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segunda-feira, 16 de março de 2015

MEDO TODO MUNDO TEM

A história contada na crônica é verídica! Os nomes dos personagens foram modificados para preservá-los do riso público.

MEDO TODO MUNDO TEM
         Carlos Machado
Dona Maria da Santidade, parteira de mais de cem crianças, dois dentes na frente e dona de uma alegria esbanjadora, no auge dos seus 94 anos, foi acometida de uma séria doença. Não disseram direito, mas parece que era câncer. Depois de vários meses de tratamento e diversas internações em hospitais de Teresina, a idosa não resistiu, morreu numa sexta-feira e foi enterrada no sábado, pela manhã.
Apesar da idade já avançada, Dona Maria era muito estimada, não só pelos familiares, mais pelos vizinhos e amigos. Com fama de boa pagadora, até os vendedores de outras cidades, os conhecidos camelôs- aqueles que vendem de porta em porta- faziam questão de vender para Dona Maria, tais as boas informações que recebiam. E assim, no dia do vencimento das parcelas era mão na roda.
Passados alguns dias da morte de Dona Maria da Santidade apareceu um cobrador das bandas de Alagoas que tinha vendido uma rede para a aposentada. Parou a motocicleta em frente à casa, e gritou:- Dona Maria... Dona Maria! E nada de resposta.
Ao lado da casa da falecida morava a filha Francisca Santa-nada a ver com santidade da mãe- já que não gostava de quitar seus débitos com facilidade dando sempre um trabalhinho para o cobrador. Ao ouvir os gritos do homem lá fora, mostrou a cara na janela e com ar de poucos amigos disse de forma aborrecida: - o que é? O quê é?
Nesse ínterim aparece na porta da casa o genro de Francisca Santa, Otovaldo-Valdo como gostava de ser chamado-, que pergunta: - é cobrador? No que o rapaz disse que sim e que veio receber uma parcela da rede comprada pela Senhora da casa, que estava com a porta fechada.
E Otovaldo de forma melancólica, disse: - tá difícil de receber! E o alagoano com ar sisudo, perguntou:- Por quê? E, emendou:- Pelo que estou sabendo a Dona Maria não deixa de cumprir com suas obrigações. No que, Otovaldo, respondeu:- dessa vez não vai, não!
Mas, o cobrador desconfiado, novamente, perguntou: por que não vou receber, Senhor?
-Ela se mudou, disse Otovaldo.
- Mudou pra onde, Senhor?
-Para o Itapirema! Ela está morando lá, agora!
- E onde fica o Itapirema, Senhor? Pode me dar o endereço?
-Posso! O Senhor já viu aquele cemitério na entrada da cidade?
- Cemitério? E ela morreu? Perguntou, de forma incrédula, o cobrador.
- Sim! Ela morreu! Respondeu Otovaldo.
 O cobrador com ar taciturno, disse:- pois, eu quero levar a rede!
Ao ouvir a solicitação, dona Maria Santa, saiu da janela e foi buscar a rede, trazendo-a enrolada.
Ao receber, o cobrador começou a embalar, na garupa da motocicleta, a peça junto a outros objetos recebidos por falta de pagamento.
Quando Otovaldo na observância da cena, disse: O Senhor sabia que a véia morreu dentro dessa rede?
- Como? Gritou- assombrado- o cobrador! Morreu dentro dela?
-Sim, dentro dela!
De posse dessa informação, imediatamente, devolveu a rede, montou na motocicleta e saiu em desabalada carreira, totalmente, desnorteado com a notícia.

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