CRÔNICA DO DOMINGO
MINHA QUERIDA, MINHA AMIGA: DONA CECÍLIA
Lázaro Albuquerque Matos
Antigamente, quando se queria dar crédito a um dito, invocava-se
isso como o império da verdade: “Juro por Deus e por Nossa Senhora de Fátima”.
Para não ficar nenhuma dúvida, afirmava-se, ainda, como consagração da verdade:
“Eu quero cegar dos dois olhos”. Dito isso, a verdade impera, sem margens para
mentiras. Vou colocar-me hoje, nesta crônica, diante de tudo isso para
descrever o estado de pureza de Dona Cecília Freires, pela felicidade de sua
longevidade: 99 anos.
Sem invocar, em juramento, o Santo Nome de Deus em vão e o de Nossa Senhora de
Fátima, digo que Dona Cecília não é uma santa santificada pelo Papa. Mas
afirmo, sem medo de ficar cego, que Dona Cecília é uma santa em pessoa, de
carne e osso, santificada por todos, em Duque Bacelar. Sem invocar, em
juramento, o Santo Nome de Deus em vão e o de Nossa Senhora de Fátima, digo que
Dona Cecília não é uma pérola negra e nem um diamante cor-de- rosa. Mas afirmo,
sem medo de ficar cego, que Dona Cecília é uma joia rara e pura, na cor que
Deus lhe deu. Dona Cecília tem o brilho da pérola, do diamante e do ouro
garimpados por ela ao longo de sua vida.
Para não dizerem que nunca escrevi sobre flores, estou escrevendo, hoje, sobre
uma rosa do passado e do presente do Duque Bacelar: Don Cecília. E vou repito
aqui, à exaustão, o “Dona” para Dona Cecília, por ser o tratamento que lhe cabe
por merecimento, em sua quase centenária vida , cheia do que há de bom na vida
de uma verdadeira DONA. Mas Dona Cecília nunca foi dona do “ter que ser” por
uma imposição de vida. Ela soube e sabe muito bem ser dona do esperar a vida
acontecer, como uma lição de vida, professorando vida, vida afora. Aprendamos a
viver com Dona Cecília, pois!
A cearense Cecília Freires fez-se Dona Cecília em Duque Bacelar. Um “Dona” de
invejar outras mulheres. Mas ela tem também um DOM de natureza: o dom da
elegância, da educação, da fineza, da polidez, e, acima de tudo, o dom da
sabedoria de transmitir autoestima para quem quer beirar os 100 anos cheio de
vida. Junto a isso, Dona Cecília vai deixar um patrimônio de virtudes morais
como herança para filhos, netos, bisnetos e trinetos.
Um baque só, apenas um; outro, de tamanha proporção, não conheço na longa vida
de Dona Cecília: um braço perdido do marido João Félix. Ele foi rodar a
manivela para a ignição de partida do motor de uma camionete do genro Joaquim
Torres. E a manivela, rodando sem parar, em grande pressão, quebrou e
estraçalhou um dos braços do marido de Dona Cecília. Isso foi um baque e tanto,
mas que Dona Cecília soube muito bem superar. E dele, tirou letra.
Lembro-me muito bem dos cabelos pretos de Dona Cecília. E com demoraram
embranquecer! O rosto sem rugas de Dona Cecília não me sai da lembrança. E como
ele demorou nessa posição! As pernas fortes de Dona Cecília não me deixavam sem
vê-la andando pelos quatro cantos de Duque Bacelar. E como elas resistiram,
movimentando Dona Cecília! Não saem da minha mente os olhos claros de Dona
Cecília, que não lhe deixavam sem visão das coisas boas da vida. E como o tempo
conservou suas retinas! Dos braços de Dona Cecília, nem se fala, pelo tempo que
eles abraçam as pessoas! Ah, e o coração de Dona Cecília? Esse, nem os médicos
sabem explicar porque bate há tanto tempo. Mas explico: por bondade, com
certeza!
Parafraseando Roberto Carlos, como empréstimo de sua música, digo a Dona
Cecília Freires:
Esses seus cabelos brancos, bonitos
Esse seu olhar cansado, profundo
Me ensinando tanto, do mundo
Esses passos lentos de agora
Já corram tanto na vida
Sua vida cheia de histórias
Essas rugas marcadas pelo tempo
Lembranças de antigas vitórias
Olhando seus cabelos tão bonitos,
Beijo suas mãos e digo
Minha querida, minha velha, minha amiga, Dona Cecília.
Foto de Renato Mizael.
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