A gigantesca estátua do deus Atlas, com 14 metros de
altura, instalada no salão principal do Museu Arqueológico de Agrigento, na
Sicília, vai ganhar, em breve, uma concorrente de peso pela atenção dos
turistas: uma segunda estátua, cuja restauração foi concluída em julho e que,
em vez de ir para o museu, voltará ao seu lugar original, o Templo de Zeus. Com
8 metros de altura, o monumento ficará a céu aberto, na mesma posição em que os
arqueólogos acreditam que ela esteve na antiguidade. O parque arqueológico da
cidade anunciou em julho que a obra de arte, uma das esculturas mais famosas da
ilha, será colocada de pé. A pequena comuna de Agrigento é famosa por seus
templos e ruínas, riquezas do período em que os gregos colonizaram o sul da
Itália e a Sicília, formando a Magna Grécia. O chamado Vale dos Templos, um dos
mais importantes complexos arqueológicos do Mediterrâneo, reconhecido como
Patrimônio Mundial pela Unesco, reúne diversas necrópoles, túmulos e fortes,
além de oliveiras e amendoeiras centenárias.
Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP)
e doutor em História Antiga pela Sorbonne, Marcelo Rede, a reinstalação da
estátua tem, num primeiro momento, além da importância histórica, efeitos
puramente turísticos. “O templo faz parte de um parque arqueológico muito
visitado. Ao que parece, o maior do estilo dórico construído no mundo grego,
com mais de 100 metros de comprimento, com cinqüenta de altura”, diz. Na
mitologia grega, Atlas era um titã ou deus que foi forçado a suportar o céu nos
ombros após ser derrotado por Zeus, divindades de uma segunda geração de
deuses, conhecidos como olímpicos. “Trata-se de um conflito no qual Zeus,
liderando a nova geração de deuses olímpicos, derrota a geração anterior, de
seu pai, Cronos, e seus aliados, os Titãs. Por isso, chamam também de
Titanomaquia, ou popularmente: a batalha de Titãs”, explica Marcelo Rede. Há
diversas versões da narrativa, mas a mais conhecida e respeitada entre os
historiadores é a que foi transmitida por Hesíodo, na Teogonia.
Acredita-se que o antigo edifício dedicado a Zeus era
adornado por 40 estátuas dessa magnitude e que nunca tenha sido de fato
terminado. A reinstalação da estátua é o ponto alto de um longo processo de
reconstrução que acontece em Agrigento. Os trabalhos para elevar a estátua no
Vale dos Templos começarão em breve, mas devido à pandemia, não possuem uma
data definida. Arqueólogos e arquitetos levaram dez anos para montar e
catalogar as peças que compõem a obra. De acordo com o diretor do parque,
Roberto Sciarratta, a idéia de todo esse processo é resgatar e restaurar parte
do esplendor original que o templo de Zeus possuía. Essas renovações, além de
estimular o turismo, vêm para celebrar a fundação da antiga cidade de Akragas,
agora a moderna Agrigento, há quase 2.600 anos.
A cidade foi um dos principais centros populacionais
da região durante a idade de ouro da Grécia Antiga e possui sete templos gregos
muito bem preservados. Acredita-se que a construção desses templos tenha
acontecido em uma época que a região contava com mais de cem mil habitantes.
Erguidos num período de 100 anos, os templos permanecem entre os exemplares
mais famosos e magníficos da arquitetura grega. Localizados em uma cordilheira,
são estruturas criadas para impressionar qualquer mortal. Foi inclusive chamada
pelo poeta Píndaro de “a cidade mais bela dos mortais”, devido às maravilhas do
Vale dos Templos.
Entretanto, como acontece em muitos impérios, a cidade
foi destruída pelos cartagineses em 406 a.C. E a região entrou em decadência.
Foram anos de batalhas nas famosas Guerras Púnicas até que cartagineses e
romanos entrassem em um acordo. Roma assumiu o controle da cidade somente em
210 a.C. São séculos e mais séculos de história. Partes de templos foram usados
para a construção de outros monumentos, mas o que restou da velha cidade ainda
impressiona os visitantes. Há na Sicília um misto de passado e futuro que faz
da ilha italiana um dos lugares mais bonitos do mundo. Para os organizadores do
parque arqueológico da cidade, erguer a estátua em frente ao templo é uma forma
de Atlas servir mais uma vez, mas agora como guardião de uma cidade feita para
os deuses e festejada por toda a humanidade.
Fonte:
Isto É
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