Excluindo as outras 52.352 coisas deploráveis ocorridas em 2015,
denuncio os seguintes crimes cometidos contra a paciência dos brasileiros
durante o ano velho:
A reviravolta que despertou no
eleitorado o desejo de submeter Dilma a um exame de DNA logo depois da
reeleição; o contrassenso de chamar a clientela de contribuinte antes de tentar
arrancar-lhe na marra uma nova CPMF; a inflação de 10,8%, acompanhada de recessão
e desemprego, sobretudo porque todos sabem que o caos econômico era evitável; a
saudade do tempo em que dar uma pedalada era apenas acionar os pedais de uma
bicicleta; a Dilma apresentando-se sempre como vítima de alguém; o Eduardo
Cunha no papel de abre-alas da oposição; a sofreguidão com que Dilma vai atrás
do Renan Calheiros, corteja o Renan Calheiros, entrega a viabilidade do seu
governo à conveniência do Renan Calheiros; a Dilma tratando o Eduardo Cunha
como cachorro louco sem explicar por que mantinha um afilhado dele na
vice-presidência da Caixa e tentava ser seu amigo antes da deflagração do
impeachment; o PT chamando de “golpe” um processo de impeachment previsto na
Constituição e disciplinado pelo STF; a evolução do presidencialismo de coalizão
para a sua forma mais pura, que é a vigarice; o neo-aliado Fernando Collor
xingando Rodrigo Janot de “filho da puta” na tribuna do Senado por ter revelado
que ele continua sendo Fernando Collor; a Lava Jato comprovando diariamente que
a democracia brasileira é um projeto político que saiu pelo ladrão; a evidência
de que, não contentes em existir, os corruptos passaram a existir em grande
número; a desilusão que se abateu sobre o asfalto depois que os manifestantes
se deram conta de que o poder de fazer barulho na rua pode ser poder nenhum; a
desfaçatez com que o petismo se vangloria de ter aparelhado a Polícia Federal e
prestigiado o Ministério Público, abstendo-se de mencionar que providenciou
também a matéria-prima para os escândalos que o cercam; o TSE transformado pelo
PT em lavanderia de pixulecos; o Lula repetindo que ‘não sabia’; a Dilma
declarando que não confia em delator que faz delação com base numa lei
sancionada por Dilma; a comprovação de que a elite empresarial brasileira
pilhava a Petrobras ao mesmo tempo em que enchia as colunas sociais, publicava
artigos e aconselhava ministros; a rapidez com que o PT suspendeu a filiação do
líder preso Delcídio Amaral em contraste com o tratamento de “guerreiro do povo
brasileiro” dispensado a personagens como o tesoureiro encarcerado João Vaccari
Neto; o talento insuspeitado do Eduardo Cunha como vendedor de carne enlatada
para a África; a transformação do Conselho de Ética da Câmara numa sucursal da
Casa da Mãe Joana; a desenvoltura com que quatro dezenas de parlamentares
enrolados no escândalo da Petrobras trafegam pelos corredores do Congresso como
se nada tivesse sido descoberto sobre eles; o silêncio perturbador da banda
muda do Congresso Nacional; a Dilma apelidando de reforma ministerial mais uma troca
de cúmplices; a perspectiva de indulto da pena imposta no julgamento do
mensalão a José Dirceu, que aguarda na cadeia por uma nova condenação no
petrolão; a nota oficial em que o PSDB se disse “surpreso” com a condenação de
Eduardo Azeredo no processo sobre o mensalão tucano de Minas Gerais; o filho do
Lula embolsando R$ 2,5 milhões por “consultoria” copiada da internet; os 62
milhões de metros cúbicos de lama despejados pela Samarco no meio ambiente; a
conversão do Aedes aegypti em hospedeiro do
vírus zika; o desejo que Dilma desperta nas pessoas de viver no Brasil que ela
descreve em seus discursos, seja ele onde for.
Por Josias de Sousa
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