CRÔNICA DO DOMINGO
A REPÚBLICA MANOEL TIBÉRIO
Lázaro Albuquerque Matos
Muitas pessoas me perguntam por que sou tão nostálgico. Uma
fixação? Nostálgico, uma vírgula; saudoso. Nostalgia é tristeza melancólica.
Isso eu não tenho; saudade, sim. Uma boa saudade não faz mal e nem engorda. Uma
boa lembrança de Duque Bacelar me dá um QUÊ de saudade, das boas. Aqui e acolá,
hora por outra, estou fazendo chegar a quem, igual a mim, tem no coração um
instante indelével de algo do passado de Duque Bacelar. Minha saudade é a
saudade de muitos. Sentem a que sinto: a saudade saudável. Eis, aqui e agora,
do baú saudosista de Duque Bacelar, um instante que vai trazer uma eternidade
de saudade, com certeza, para quem, vivendo em Duque, viveu a república “Manoel
Tibério”. Nela, sonhos pululavam de uma noite de sono bom. A república era o
abrigo-dormitório de uma turma de jovens alegres de Duque Bacelar.A REPÚBLICA MANOEL TIBÉRIO
Lázaro Albuquerque Matos
Entre as famílias Linhares e Araújo de Duque Bacelar havia uma ramificação de
Tibério. Tibério de Manoel – o barbeiro. Devia ser filho de um Tibério de tal.
Mas o barbeiro Manoel Tibério de Duque Bacelar era pai de um expoente da
cultura educacional do município: a inteligente e educada professora Conceição
de Araújo Matos. O Tibério do pai não prenominou a ilustre professora. Mas o
“MATOS” dela é meu, vindo do meu pai, Serafim Oliveira Matos, primo em
duplicidade de Eurico Oliveira Matos (parece nome de irmãos), esposo da
professora Conceição.
Manoel Tibério tinha mais quatro filhos: Sebastiana, Francisca, Antônio José
(Tota) e Cristino. Sebastiana, cedo, ainda na juventude, foi exibir sua grande
beleza em Brasília, como moradora da cidade-capital do Brasil. Já bem
ambientada na cidade, Sebastiana leva o pai para conhecer Brasília. Mas, lá,
uma fatalidade abateu a família do barbeiro Manoel Tibério: um acidente de
transito o matou em uma avenida da cidade.
E a república? A república “Manoel Tibério” veio exatamente da morte dele.
Conceição leva a mãe viúva, Dona Maria, para morar em sua casa. E a Francisca
não quis ficar sem a companhia da mãe e, nela, enrabichou-se para morar,
também, na casa da irmã. O Cristino estudava Agronomia em Salvador, na Bahia. O
Tota, morando sozinho na casa dos pais, convida os amigos, que moravam com
irão, Chico Linhares e Guanabara, para dormirem nela. Depois, veio o Edson
Matos. Os irmãos Barreto, de Coelho Neto, Miguel e Haroldo, que estudavam no
Ginásio Bandeirante, comiam no hotel da Nazaré, mas tinham rede e mala na
república Manoel Tibério. Até o Zé Vaz ( o Leite), separado da esposa Rosário,
dormia também na república. E muitos outros.
A casa-república situava-se onde hoje é a Praça Nossa Senhora de Fátima e tinha
como vizinho de um lado o saudoso José Brito. Nas férias, a casa dele era
tomada por estudantes de Teresina. Isso fazia os filhos dele, Josemar e Brito
Filho, à noite, pular para a república do lado para uma boa noite de dormida
alegre. Às vezes, eles ainda levam alguns dos estudantes para dormida
republicana.
Por precaução na república, entrada de mulher era proibido. Só uma jovem
chamada Dinorah, meio destrambelhada, entrava lá, em companhia do irmão Paulério,
que era surdo-mudo e mais destrambelhado do que a irmã. Eles eram filhos de uma
senhora de fino trato e muito delicada, de nome Mundinha, que morava do outro
lado da avenida, na frente da republica.
O Tota, dono da república, trabalhava na firma “Organizações Ribamar Oliveira”.
Ele deixa o emprego em Duque Bacelar para ir morar em Brasília, a convite da
sua irmã Sebastiana. Com a saída do Tota, a república foi desfeita. Eurico
Matos demole a casa e constrói um ponto comercial no lugar. Depois o prédio
caiu, ficando o terreno para o Município. Hoje, o terreno está em boas mãos,
sendo a Praça Nossa Senhora de Fátima.
Da praça saem as bênçãos para proteção do local onde, outrora, era a fonte
noturna dos sonhos dourados de uma turma de jovens sonhadores: REPÚBLICA MANOEL
TIBÉRIO.
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