Na França, humoristas, cartunistas e civis têm o
direito de satirizar a religião de terceiros. Dessa forma, por mais que a
intolerância religiosa seja proibida, algumas publicações e figuras do país
começaram a usar esse formato satírico em suas produções.
Criada em 1969, a revista semanal Charlie Hebdo é
uma das mais conhecidas nesse setor. Contando com irônicas caricaturas, piadas,
artigos e até alguns quadrinhos, a publicação irreverente, de certa forma, é
uma das mais estridentes da França.
O desaforo era um dos tons mais utilizados pela
redação da revista. E foi exatamente essa ousadia que transformou a Charlie
Hebdo em um alvo para a Al-Qaeda. Com os redatores
e cartunistas na mira, a publicação foi atacada há exatos seis anos.
No dia 7 de janeiro de 2015, às 11h30 da manhã, a sede
da revista foi invadida por dois pistoleiros. Stéphane Charbonnier, ou Charb, como
era conhecido, estava começando mais um dia de sua rotina como editor-chefe da
revista, cargo que ocupava desde 2009.
Conhecido por suas charges, ele não esperava que as
sátiras seriam o motivo de sua morte. Acontece que, após tantos anos de
caricaturas e piadas sobre líderes islâmicos, incluindo Maomé, os
grupos extremistas se cansaram da heresia da Charlie Hebdo.
Para MichaelJ.Morell, o ex-vice-diretor do
CIA, ficou mais do que claro que a motivação dos pistoleiros, naquela triste
manhã, era "tentar fechar uma organização de mídia que satirizava o
profeta Maomé".
Naquela manhã, os irmãos Saïd e Chérif
Kouachi estavam armados até os dentes com fuzis, uma espingarda e um
lança-granadas. Vestidos de preto, os dois foram até a sede da revista e
exigiram que a cartunista Corinne Rey abrisse a porta do prédio.
Encapuzados e falando um francês perfeito, os dois
invadiram o prédio, subiram até o segundo andar e abriram fogo, enquanto gritavam
"Allahu Akbar" — em tradução livre, “Deus é maior”. Naquela hora, 15
pessoas estavam em uma reunião editorial.
No total, em 10 ou 15 minutos de ataque, os
irmãos Kouachi mataram 12 pessoas e feriram outras 11, sendo que duas
das vítimas fatais eram policiais. Segundo testemunhas, eles procuravam seus
alvos pelo nome, antes de atirar em suas cabeças.
Durante o massacre, os assassinos identificaram-se
como membros da Al-Qaeda no Iêmen e, com frieza, escolheram as vítimas. A
jornalista Sigolène Vinson, por exemplo, viu o cano da arma apontado
para sua cabeça, mas sobreviveu por ser mulher.
Entre as 12 vítimas fatais do atentado, estavam os
cartunistas Jean Cabut (Cabu), Philippe Honoré, Bernard Velhac (Tignous)
e Georges Wolinski. Adicionado na lista dos mais procurados pela
Al-Qaeda em 2013, Charb também não conseguiu escapar.
Ao final do ataque, quando corpos e escombros dividiam
o mesmo espaço, os irmãos Kouachi foram embora. "Vingamos o
profeta Maomé. Matamos Charlie Hebdo!", gritaram, antes de fugir
dirigindo até o metrô de Paris, onde trocaram de veículo.
Poucos momentos após o trágico ataque, a polícia
parisiense se mobilizou para encontrar os responsáveis. Durante a procura, os
investigadores encontraram a cédula de identidade de um dos suspeitos dentro de
um carro abandonado.
Mais tarde, sete pessoas ligadas aos irmãos foram colocadas sob custódia e
um veículo abastecido com bandeiras jihadistas e coquetéis molotov foi
encontrado. No total, cerca de 88 mil oficiais de toda a França foram
mobilizados para a busca.
Foi apenas no início da manhã do dia 9 de janeiro, no
entanto, que os policiais puderam descansar. Ao investigarem um tiroteio no
nordeste de Paris, os oficiais encontraram os irmãos Kouachi, só que
eles tinham reféns em mãos.
Rapidamente, a polícia formou um cerco em
Dammartin-en-Goële, que durou entre oito e nove horas. Após tentativas de
negociação, muitos tiros e algumas explosões, Saïd e Chérif
Kouachi se expuseram ao tiroteio e acabaram fatalmente atingidos.
O impacto do ataque se espalhou pelo mundo. Pessoas em
dezenas de países demonstraram solidariedade pelas famílias atingidas. No
Brasil, a então presidente Dilma Rousseff lamentou o ocorrido através
de sua conta no Twitter.
De repente, a frase "Je suis Charlie"
("Eu sou Charlie", em português) tomou conta da internet e protestos
se espalharam pela França. Ao redor do mundo, a justiça por Charlie Hebdo
também se tornou sinônimo da busca pela liberdade de expressão.
Fonte: AH
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