Além da falta de gêneros alimentícios, remédios e
combustíveis, o caos que motoristas e empresas transportadoras produziram no
país expôs um desabastecimento adicional: faltou governo. Quando os caminhões voltarem
a circular, logo haverá mantimentos na gôndola, medicamentos na prateleira,
gasolina na bomba e querosene nos aeroportos. Mas contra o desgoverno não há
solução. Faltam 217 dias para Temer desocupar o Planalto. Acompanhar cada manhã
do seu derretimento será um martírio.
Temer viveu a crise dos caminhões em dois estágios.
Atravessou a fase da inação e a etapa da rendição. O presidente deu de ombros
para a encrenca ao ser alertado, em outubro de 2017, sobre os riscos da
paralisação. Voltou a subestimar o problema quando recebeu dois ofícios
ameaçadores nos dias 14 e 16 de maio. “Imagine o Brasil ficar sem transporte
por uma semana!”, anotava o primeiro aviso. “O Estado de fragilidade financeira
que se encontra o setor (de transportes) é altamente inflamável”, ecoava o
segundo.
Cinco dias depois da última advertência, os
caminhões foram atravessados nas rodovias. Em 48 horas, o caos estava esboçado.
E Temer, depois desperdiçar todas as oportunidades que teve para compreender o
problema, amarelou três vezes em uma semana:
1) Na
última terça-feira, o presidente pediu “trégua” aos caminhoneiros sublevados,
acenando com o tabelamento do diesel por 15 dias.
2) Na
quarta-feira, cedeu 12 reivindicações sem obter nenhuma garantia de
desobstrução das estradas. O congelamento do diesel passou para 30 dias.
3) Neste
domingo, Temer protagonizou uma rendição humilhante. Depois de acionar com
atraso os órgãos de segurança, incluindo as Forças Armadas, o presidente içou a
bandeira branca e entregou aos grevistas um pacote de vantagens que vira do
avesso a própria filosofia liberal do seu desgoverno. Incluiu no embrulho uma
mágica que fará sumir do preço do diesel a Cide, o PIS e a Cofins. O truque
resultou num desconto de R$
0,46 por
litro. E Temer ainda esticou a vigência do tabelamento do óleo para 60 dias.
Leia mais
em: Blog do Josias de Souza
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