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domingo, 3 de setembro de 2017

COLUNA DO LÁZARO ALBUQUERQUE: A REPÚBLICA MANOEL TIBÉRIO

CRÔNICA DO DOMINGO
A REPÚBLICA MANOEL TIBÉRIO
Lázaro Albuquerque Matos
Muitas pessoas me perguntam por que sou tão nostálgico. Uma fixação? Nostálgico, uma vírgula; saudoso. Nostalgia é tristeza melancólica. Isso eu não tenho; saudade, sim. Uma boa saudade não faz mal e nem engorda. Uma boa lembrança de Duque Bacelar me dá um QUÊ de saudade, das boas. Aqui e acolá, hora por outra, estou fazendo chegar a quem, igual a mim, tem no coração um instante indelével de algo do passado de Duque Bacelar. Minha saudade é a saudade de muitos. Sentem a que sinto: a saudade saudável. Eis, aqui e agora, do baú saudosista de Duque Bacelar, um instante que vai trazer uma eternidade de saudade, com certeza, para quem, vivendo em Duque, viveu a república “Manoel Tibério”. Nela, sonhos pululavam de uma noite de sono bom. A república era o abrigo-dormitório de uma turma de jovens alegres de Duque Bacelar.

Entre as famílias Linhares e Araújo de Duque Bacelar havia uma ramificação de Tibério. Tibério de Manoel – o barbeiro. Devia ser filho de um Tibério de tal. Mas o barbeiro Manoel Tibério de Duque Bacelar era pai de um expoente da cultura educacional do município: a inteligente e educada professora Conceição de Araújo Matos. O Tibério do pai não prenominou a ilustre professora. Mas o “MATOS” dela é meu, vindo do meu pai, Serafim Oliveira Matos, primo em duplicidade de Eurico Oliveira Matos (parece nome de irmãos), esposo da professora Conceição. 
Manoel Tibério tinha mais quatro filhos: Sebastiana, Francisca, Antônio José (Tota) e Cristino. Sebastiana, cedo, ainda na juventude, foi exibir sua grande beleza em Brasília, como moradora da cidade-capital do Brasil. Já bem ambientada na cidade, Sebastiana leva o pai para conhecer Brasília. Mas, lá, uma fatalidade abateu a família do barbeiro Manoel Tibério: um acidente de transito o matou em uma avenida da cidade.
E a república? A república “Manoel Tibério” veio exatamente da morte dele. Conceição leva a mãe viúva, Dona Maria, para morar em sua casa. E a Francisca não quis ficar sem a companhia da mãe e, nela, enrabichou-se para morar, também, na casa da irmã. O Cristino estudava Agronomia em Salvador, na Bahia. O Tota, morando sozinho na casa dos pais, convida os amigos, que moravam com irão, Chico Linhares e Guanabara, para dormirem nela. Depois, veio o Edson Matos. Os irmãos Barreto, de Coelho Neto, Miguel e Haroldo, que estudavam no Ginásio Bandeirante, comiam no hotel da Nazaré, mas tinham rede e mala na república Manoel Tibério. Até o Zé Vaz ( o Leite), separado da esposa Rosário, dormia também na república. E muitos outros.
A casa-república situava-se onde hoje é a Praça Nossa Senhora de Fátima e tinha como vizinho de um lado o saudoso José Brito. Nas férias, a casa dele era tomada por estudantes de Teresina. Isso fazia os filhos dele, Josemar e Brito Filho, à noite, pular para a república do lado para uma boa noite de dormida alegre. Às vezes, eles ainda levam alguns dos estudantes para dormida republicana.
Por precaução na república, entrada de mulher era proibido. Só uma jovem chamada Dinorah, meio destrambelhada, entrava lá, em companhia do irmão Paulério, que era surdo-mudo e mais destrambelhado do que a irmã. Eles eram filhos de uma senhora de fino trato e muito delicada, de nome Mundinha, que morava do outro lado da avenida, na frente da republica.
O Tota, dono da república, trabalhava na firma “Organizações Ribamar Oliveira”. Ele deixa o emprego em Duque Bacelar para ir morar em Brasília, a convite da sua irmã Sebastiana. Com a saída do Tota, a república foi desfeita. Eurico Matos demole a casa e constrói um ponto comercial no lugar. Depois o prédio caiu, ficando o terreno para o Município. Hoje, o terreno está em boas mãos, sendo a Praça Nossa Senhora de Fátima.
Da praça saem as bênçãos para proteção do local onde, outrora, era a fonte noturna dos sonhos dourados de uma turma de jovens sonhadores: REPÚBLICA MANOEL TIBÉRIO.

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