Nascida no palácio imperial português em Queluz, ela
fazia parte de um núcleo aristocrático importante, mas em decadência. Era
sobrinha de Fernando VII e neta de Carlos IV por parte de mãe, mas era
essencialmente da Casa de Bragança, por sua ascendência paterna, ligada ao avô
Pedro III.
Aos 10 anos passou por sua primeira conturbação
política quando a França invadiu a Península Ibérica. Diante do episódio, o rei
Dom João articuladamente conseguiu a fuga da Família Real para o Brasil.
Atravessou o Atlântico com a família e chegou ao Rio de Janeiro pouco mais de
um mês antes de seu aniversário, passando a viver com a corte no Palácio de São
Cristóvão.
O enfraquecimento de Napoleão Bonaparte e a reestruturação das monarquias ibéricas representaram a
oportunidade perfeita para a rearticulação entre Portugal e Espanha, dando
origem ao casamento de Maria Isabel e sua irmã, Maria Francisca, com membros da
corte espanhola, que voltara ao poder em 1813. Como consequência, em 1816,
Isabel casou com o rei Fernando VII de Bourbon, em Madrid, na mesma ocasião em
que a irmã se casou com Carlos.
Fernando era tio de Maria Isabel, e irmão de sua mãe
Carlota Joaquina. Seu matrimônio foi um importante reforço às relações
diplomáticas entre as coroas ibéricas, num momento em que se restabeleciam e o
relacionamento anterior, entre Carlota e João, era pouco amistoso.
Maria Isabel era uma entusiasta da arte e erudit. Se
encaixava perfeitamente entre os membros mais liberais da corte espanhola.
Envolveu-se com relevantes grupos de apreciadores de pinturas e poesias, sempre
relatando um sonho de criar um grande acervo com as obras pertencentes aos reis
espanhóis. Porém, o casamento durou pouco tempo diante das tragédias que
abalaram Maria.
Embora tenha concebido duas filhas, Maria Isabel não
conseguiu criar herdeiros ou herdeiras para o trono espanhol. Em menos de um
ano, ela engravidou da primogênita, que nasceu em 1817, como Maria Luísa
Isabel. Porém, no ano seguinte, a garota morreu prematuramente, gerando grande
tristeza na irmã de Dom Pedro I.
Logo depois do episódio, Maria Isabel engravidou
novamente, numa gestação repleta de complicações. Seu parto foi extremamente
difícil, e os médicos da corte optaram pela cesariana, que foi violenta e
repleta de falhas. Foi revelado que o bebê, que receberia o mesmo nome da irmã
morta, estava na posição de culatra, ou seja, com a disposição do corpo inversa
ao esperado naturalmente, com as pernas viradas para a região baixa do útero, o que
resultaria em asfixia com o parto normal.
Logo no início do procedimento, descobriram que a
criança falecera antes do parto. Abalada e enfraquecida pelos procedimentos
iniciais da cirurgia, Maria teve uma parada respiratória e ficou
temporariamente sem reação e, por isso, concluíram que a rainha havia morrido
na cirurgia. Os responsáveis pelo parto optaram por uma ação invasiva e
violenta para finalização rápida do procedimento, retirando o feto morto para
que ambos fossem sepultados.
Isso significou uma atroz retaliação da região do
abdômen da rainha que, na verdade, não estava morta. Quando os médicos
começaram os cortes profundos e pouco preocupados, para extraírem a criança,
Maria Isabel começou a gritar de dor, se contorcendo. Seu ventre sangrava e ela
caiu da cama, com uma hemorragia que se espalhava pelo chão do quarto.
As retaliações cirúrgicas feitas pelos médicos levaram
Maria Isabel à morte, num acidente procedimental invasivo e extremamente
doloroso. O desastre da cesariana chocou a corte espanhola, que perdeu dois
membros (a rainha e sua filha) de uma vez. Diante do primeiro diagnostico de
morte, que levou à verdadeira logo depois, Maria Isabel é conhecida na memória
dos espanhóis como “a rainha que morreu duas vezes”.
Bem apreciada, Maria foi sepultada no Mosteiro do
Escorial, em San Lorenzo, localidade nos arredores da capital Madrid. Seu
sonho de ter um acervo organizado com as obras de artes dos monarcas da Espanha
se realizou um ano depois de sua morte, quando o prédio — ordenado ainda no
século anterior pelo rei Carlos III — foi inaugurado por Fernando VII como
Museu do Prado.
Fonte: Aventuras na História
Nenhum comentário:
Postar um comentário