Era fevereiro de 2014, época das manifestações dos
20 centavos, que depois ganharam outras proporções, tomando o país. O
jornalista carioca não viveria para ver esse depois, todavia. Isso porque um
rojão jogado por um dos manifestantes acabou atingindo sua cabeça, colocando-o
imediatamente em estado grave.
Ele foi socorrido por colegas de profissão e um membro
da Cruz Vermelha que
estava próximo do local, sendo levado para o hospital às pressas. Apesar dos
esforços dos médicos, infelizmente, não havia muito que desse para fazer por
ele.
Santiago sofreu afundamento do crânio e
perdeu parte da orelha esquerda. Quatro dias após o protesto em que foi atingido,
morreu no hospital, cercado por sua família.
O jornalista fez trabalhos de grande relevância ao
longo de sua carreira. Alguns exemplos são sua cobertura dos Jogos
Pan-americanos de 2007, o massacre de Realengo em 2011 e o Rio+20 (uma
conferência da ONU que discutiu sustentabilidade) em 2013.
Também ganhou dois prêmios jornalísticos por uma
reportagem tratando dos problemas de mobilidade urbana enfrentados pelos
usuários de transporte público do Rio de Janeiro.
A mídia de todo o país reagiu em solidariedade à morte
do carioca, dessa forma fazendo com que o caso ganhasse grande cobertura.
O Jornal Nacional, por exemplo, da emissora Globo, homenageou o cinegrafista no
fim de uma de suas edições.
“Não é só a imprensa que está de luto com a morte do
nosso colega da TV Bandeirantes Santiago Andrade. É a sociedade. A Rede
Globo se solidariza com a família de Santiago, lamenta a sua morte, e se junta
a todos que exigem que os culpados sejam identificados, exemplarmente punidos.
E que a polícia investigue se, por trás da violência, existe algo mais do que a
pura irracionalidade", leu William Bonner.
Em seguida, o telão do jornal mostrou a foto de Santiago,
sob o som dos aplausos da redação.
Na época, também ocorreram protestos de jornalistas,
exigindo, por exemplo, mais segurança para cinegrafistas que precisassem sair
às ruas durante manifestações. Isso porque se o carioca contasse com
equipamentos de proteção adequados, como por exemplo um capacete, o rojão
provavelmente não seria fatal.
A própria Dilma Roussef, na época presidente do
Brasil, manifestou-se a respeito da trágica morte, dizendo que: “Não é
admissível que os protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem
respeito por vidas humanas. A liberdade de manifestação é um princípio fundamental
da democracia e jamais pode ser usada para matar, ferir, agredir e ameaçar
vidas humanas, nem depredar patrimônio público ou privado".
As imagens da manifestação gravadas pelo próprio
jornalista e outros colegas ajudaram a encontrar os possíveis culpados pelo
lançamento do rojão. Fabio Raposo e Caio Silva de Souza foram acusados por
homicídio doloso (em que não há intenção de matar), sendo que o primeiro foi
responsável por levar o rojão, e o segundo por acendê-lo.
Até a primeira metade de 2020, embora já fizessem seis
anos do crime, o julgamento dos dois ainda não havia ocorrido.
A filha de Santiago, também jornalista, publicou um
emocionante relato em seu Facebook em homenagem ao pai: “Meu nome é Vanessa
Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai. Quando decidi ser jornalista,
aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e
muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então
pode!”
“Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu
e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos,
pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da
minha mãe e dos meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois,
pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se
despediu.”, contou ela.
Fonte: AH
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