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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

CANETA QUE SANGRA: HÁ SEIS ANOS, ACONTECIA O MASSACRE DO CHARLIE HEBDO

 

Na França, humoristas, cartunistas e civis têm o direito de satirizar a religião de terceiros. Dessa forma, por mais que a intolerância religiosa seja proibida, algumas publicações e figuras do país começaram a usar esse formato satírico em suas produções.

Criada em 1969, a revista semanal Charlie Hebdo é uma das mais conhecidas nesse setor. Contando com irônicas caricaturas, piadas, artigos e até alguns quadrinhos, a publicação irreverente, de certa forma, é uma das mais estridentes da França.

O desaforo era um dos tons mais utilizados pela redação da revista. E foi exatamente essa ousadia que transformou a Charlie Hebdo em um alvo para a Al-Qaeda. Com os redatores e cartunistas na mira, a publicação foi atacada há exatos seis anos.

No dia 7 de janeiro de 2015, às 11h30 da manhã, a sede da revista foi invadida por dois pistoleiros. Stéphane Charbonnier, ou Charb, como era conhecido, estava começando mais um dia de sua rotina como editor-chefe da revista, cargo que ocupava desde 2009.

Conhecido por suas charges, ele não esperava que as sátiras seriam o motivo de sua morte. Acontece que, após tantos anos de caricaturas e piadas sobre líderes islâmicos, incluindo Maomé, os grupos extremistas se cansaram da heresia da Charlie Hebdo. 

Para MichaelJ.Morell, o ex-vice-diretor do CIA, ficou mais do que claro que a motivação dos pistoleiros, naquela triste manhã, era "tentar fechar uma organização de mídia que satirizava o profeta Maomé".

Naquela manhã, os irmãos Saïd e Chérif Kouachi estavam armados até os dentes com fuzis, uma espingarda e um lança-granadas. Vestidos de preto, os dois foram até a sede da revista e exigiram que a cartunista Corinne Rey abrisse a porta do prédio.

Encapuzados e falando um francês perfeito, os dois invadiram o prédio, subiram até o segundo andar e abriram fogo, enquanto gritavam "Allahu Akbar" — em tradução livre, “Deus é maior”. Naquela hora, 15 pessoas estavam em uma reunião editorial.

No total, em 10 ou 15 minutos de ataque, os irmãos Kouachi mataram 12 pessoas e feriram outras 11, sendo que duas das vítimas fatais eram policiais. Segundo testemunhas, eles procuravam seus alvos pelo nome, antes de atirar em suas cabeças.

Durante o massacre, os assassinos identificaram-se como membros da Al-Qaeda no Iêmen e, com frieza, escolheram as vítimas. A jornalista Sigolène Vinson, por exemplo, viu o cano da arma apontado para sua cabeça, mas sobreviveu por ser mulher.

Entre as 12 vítimas fatais do atentado, estavam os cartunistas Jean Cabut (Cabu), Philippe Honoré, Bernard Velhac (Tignous) e Georges Wolinski. Adicionado na lista dos mais procurados pela Al-Qaeda em 2013, Charb também não conseguiu escapar.

Ao final do ataque, quando corpos e escombros dividiam o mesmo espaço, os irmãos Kouachi foram embora. "Vingamos o profeta Maomé. Matamos Charlie Hebdo!", gritaram, antes de fugir dirigindo até o metrô de Paris, onde trocaram de veículo.

Poucos momentos após o trágico ataque, a polícia parisiense se mobilizou para encontrar os responsáveis. Durante a procura, os investigadores encontraram a cédula de identidade de um dos suspeitos dentro de um carro abandonado.

Mais tarde, sete pessoas ligadas aos irmãos foram colocadas sob custódia e um veículo abastecido com bandeiras jihadistas e coquetéis molotov foi encontrado. No total, cerca de 88 mil oficiais de toda a França foram mobilizados para a busca.

Foi apenas no início da manhã do dia 9 de janeiro, no entanto, que os policiais puderam descansar. Ao investigarem um tiroteio no nordeste de Paris, os oficiais encontraram os irmãos Kouachi, só que eles tinham reféns em mãos.

Rapidamente, a polícia formou um cerco em Dammartin-en-Goële, que durou entre oito e nove horas. Após tentativas de negociação, muitos tiros e algumas explosões, Saïd e Chérif Kouachi se expuseram ao tiroteio e acabaram fatalmente atingidos.

O impacto do ataque se espalhou pelo mundo. Pessoas em dezenas de países demonstraram solidariedade pelas famílias atingidas. No Brasil, a então presidente Dilma Rousseff lamentou o ocorrido através de sua conta no Twitter.

De repente, a frase "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie", em português) tomou conta da internet e protestos se espalharam pela França. Ao redor do mundo, a justiça por Charlie Hebdo também se tornou sinônimo da busca pela liberdade de expressão.

Fonte: AH


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