CRÔNICA DO DOMINGO
ELE ESTÁ DE OLHO É NA BUTIQUE DELA
Lázaro Albuquerque Matos
ELE ESTÁ DE OLHO É NA BUTIQUE DELA
Lázaro Albuquerque Matos
Hoje, tenho um ponto de vista a perder de vista. Quem não
conhece Severina Xique-xique? Aquela que botou uma butique para a vida
melhorar. Somos todos: eu, tu e ele uma grande Severina – maior do que a
barriga de Genival Lacerda, seu criador. E a vida é uma grande butique de
cosmético ilusório. Vende-se ilusão como vendem-se batom, calçado e roupa em
uma butique, sem se falar em cueca e calcinha.
A butique da Severina de Genival Lacerda despertava o interesse do olhar de
todos. Não pelo estoque de bugigangas à venda na butique, mas pela própria
butique: o atributo patrimonial da dona. Logo ali, na esquina, apareceu Pedro
Caroço – malicioso todo –, que ficava acenando para Severina, de olho na
butique dela.
Como a vida é uma grande butique, butique não é um monopólio de Severina, pois.
Eu também botei a minha. Mas ninguém ficou de olho nela, como na de Severina.
Pensei logo: será porque butique é coisa de mulher, pincipalmente, se ela tem
um grande atributo como patrimônio para o negócio. Será que isso atrai fregueses
olhudos? Não sei. Será que butique é só mesmo coisa de mulher para mulher.
Também não sei. Cheguemos à minha butique, um negócio de homem para homem!
Com o sucesso da música de Genival Lacerda, juntei capital e boi uma butique,
para a vida melhorar. Mas, antes, fui aconselhado por um amigo para não fazer
isso. O amigo: “ Lázaro, em vez de butique, bota uma lavanderia”. Lavanderia!
Pensei com meus botões. Não, isso não. Uma lavanderia só serve para lavar roupa
suja ou dinheiro. Isso não é comigo. Depois, isso pode virar um lava-jato. Ou
cair na “Lava-jato”. Expliquei ao amigo. Fiquei mesmo com a butique. E montei o
estoque na prateleira. E tome ilusão! Foi isso que pus à venda na minha
butique, sem medo de quebrar. Mas quebrei feio: vender ilusão não dar lucro.
Não se iluda!
Sem conseguir ser a Severina Xique-xique da butique da música de Genival
Lacerda, tornei-me num Severino do poema de João Cabral de Melo Neto. Para não
deixar dúvida, como deixaram os tantos Severinos com o nome da mãe, no poema de
João Cabral, eu disse logo: sou o Severino da Zeferina de Duque Bacelar. Esse
era o nome de minha mãe querida, conhecida como Princesa. Fui viver, então, a
“Vida e Morte Severina” de um sertanejo retirante. Um retirante da grande
butique do Brasil: a política. Todo mundo está de olho nela!
Por que um retirante, de vida política Severina? Porque o estoque de minha
butique política da ilusão foi a zero, em Duque Bacelar, e por não poder
renová-lo mais, pois vendi tudo fiado, e não recebi. Com isso, eu não tive como
não cerrar as portas e bater a poeira da prateleira. Vender ilusão, em butique
política, tem limite e não é um bom negócio.
O que eu vendia na minha butique política era uma mercadoria de palanque:
ilusão. E o pior, eu só vendia o que os outros iam entrar; não eu. Assim,
deixei de ser o cavaleiro da ilusão política, ou o vendedor dela. Se na
política de Duque Bacelar, não sei. Mas sei que é na política.
Agora, só me dou ao trabalho de ouvir Genival Lacerda, com seu barrigão, cheio
de mungangos, cantar para a política Severina: ELE ESTÁ DE OLHO É NA BUTIQUE
DELA.
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