Aqueles tempos definitivamente não foram fáceis para o
soberano: passou seus dias finais vivendo o luto e batalhas. E os finalizou decaído e doente, longe de
qualquer glória. Para completar, seu coração foi separado do resto do corpo —
uma vontade fúnebre e inusitada do monarca. Mas, afinal, por que ele teve esse
desejo?
Vamos começar contextualizando os últimos dias do
monarca. D. Pedro I teve que deixar tudo para trás e se mudar para a Europa em
7 de abril de 1831, em uma longa viagem, na companhia da segunda esposa, Dona
Amélia.
Novamente, não encontrou grande apoio dos europeus,
mesmo após tentar encontrar aliados na França e no Reino Unido. Como resultado,
reivindicou seu título de Duque de Bragança — nome para o qual nem se quer era
mais herdeiro direto.
Após o nascimento da filha dele, D. Maria Amélia,
Pedro se viu tendo que deixar a esposa e a criança para lutar na Guerra Civil
Portuguesa, em 1832. Foi um baque, mas ele teve que superar. Em 9 de julho,
entrou na cidade do Porto e liderou um grupo liberal.
Por estar em inferioridade numérica, o exército do
ex-imperador não tinha grandes vantagens. Tudo piorou em 1833, quando ele ficou
sabendo que sua filha, Paula (fruto de sua relação com Maria Leopoldina),
estava prestes a morrer. No meio da guerra, infelizmente, o luto não teve
espaço.
Sem muitos sucessos, D.Pedro I teve que assinar uma
aliança com exércitos espanhóis e, depois, um tratado de paz em 26 de maio de
1834. Entretanto, nessa altura, a guerra já havia o minado demais. Sua saúde
decaiu e, com imunidade baixa, o líder político contraiu tuberculose. Morreu em
decorrência da doença em 1834.
O que poucos sabem é que D.Pedro I deixou em seu
testamento, logo antes de morrer, que queria que seu coração permanecesse na
cidade do Porto. E essa vontade final tinha total relação com a Guerra Civil
Portuguesa que tanto o desgastou.
Foi justamente em Porto que o português viveu por 13
meses (de julho de 1832 a agosto de 1833). E lá foi o palco da disputa que ele
teve com seu irmão Dom Miguel I, travada no conflito. Então, essa ligação
afetiva entre seus últimos dias e o cenário bélico geraram em Pedro o desejo de
deixar uma parte dele, que estava ligada à cidade portuguesa — literalmente, o
seu coração.
Em 1972, as demais partes dos restos mortais de
D.Pedro I foram levadas ao Brasil, e estão no bairro do Ipiranga, em São Paulo.
Mais precisamente, na cripta do Monumento à Independência.
Já o órgão que bombeia o sangue, como sabemos, está
bem mais longe: repousa dentro de um recipiente de vidro, na Igreja de Nossa
Senhora da Lapa, em Porto. Curiosamente, a água do vidro é trocada uma vez a
cada década pela prefeitura local.
Não dá para dizer que o coração está guardado a sete
chaves, pois são, na verdade, cinco — a primeira abre uma placa de metal; a
segunda e a terceira movimentam uma rede; a quarta, mexe uma urna; e a quinta,
desloca uma caixa de madeira.
É curioso lembrar que, em vida, a Imperatriz Leopoldina, Dona Amélia ou a amante Domitila de Castro podem ter até tido as chaves para o coração de Dom Pedro. Mas em termos biológicos, e não de afeto, os responsáveis agora são tecnicamente os seis funcionários que realizam o processo de abertura para a manutenção do órgão.
Fonte: AH
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