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terça-feira, 30 de junho de 2020

ARCO DO SACRIFÍCIO: O IMPONENTE PORTÃO DO INFERNO DA ROMA ANTIGA

Durante todo o Império Romano, a religião era um dos assuntos mais sagrados, levado a sério por todos os líderes e pela população no geral. Naquela época, a espiritualidade tinha um papel fundamental e, assim, definia a sociedade e suas relações de poder.

Muito além dos sacerdotes e dos deuses, a religião romana também contava com ritual brutal, mas que, para eles, significava muita coisa: o sacrifício animal. Em tais cerimônias, as vítimas mortas tinham diversos de seus órgãos — como fígado, pulmão e coração — queimados em forma de oferenda.

Apesar de espiritual, é possível imaginar o quão sangrento e bagunçado era o ritual de sacrifício. Litros de sangue eram derramados e, de certa forma, os animais não eram mortos com piedade e dignidade — não que essa fosse a intenção.

Por esses e outros motivos, os sacerdotes de Hierápolis, na atual Turquia, agradeceram aos céus quando encontraram um portal que se dispunha a fazer o sacrifício por eles. Para muitas autoridades pagãs, no entanto, aquela era a verdadeira entrada do inferno.

 Corpo ou alma?

Logo na frente de uma pequena gruta, um imponente arco de pedra chamava atenção daqueles que caminhavam pelas ruas de Hierápolis. Silencioso e quase cruel, a construção ficava lá, encarando os moradores com um tom letal e despretensioso.

Em volta do enorme arco ficavam grandes arquibancadas que, segundo literaturas da época, eram usadas por fiéis que desejavam assistir aos sacrifícios à todo custo. O interesse pelo mórbido, afinal, era algo comum para a época da luta de gladiadores.

Foi exatamente naquele portal que, na frente de centenas de pares de olhos, os pobres animais — como vacas e bois — morriam magicamente, sem sofrimento aparente e sem uma gota de sangue. Bastava passar por baixo do arco de pedra. 

Um ritual misterioso

Para as muitas testemunhas dos sacrifícios, não era apenas a ausência de sangue que chocava. Sempre que um animal era enviado ao portal, ele era acompanhado por um sacerdote que também passava pelo arco, mas chegava ao outro lado são e salvo.

Com a nova forma de realizar o ritual, muito mais limpa e simples do que a anterior, o povo foi à loucura. Aquela, afinal, era uma demonstração vinda direto dos deuses, que diziam, com todas as letras, estar satisfeitos com os sacrifícios.

A cerimônia se seguiu assim por anos. Um sacerdote vinha, acompanhado por uma vaca saudável e passava com ela pelo portal. Quase instantaneamente, o animal caía no chão, já sem vida, enquanto o homem passava ileso pelas portas do inferno.

Investigador do passado

Em meados de 2011, desconfiado das histórias da época, o cientista Hardy Pfanz decidiu explorar o sítio arqueológico de Hierápolis. Na cidade antiga, percebeu que o terreno da gruta continuava funcionando até aquele momento. Isto é: caso um pássaro voasse por entre as pedras do arco, ele logo atingia o chão, inconsciente. 

Cada vez mais intrigado pela lenda que agora parecia verdade, Hardy, que é especialista em vulcões pela Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha, decidiu analisar o solo de Hierápolis. Assim, ele descobriu algo inusitado que explicava todas as teorias.

De forma geral, a antiga cidade romana fica localizada logo acima de uma área de intensa atividade geofísica. Assim, diretamente abaixo do arco, uma fenda no chão liberava porções constantes de dióxido de carbono (CO2). 

A ciência explica

Durante o dia, segundo o próprio especialista, o vazamento de CO2 acabava por se dispersar no ar, devido às altas temperaturas. À noite, no entanto, o gás tóxico formava uma camada letal de 40 centímetros de profundidade ao redor do portão.

Ao anoitecer, inclusive, a concentração da nuvem de CO2 chegava aos 35%. Assim, um pouco mais baixos que os humanos, os animais inalavam o gás impiedoso. Tontos pela intoxicação, então, eles mergulhavam o focinho na piscina letal e morriam em segundos.

Segundo Hardy, os sacerdotes romanos tinham total conhecimento das horas mais fatais do dia e usavam dessa sabedoria para sacrificar ainda mais animais. Para eles, no entanto, o CO2 era uma espécie de “hálito letal dos guardiões do inferno”.

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