Histórias sobre a saga do maior cangaceiro do
nordeste foram contadas aos montes e continuam sendo expostas por pessoas que
afirmam saber algo curioso sobre Lampião e seu bando. Ao longo dos
anos, muitas narrativas foram contadas por diversas pessoas, algumas que podem
ser verdadeiras, mas outras até mesmo malucas.
Uma história peculiar foi contada por Zé Paraíba,
nome artístico de José Salete, um famoso sanfoneiro na região do Brasil em
questão que morreu em junho de 2019. Conforme divulgado pela Folha de S. Paulo
em 2017, no ano de 17 de novembro de 1977, ele relatou um período peculiar de
sua vida ao então jornal Notícias Populares. Segundo Zé Paraíba, ele foi
sanfoneiro do maior bandido do sertão.
Durante o ápice do cangaço, Lampião e seus homens faziam longas jornadas, abrigando-se em fazendas no sertão. Eles se hospedavam em inúmeros lugares, sendo um deles a fazenda Lage Vermelha, no sertão da Paraíba, de acordo com o sanfoneiro. O que havia de especial na residência?
Ela era do "Meu pai, José Leite, tocava oito baixos (sanfona) na fazenda Lage Vermelha, e eu segui o seu caminho. Foi nela que o velho conheceu Lampião. O Virgulino costumava passar na fazenda do meu pai, que era uma das mais conhecidas do sertão paraibano e ali se 'arranchava', pedia pousada constantemente”, contou.
Como as viagens eram constantes, o cangaceiro sempre
passava pela região e ficava na casa da família Leite. Paraíba afirmou:
“com o tempo foi nascendo uma amizade entre meu pai e o rei do cangaço."
Não somente Lampião, mas muitos
do bando também ficavam no local. Ele conta que Maria Bonita, Dadá e
até mesmo Corisco passaram por lá.
Até que tudo isso mudou. Segundo o sanfoneiro, ele foi
sequestrado pelo grupo e viveu um episódio, no mínimo, peculiar. Na época, aos
nove anos de idade, ele estava em uma fazenda vizinha da de seu pai, enquanto
tocava uma pequena sanfona, que chamou a atenção do cangaceiro.
"Os cabras gostaram das músicas de forró que eu
tocava e me raptaram. No começo do rapto eles me maltrataram um pouco porque
não sabiam que eu era filho de José Leite. Depois que Lampião ficou
sabendo quem eu era ele recomendou aos cabras que não me maltratassem e mandou
avisar o meu pai na fazenda", contou.
A partir do sequestro, Zé Paraíba conta que
tornou-se o sanfoneiro ‘oficial’ de Lampião. Ele gostava do modo como ele
tocava, além das músicas, e o menino chegou até mesmo a tocar canções
exclusivamente para Maria Bonita.
O jovem ficou seis meses no total com o bando,
conforme explicado por ele. Durante todo esse tempo, porém, viveu episódios
muito curiosos, narrando ao jornal Notícias Populares um deles. Segundo Salete,
Lampião fez uma cidade inteira ficar sem roupas enquanto dançava na praça
às suas canções.
O evento aconteceu no pequeno povoado de Queimados,
localizado no sertão baiano. O bando estava ficando em uma fazenda próxima da
região, e o cangaceiro mandou
uma mensagem aos habitantes dizendo que iria entrar na cidade na manhã do dia
seguinte. Um aviso aos policiais.
Mas quando ele chegou lá, só havia seis soldados. Foi
então muito fácil dominar o povoado, que logo se rendeu e fez tudo que o
bandido pediu. Zé Paraíba afirma que Lampião fez um pedido
peculiar: ele ordenou que pessoas dançassem nuas na principal praça da cidade.
E elas o fizeram.
Tudo isso enquanto o sanfoneiro tocava forró para que
eles pudessem fazer o que tinha sido pedido. Os homens do cangaceiro apenas
observavam, com as armas prontas para qualquer reviravolta. Segundo ele, isso
aconteceu por ao menos três horas e, ao fim de tudo, o Rei do Cangaço mandou
que eles colocassem as roupas de volta e fossem para suas casas.
Depois dos seis meses com o mais importante bando do
cangaço, o sanfoneiro foi devolvido à sua família. "Zé Leite, vou lhe
entregar seu filho, mas é com muita saudade que eu faço isso porque ele toca
muito bem e faz tudo o que a gente pede”, teria dito o cangaceiro para o pai de
Paraíba.
Fonte: AH
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