O Holodomor foi um dos maiores crimes cometidos pela
gestão stalinista na antiga União Soviética. Estima-se que, entre 1932 e 1933,
3.9 milhões de pessoas morreram de fome. Entretanto, o que poucos sabem, é que
um paralelo desse caso aconteceu na China de Mao Tse Tung, vitimando mais de 45
milhões de chineses.
Entre 1958 e 1962, o líder do Partido Comunista Chinês implementou um programa de
aceleração do crescimento no país. O plano, que parecia ser excelente, ao menos
no papel, prometia levar a China a sobrepujar, economicamente, qualquer nação
do Ocidente em até 15 anos.
Entretanto, na prática, o projeto foi uma catástrofe
de dimensões continentais. O programa, que falava em igualdade e justiça
social, causou o óbito de um número inestimável de vidas humanas — que não
pereceram em virtude de uma Guerra ou de uma catástrofe natural, mas sim de uma
péssima sequência equivocada de decisões governamentais.
Além do mais, qualquer pessoa com pensamentos opostos
ao que estava sendo aplicado, era desqualificada sistematicamente. Em casos mais
extremos, alguns dos opositores eram presos ou exilados em campos de trabalho
forçado.
O capítulo, considerado com o mais sombrio da História
da República Popular da China, é descrito por Frank Dikötter, professor
catedrático na Universidade de Hong Kong, no livro A grande fome de Mao – A
história da catástrofe mais devastadora da China, publicado no Brasil pela
Editora Record.
Dikötter teve acesso aos arquivos do Partido Comunista
pouco antes das Olimpíadas de Pequim, em 2008. Segundo o autor, os relatos
fazem parte de um catálogo de horrores e incluem casos de canibalismo em
aldeias de diferentes regiões do país: como relatos de camponeses que
desenterram cadáveres de parentes para a alimentação; ou daqueles que comiam
ratos, e até mesmo cascas de árvores e terra.
Ao mesmo tempo em que essas barbáries aconteciam no
país, o governo vendia, por meio da propaganda oficial, uma imagem de um povo
feliz e de uma economia prospera. “A fome tomou dimensões muito além do que se
pensava anteriormente”, descreve o autor. “Os especialistas estimavam a catástrofe demográfica
entre 15 e 30 milhões de mortes. Com as estatísticas compiladas pelo próprio
Gabinete de Segurança Pública na época, descobre-se uma calamidade muito maior:
pelo menos 45 milhões de mortes prematuras entre 1958 e 1962. Mas não é
simplesmente a extensão do número de mortos que conta, mas também como essas
pessoas morreram”. “Não é que as pessoas morressem de fome porque não
havia comida disponível. A comida era, na verdade, usada como uma arma para
forçar as pessoas a cumprirem as tarefas atribuídas pelo Partido.
E as pessoas
que eram consideradas como de direita ou conservadoras, as pessoas que dormiam
no serviço, que estavam muito doentes ou enfraquecidas para serem obrigadas a
trabalhar se viram sem acesso à cantina e morriam mais rapidamente de fome.
Pessoas fracas ou os elementos considerados como inaptos pelo Partido foram,
portanto, deliberadamente levados à fome”, explica.
Dikötter relatou que o Estado do país usou da
violência extrema para impor a criação de grandes comunas agrícolas. Lá, homens
e mulheres viviam separados e perdiam qualquer direito que tinham de criarem
seus filhos.
Além do mais, eles também eram proibidos de cozinhar
dentro de suas casas. Os camponeses eram forçados a se privarem de comer e se
viram obrigados a falsificar os números de tudo o que produziam — já que eles
deviam ceder ao Estado todos os grãos que colhiam.
O autor aponta que por acreditarem cegamente em Mao Tsé Tung e no Partido Comunista chinês, a
população passou por uma espécie de lavagem cerebral intensa e sistemática.
“Tudo foi coletivizado”, diz. “Muito rapidamente o paraíso utópico provou ser um
enorme quartel militar. A coerção e a violência eram as únicas formas de garantir
que as pessoas executassem as tarefas que lhes eram ordenadas pelos membros
locais do Partido”.
No mesmo período da fome, o poder maoísta torturou,
matou e executou entre 2 e 3 milhões de pessoas que discordavam das diretrizes
do sistema. Aqueles que roubavam um punhado de grãos, ou batatas para se
alimentarem, também eram severamente punidos.
Em um relato, encontrado nos registros oficiais do PC
chinês, é descrito o caso de um homem que foi forçado a enterrar seu filho vivo
de 12 anos. O garoto teria saqueado alguns grãos. O pai morreu de desgosto
algumas semanas depois.
Apesar dos diversos casos chocantes, o partido
comunista chinês trata o período com certa normalidade. Eles alegam que as
mortes ocorreram em virtude das condições ambientas, e também dizem que elas
foram a menor escala do que o registrado: apenas 15 milhões de pessoas. Eles
tratam essa fase como “O difícil período de três anos”.
Fonte: AH
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