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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A ESTÁTUA DE ATLAS: GIGANTE DE PEDRA

 

A gigantesca estátua do deus Atlas, com 14 metros de altura, instalada no salão principal do Museu Arqueológico de Agrigento, na Sicília, vai ganhar, em breve, uma concorrente de peso pela atenção dos turistas: uma segunda estátua, cuja restauração foi concluída em julho e que, em vez de ir para o museu, voltará ao seu lugar original, o Templo de Zeus. Com 8 metros de altura, o monumento ficará a céu aberto, na mesma posição em que os arqueólogos acreditam que ela esteve na antiguidade. O parque arqueológico da cidade anunciou em julho que a obra de arte, uma das esculturas mais famosas da ilha, será colocada de pé. A pequena comuna de Agrigento é famosa por seus templos e ruínas, riquezas do período em que os gregos colonizaram o sul da Itália e a Sicília, formando a Magna Grécia. O chamado Vale dos Templos, um dos mais importantes complexos arqueológicos do Mediterrâneo, reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco, reúne diversas necrópoles, túmulos e fortes, além de oliveiras e amendoeiras centenárias.

Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em História Antiga pela Sorbonne, Marcelo Rede, a reinstalação da estátua tem, num primeiro momento, além da importância histórica, efeitos puramente turísticos. “O templo faz parte de um parque arqueológico muito visitado. Ao que parece, o maior do estilo dórico construído no mundo grego, com mais de 100 metros de comprimento, com cinqüenta de altura”, diz. Na mitologia grega, Atlas era um titã ou deus que foi forçado a suportar o céu nos ombros após ser derrotado por Zeus, divindades de uma segunda geração de deuses, conhecidos como olímpicos. “Trata-se de um conflito no qual Zeus, liderando a nova geração de deuses olímpicos, derrota a geração anterior, de seu pai, Cronos, e seus aliados, os Titãs. Por isso, chamam também de Titanomaquia, ou popularmente: a batalha de Titãs”, explica Marcelo Rede. Há diversas versões da narrativa, mas a mais conhecida e respeitada entre os historiadores é a que foi transmitida por Hesíodo, na Teogonia.

Acredita-se que o antigo edifício dedicado a Zeus era adornado por 40 estátuas dessa magnitude e que nunca tenha sido de fato terminado. A reinstalação da estátua é o ponto alto de um longo processo de reconstrução que acontece em Agrigento. Os trabalhos para elevar a estátua no Vale dos Templos começarão em breve, mas devido à pandemia, não possuem uma data definida. Arqueólogos e arquitetos levaram dez anos para montar e catalogar as peças que compõem a obra. De acordo com o diretor do parque, Roberto Sciarratta, a idéia de todo esse processo é resgatar e restaurar parte do esplendor original que o templo de Zeus possuía. Essas renovações, além de estimular o turismo, vêm para celebrar a fundação da antiga cidade de Akragas, agora a moderna Agrigento, há quase 2.600 anos.

A cidade foi um dos principais centros populacionais da região durante a idade de ouro da Grécia Antiga e possui sete templos gregos muito bem preservados. Acredita-se que a construção desses templos tenha acontecido em uma época que a região contava com mais de cem mil habitantes. Erguidos num período de 100 anos, os templos permanecem entre os exemplares mais famosos e magníficos da arquitetura grega. Localizados em uma cordilheira, são estruturas criadas para impressionar qualquer mortal. Foi inclusive chamada pelo poeta Píndaro de “a cidade mais bela dos mortais”, devido às maravilhas do Vale dos Templos.

Entretanto, como acontece em muitos impérios, a cidade foi destruída pelos cartagineses em 406 a.C. E a região entrou em decadência. Foram anos de batalhas nas famosas Guerras Púnicas até que cartagineses e romanos entrassem em um acordo. Roma assumiu o controle da cidade somente em 210 a.C. São séculos e mais séculos de história. Partes de templos foram usados para a construção de outros monumentos, mas o que restou da velha cidade ainda impressiona os visitantes. Há na Sicília um misto de passado e futuro que faz da ilha italiana um dos lugares mais bonitos do mundo. Para os organizadores do parque arqueológico da cidade, erguer a estátua em frente ao templo é uma forma de Atlas servir mais uma vez, mas agora como guardião de uma cidade feita para os deuses e festejada por toda a humanidade.

Fonte: Isto É

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