma questão fundamental
para manter esse grupo marginalizado. Sem acesso ao estudo, esse grupo
permaneceu sem oportunidades para melhorar sua vida.
Após a abolição, muitos libertos acabaram optando por
retornarem ao continente africano, dada as dificuldades encontradas aqui para
eles. Todas as dificuldades, porém, não foram impeditivos para fazer com que os
libertos relembrassem e comemorassem o 13 de maio como um marco da sociedade
brasileira.
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