Nos últimos dois meses, pelo menos 13 barcos de
madeira foram encontrados à deriva, alguns vazios e outros com corpos - 20, ao
todo. O que se sabe é que estes barcos apareceram em uma faixa da costa oeste,
que vai de Hokkaido, no Norte, até Fukui, no sul.
Todos os corpos estavam em avançado estado de
decomposição ou mesmo já parcialmente transformados em esqueletos, o que indica
que eles estavam mortos há muito tempo. A Guarda Costeira do Japão disse à BBC
que um total de 65 barcos como estes foram encontrados no litoral japonês no
ano passado, mas essa última leva de embarcações-fantasma parece ter vindo em
uma frequência um pouco maior do que a normal.
Acredita-se que os barcos sejam pesqueiros
norte-coreanos, que nessa época do ano saem em busca de caranguejos, lulas e
peixes de espécies abundantes nesta época do ano. Pelo menos um dos barcos
trazia marcas de militares norte-coreanas. A marinha do país é fortemente
envolvida em atividades pesqueiras. Um pedaço de pano que parece ser parte de
uma bandeira norte-coreana encontrado em um dos barcos também foi considerado
uma pista de sua origem.
A Coreia do Norte, entretanto, não tinha informado
sobre barcos seus desaparecidos. As autoridades japonesas estão tentando
descobrir as causas das mortes dos corpos encontrados, apesar do avançado
estado de decomposição de alguns corpos. Acredita-se ser provável que as causa
das mortes estejam ligadas ao frio do inverno ou à fome. Normalmente o Japão
proíbe embarcações da Coreia do Norte de atracar no país. Mas o país abre
exceções em caso de embarcações que buscam abrigo de tempestades.
Alguns especialistas sugeriram que as tripulações dos
barcos estariam, na verdade, tentando fugir do regime norte-coreano. Também há
informações de um controle mais restrito na fronteira entre Coreia do Norte e
China, a rota mais comum para os desertores. Mas muitos duvidam desta hipótese.
John Nilsson-Wright, chefe do Programa sobre a Ásia na
consultoria britânica Chatham House, disse à BBC que, além da barreira do
idioma e cultura, "se você fosse um desertor não faria sentido ir para o
Japão. A Coreia do Sul está muito mais perto de barco".
Os barcos de madeira que chegaram ao Japão são velhos
e pesados. Não têm motores bons, nem sistema de GPS. Analistas afirmam que se
eles se afastaram muito da costa norte-coreana ou saíram da rota programada
podem ter perdido seu rumo e sua orientação.
O fato de o aparecimento destes barcos ser
relativamente comum também parece fortalecer a tese de que eles se perderam, em
detrimento da teoria de que eles levavam desertores. Também é pouco provável
que o mau tempo tenha levado estes barcos para o Japão. O Mar do Japão é mais
agitado e tem ventos mais fortes em novembro, mas a Guarda Costeira japonesa
disse à BBC que isto é comum nesta época do ano.
Outra dúvida é por que os pescadores se arriscariam a
se afastar tanto da costa norte-coreana. Uma hipótese é que as autoridades do
país estão cobrando quantidades cada vez maiores de pescado - o que levaria as
tripulações de barcos pesqueiros a correrem mais riscos.
A televisão estatal da Coreia do Norte recentemente
exibiu imagens do líder Kim Jong-Un visitando fábricas ligadas à pesca e
pedindo que o país aumente a produção. Mas nem todos estão convencidos disto.
É comum na Coreia do Norte que os trabalhadores fiquem
com o excedente da produção, caso eles consigam ultrapassar a meta imposta pelo
governo. Mas, se você for muito pobre,
como é o caso de muitos norte-coreanos, "você também vai fazer de tudo
para melhorar sua própria vida", disse Nilsson Wright. "Pode ser
simplesmente o fato de eles não terem tido sorte", acrescentou o
especialista.
Fonte: BBC News - Brasil
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