A Segunda Guerra foi
um conflito absoluto, não somente pela extensão do campo de batalha que
extrapolou as fronteiras europeias, norte da África, da Ásia e Havaí, mas
também pelo emprego de meios de destruição em massa e por seu desfecho: a
capitulação total dos vencidos, consumando mudanças drásticas na geopolítica
global. Literalmente, a Segunda Guerra Mundial deixou o mundo em ruínas.
Embate fatal
Fevereiro de 1945. O palco de nosso embate é a ilha
Ramree, na Birmânia, atual Mianmar. Com o objetivo de desalojar as Forças
Imperiais Japonesas que haviam se instalado na ilha em 1942, a Marinha Real
Britânica, a Royal Air Force e a 36ª Brigada de Infantaria Indiana, mobilizaram
suas tropas.
Após intensos bombardeios e embates encarniçados na
costa, as forças aliadas conseguiram tomar as posições ocupadas e o
remanescente da tropa, cerca de mil combatentes japoneses, foi empurrado para o
interior da ilha.
Dispostos a não se entregarem, a estratégia japonesa,
nesse interim, era constituir uma linha de defesa, reagrupar e, com a chegada
de novo batalhão, reconquistar a base. Mas, flanqueados pela infantaria e sob
constantes investidas da Royal Air Force, não sobrou alternativa aos soldados,
senão recuar para o interior pantanoso de Ramree, em direção ao denso manguezal
que cobria mais de 16 quilômetros de território.
Mas as semanas que se seguiram foram ainda mais
infernais para os soldados japoneses. Alguns deles acreditavam que
inadvertidamente haviam adentrado o Yomi, o mundo dos mortos na mitologia
japonesa, guardado por imensas bestas e de onde ninguém escapa.
O que se seguiria, certamente, poderia ser comparado a
isso. O pelotão, que corajosamente havia escolhido não se render aos
britânicos, caminhava diretamente para um destino horripilante.
Na madrugada de 19 de fevereiro, uma patrulha
britânica em ronda pelas margens pantanosas, ouviu vociferações de pânico,
terríveis gritos de agonia e disparos ininterruptos armas de fogo vindos da
imensidão escura e sinistra do manguezal. Posteriormente, o naturalista Bruce
Stanley Wright, um dos soldados em serviço naquela noite, incluiria relatos assustadores
da carnificina em seu livro "Wildlife Sketches, Near and Far”.
“Aquela noite foi horrível para as tropas que estavam
posicionadas na borda do pântano e ouviram tudo. Alguns homens tiveram de ser
dispensados da patrulha por não suportar os gritos que vinham lá de dentro. Os
crocodilos atraídos pelo som da batalha e pelo cheiro de sangue convergiram aos
milhares para o interior da ilha usando os mananciais rasos para se esconder e
atacar de surpresa.”
Inimigo animal
Atacados por crocodilos de água salgada, o maior
espécime réptil existente no planeta, os japoneses tentavam voltar na direção
da base perdida, mas logo encontraram uma massa intransponível daqueles
monstros nos charcos alagados – alguns com mais de 5 metros de comprimento.
A fuzilaria não dissuadia os crocodilos. O cheiro de
pólvora se espalhando pelo ar e todo aquele sangue diluído no pântano parecia
convocar mais demônios para o banquete. No livro de Wright, consta uma
tenebrosa peculiaridade desses répteis, “o crocodilo de água salgada continua
atacando mesmo que tenha obtido carne suficiente para se fartar”.
Quando o dia amanheceu, abutres circulavam o local
onde os cadáveres destroçados de centenas de soldados japoneses boiavam nas
águas rasas e estagnadas. Alguns relatos, incluindo o de Wright mencionam que
apenas 20 soldados japoneses sobreviveram para alcançar a margem do pântano e
se entregarem aos britânicos.
Tal são esses relatos que, em 1968, o episódio chegou
a ser considerado pelo Guiness Book of Records como “O Maior número de vítimas
humanas num mesmo ataque de animais”.
Contudo, em 2016, a National Geographic descobriu
algumas novas evidências sobre o ocorrido, que levantaram dúvidas sobre a
extensão das mortes, levando a direção do Guinness Book a reabrir o registro
para investigação.
E embora o registro não tenha sido listado no Guinness
nos anos seguintes como o de maior número de vítimas, o relato passou a constar
do editorial “Nazi Weird War Two”, onde os eventos angustiantes do ataque são
apresentados ao lado de outros recordes relacionados a crocodilos.
Fonte: AH
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