SORRIA,
MARIA
Carlos Machado
Nasceu envolta em molambo
de tão mísera tinha um pano
Caiu cedo no mundo
Não teve chance um segundo
Nem pelos pubianos trazia
Quando o corpo foi subjugado
Por indivíduo depravado
Jogada na vala da orgia
Sujeitou-se a tirania
Escalou os píncaros do submundo
Mas, fugitiva do destino imundo
Foi escrava em casas belas
Peregrina, pagã
Criou corpo de donzela
Mãe solteira perdeu o filho
Levado por desconhecido
Tratou de arrumar companhia
Gente que desconhecia
Ralava desde o piscar do dia
Nem a hora de fechar os olhos sabia
Mas, tudo em casa adquiria
E mesmo assim apanhava e sorria
Pegou tempo de cadeia
Saiu na legitima defesa
Para não apanhar mais todo dia
Recomeçar foi o dilema
A escola virou lema
Apegou-se a santa Maria Madalena
Dentro da igreja pagava a pena
Com emprego garantido
Arrumou um canto protegido
Encontrou o filho perdido
E José para marido
Finalmente, que estranha ironia
Não era mais chamada de vadia
Como senhora da sociedade vivia
Não trabalhava mais noite e dia
Enfim, o destino lhe sorria
E feliz da vida seguia
Domingo, dia de intensa alegria
Com a família a palavra de Deus ouvia
Contrita, rezava as graças que recebia
Sem imaginar que naquele dia
uma bala perdida a mataria
E lá estava Maria
Jogada na terra fria
No corpo a alma se esvaia
E quem a visse dizia
Que a morta sorria
Nenhum comentário:
Postar um comentário