O módulo lunar Eagle (Águia) está 1000 metros acima da
superfície e tem mais 5 minutos de combustível. Dentro da cabine, os
astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin estão às voltas com o alarme do
computador de bordo. Responsável por conduzir automaticamente a descida, a
máquina apita incessantemente, indicando sobrecarga.
Abaixo, a paisagem, que deveria ser uma planície, está
coalhada de elevações e crateras. Se àquela velocidade a nave tocar na borda de
uma delas ou posar de lado, a volta para casa estará comprometida. A 150 metros
de altitude, Armstrong desiste do piloto automático, desliga o computador e,
com os batimentos cardíacos ultrapassando os 150 por minuto, resolve conduzir o
módulo como se fosse um helicóptero.
O tempo previsto para o pouso era de 14 minutos. Em
Houston, Texas, na base da missão Apollo 11, os técnicos prendem a respiração.
Faltando 20 segundos para que o combustível dos foguetes de descida se esgote,
Armstrong anuncia: A Águia pousou.
Instantes depois, chega a resposta: "Ok,
recebemos sua mensagem. Vocês deixaram um punhado de rapazes quase azuis por
aqui. Estamos respirando de novo". Assim começava, em 20 de julho de 1969,
a primeira visita do homem à Lua.
Essa viagem começou oito anos antes, com um discurso
do presidente John Kennedy (1917-1963). O país estava às voltas com a guerra
fria e a União
Soviética liderava a corrida espacial quando Kennedy prometeu que os
Estados Unidos seriam os primeiros a enviar uma missão à Lua.
O Projeto Apollo chegou a 16 de julho de
1969 pronto para lançar o foguete mais poderoso construído até então. Na ponta
do Saturno V estavam a cápsula com o módulo de comando e serviço e o módulo
lunar. A bordo, Armstrong, Aldrin e Michael Collins. Às 9h32, horário da
Flórida, a Apolo 11 decolou do Centro Espacial Kennedy. Sentados sobre
toneladas de combustível, os três arrancaram a 28.800 quilômetros por hora.
Em 12 minutos, a Apollo 11 estava em condições de
orbitar. O desafio agora era aproveitar o movimento de rotação terrestre e o
disparo do terceiro estágio de motores para atingir 40 mil quilômetros por hora
e mergulhar no vácuo, percorrendo os 384 mil quilômetros que separavam a missão
de seu objetivo.
Não se tratava, contudo, de uma viagem em linha reta.
Os astronautas precisavam calcular aonde a Lua estaria em três dias, quando os
motores de desaceleração seriam ativados. Além disso, a velocidade inicial não
seria constante, uma vez que a gravidade da Terra roubaria energia da nave até
metade do caminho. Um erro nos cálculos e a Apollo poderia se chocar com o
satélite ou passar longe e se perder no espaço profundo.
Retorno ameaçado
Ao final do terceiro dia de viagem, os três foram
acordados pela base em Houston. A monotonia da travessia, só quebrada durante
as refeições com alimentos desidratados, seria substituída por momentos
perigosos. O primeiro passo era estabelecer uma órbita ao redor da Lua a uma
altitude de 112 quilômetros.
Feito isso, os astronautas se separariam. A bordo do
módulo de comando, Collins seguiria na posição inicial, enquanto Armstrong e
Aldrin deveriam descer pilotando o módulo lunar. Qualquer erro seria fatal.
De acordo com Jack Garman, o engenheiro que orientou
os astronautas a ignorar os alarmes do computador da Eagle durante a descida, a
capacidade do equipamento era comparável ao processador de um telefone celular
atual. Em Houston, o mainframe que ocupava um andar inteiro não era muito mais
eficiente que um laptop.
Isso talvez explique por que o módulo lunar foi parar
sobre uma formação rochosa, quando deveria sobrevoar o mar da Tranquilidade.
Mas esse não era o único problema que ameaçava o retorno. Testes prévios
indicavam que o motor de decolagem do módulo a partir da superfície lunar tinha
50% de chances de falhar.
Os riscos eram tão grandes que o presidente Richard
Nixon tinha um discurso pronto: "A fatalidade determinou que
aqueles homens que foram para a Lua explorá-la em paz permaneçam na Lua para
descansar em paz". Felizmente, a sorte e a perícia dos astronautas
determinaram que o pouso fosse bem-sucedido, e o dia 20 de julho de 1969, um
domingo, entrasse para a História.
Cinco horas e meia após a alunissagem, Armstrong abriu
a escotilha e desceu as escadas até tocar o solo
lunar. Na Terra, 700 mil telespectadores acompanhavam tudo, graças a uma
câmera instalada numa das pernas do módulo. Ao dar seu primeiro passo, o
ex-piloto de caças, que vira a morte de perto durante a Guerra da Coreia,
proferiu a famosa frase: "É um pequeno passo para um homem, um gigantesco
salto para a humanidade".
Diante da audiência planetária, ele se deslocava com
os 81,7 quilos do traje e da mochila como se fosse um menino. Na superfície
lunar, esse peso caía para 13,6 quilos, já que a gravidade ali equivale a um
sexto da terrestre. Quinze minutos depois, foi a vez de Aldrin se juntar a
Armstrong com uma frase curiosa.
"Magnífica desolação", disse, ao se deparar
com a vastidão granulada e cinzenta. Por duas horas, os dois recolheram 21
quilos de amostras do solo. Exaustos, voltaram ao módulo para dormir e preparar
o retorno. Após 22 horas na Lua, era hora de voltar para casa.
Nenhuma outra empreitada espacial superaria o encanto,
a emoção e o ímpeto quase irracionais que levaram os primeiros seres humanos a
pisar na superfície prateada de nosso satélite. Com eles, o espaço se
tornava verdadeiramente a última fronteira.
Fonte: RAH
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