Escuridão total, um verdadeiro breu. Ao fundo, só é
possível ouvir os sons da água, do oceano quebrando. Nada, mais. Sem vida, sem
chão, só o céu. É a natureza em sua forma mais pura de imensidão. Assim pode
ser descrito o Ponto Nemo, também chamado de Polo Oceânico de Inacessibilidade,
ou o lugar mais distante da Terra.
O nome foi dado ao famoso anti-herói marítimo da obra
de Júlio Verne, o
Capitão Nemo. Em latim, significa “ninguém”, o que se torna adequado para um
lugar que é raramente visitado pelas pessoas.
O Ponto Nemo está localizado a mais de 1.600
quilômetros equidistantes de três ilhas: A Ilha Ducie (uma das ilhas
de Picairn), vizinha a Polinésia Francesa e anexada ao Reino Unido em
1902; a Motu Nui, (da cadeia da Ilha de Páscoa); e a Ilha
de Maher (na costa da Antártica).
O Polo Oceânico de Inacessibilidade foi descoberto
oficialmente em 1992, pelo engenheiro pesquisador Hrvoje Lukatela que,
em terra firme, usou um software de computador especializado que incorporou a
forma elipsoide do planeta para obter sua máxima precisão, e determinou o ponto
mais distante possível.
"A localização de três pontos equiláteros é
bastante única e não há outros pontos na superfície da Terra que poderiam
substituir qualquer um deles", diz Lukatela para a BBC. Com o passar dos
anos, é possível que uma medição melhor, ou a erosão costeira, mudem a
localização do Ponto Nemo, "mas apenas na ordem dos metros".
Para se ter uma ideia, o Ponto Nemo fica tão longe da
terra, que os humanos mais próximos dela são, geralmente, astronautas. A
Estação Espacial Internacional, por exemplo, orbita a Terra a uma distância
máxima de 416 quilômetros. Enquanto isso, a massa de terra habitada mais
próxima do Ponto Nemo está a mais de 2.700 quilômetros de
distância.
Isso faz, na verdade, com que toda a região ao redor
do Ponto Nemo seja bem conhecida pelas agências espaciais. Afinal, a área é
conhecida como “área desabitada do Oceano Pacífico Sul” e utilizada — em
particular por agências espaciais russas, europeias e japonesas — como depósito
de lixo, já que é o ponto do planeta com o menor número de habitantes e rotas
de navegação.
Acredita-se que mais de uma centena de espaçonaves
desativadas ocupem agora este “cemitério a céu aberto” que abriga desde
satélites e navios de carga até a extinta estação espacial Mir.
Assim, em vez de monumentos únicos relatando a história das viagens espaciais,
os restos dessas missões estão espalhados no fundo do oceano em pedaços, sendo
colonizados e consumidos por qualquer criatura que viva naquela profundidade.
E por falar em vida, que tipo de espécie reside no
Ponto Nemo?
Por ser uma área praticamente inacessível, muitos
especulam sobre o que existe no Ponto Nemo. 66 anos antes de sua descoberta, o
escritor HP Lovecraft escolheu um lugar assustadoramente próximo ao
Polo Oceânico de Inacessibilidade para ser o lar de sua lendária criatura com
cara de tentáculos: Cthulhu.
Em 1997, oceanógrafos registraram um ruído misterioso
a menos de 2.000 km a leste do Ponto Nemo. Isso gerou grande empolgação e certo
temor. O som, apelidado de "o Bloop", era mais alto do que, até
mesmo, o de uma baleia azul — levando à especulação de que o mesmo foi feito
por algum monstro marinho desconhecido.
Porém, de acordo com a Administração Oceânica e
Atmosférica dos Estados Unidos, o "Bloop" seria o som de grandes
icebergs se rompendo nas profundezas da região. Ou seja, nada de criaturas
fantásticas.
Mas o que vive lá? Segundo o oceanógrafo Steven
D'Hondt, da Universidade de Rhode Island em Narragansett, possivelmente, não
muita coisa. Isso ocorre porque o Ponto fica dentro do chamado Giro do Pacífico
Sul — uma grande corrente oceânica em rotação: limitada a leste e oeste pelos
continentes da América do Sul e Austrália, ao norte pelo equador e ao sul pela
forte Corrente Circumpolar Antártica.
Um ponto fundamental para essa afirmação é que as
águas dentro do giro são estáveis, atingindo uma temperatura superficial de 5,8
°C no Ponto Nemo, segundo dados dos satélites da NASA. A corrente giratória
bloqueia a entrada de água mais fria e rica em nutrientes. Além disso, como a
região é isolada de massa, o vento não carrega muita matéria orgânica.
Como resultado, há pouco para alimentar qualquer
coisa. Sem nenhum material caindo de cima como "neve marinha", o
fundo do mar também fica sem vida. D'Hondt o descreve como "a
região menos biologicamente ativa do oceano mundial". Ainda assim, existem
alguns pontos excepcionais onde criaturas únicas podem sobreviver.
Fonte: AH
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