O Egito Antigo é permeado de mistérios e por uma rica
herança cultural que vai muito além das esplendorosas pirâmides. O povo também
deixou um legado de invenções sofisticadas e um conhecimento biológico e medicinal que é compartilhado
até os dias atuais.
Um dos conhecimentos mais importantes e
impressionantes é sobre o desenvolvimento nas áreas de medicina e farmacologia.
Com base em papiros médicos de mais de 40 séculos atrás, o egiptólogo Warren R.
Dawson, da Universidade de Oxford, citou em seu livro, O Legado do Antigo,
alguns procedimentos médicos e remédios que são usados até os dias atuais, como
o óleo de rícino (extraído da mamona), ácido acetilsalicílico (princípio ativo
da aspirina), anestésicos e própolis para cicatrização.
Além disso, os papiros também mostram o processo de
cirurgias delicadas, o engessamento de membros que tiveram ossos quebrados e um
conhecimento avançado de todo o sistema circulatório do corpo humano.
Um dos métodos mais utilizados pelos egípcios era o da
mumificação, que consiste em uma série de processos (químicos e físicos) para a
preservação dos corpos. Esse procedimento resultaria na remoção cirúrgica de
alguns órgãos internos, que muitas vezes eram tratados e recolocados em seus
devidos lugares.
Isso permitiu que eles conhecessem o interior humano
de uma forma, até então, inédita. Um ótimo exemplo sobre isso pode ser visto no
corpo de Ramsés II, que teve suas veias e artérias retiradas, mumificadas e
recolocadas posteriormente.
Sabe-se também que naquela época já havia o hábito de
medir o batimento pelo pulso como um jeito de avaliar a saúde das pessoas. “O
batimento cardíaco deve ser medido no pulso ou na garganta”, dizia a escrita do
papiro Ebers, datado em 1550 a.C. e considerado um dos primeiros livros de
medicina do mundo.
Todas as descobertas eram documentadas nos chamados
papiros médicos, o que permitiu que o conhecimento fosse passado com exatidão.
Antes a comunicação egípcia era feita de forma oral e documentos com registros
eram raros.
Foi esse conhecimento sobre a circulação sanguínea que
fez com que isso se tornasse um costume e se perpetuasse até os dias atuais. Os
egípcios acreditavam que saiam veias do coração que o ligavam com os membros do
corpo — a veia da mão terminaria no dedo anular.
Com a crença de que o coração é o centro de tudo, e
também pelo fato dele estar ligeiramente deslocado para o lado esquerdo, os
casais passaram a usar fitas em seus dedos para simbolizar que o órgão estava
preso com a pessoa que ela amava. Posteriormente, essa fita foi trocada por um
aro de metal, que variava de acordo com a posse do casal.
Procedimentos cirúrgicos intracranianos
As primeiras descrições do processo de mumificação
indicaram que as pessoas tinham o cérebro retirado pelo nariz e descartado com
intestinos mortos. Entretanto, com o passar do tempo, os egípcios passaram a
relacionar o funcionamento do órgão com a parte de coordenação motora.
Existem papiros do século 15 a.C. com descrições
completas sobre esses procedimentos. Porém, somente no ano de 2001 que
especialistas conseguiram demonstrar casos de crânios que foram abertos
cirurgicamente e apresentavam indícios de cicatrização. Isso nos permite
acreditar que o paciente possa ter sobrevivido à operação — e, inclusive, não
ter sentido dor alguma.
Uso de anestésicos
O professor Mário Curtis Giordani, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (URFJ), relatou na obra História da Antiguidade
Oriental, o processo que os egípcios usavam para o adormecimento de partes do
corpo. Segundo Giordani, eles utilizavam uma mistura de pó de mármore e
vinagre.
Outro método que se tem conhecimento é o de
anestésicos feitos com base de opiáceos, derivados do ópio, que eram ingeridos.
Considerados os antecessores da morfina, esses procedimentos só voltaram a
serem usados três séculos atrás, na Europa.
Amputação de membros, cauterização e outras técnicas
Os egípcios dominavam tão bem técnicas avançadas que
não era incomum o uso de amputação de membros, cauterização e até mesmo o uso
de pontos para fechar incisões. Inclusive, é provável que os egípcios foram
pioneiros ao utilizar a técnica.
Assim como nos dias atuais, no Egito Antigo também
existia especialização médica. Quem tratava de fraturas não se misturava com os
que mexiam com os problemas de pele e vice-versa.
Essa especialização incluía o tratamento odontológico.
Naquela época, dentistas já utilizavam brocas, faziam próteses e drenavam
abcessos. Entretanto, ao contrário do que muitos imaginam, os tratamentos
médicos não eram de uso exclusivo de uma classe mais rica. Trabalhadores
braçais tinham direito de receber um tipo de plano de saúde.
Isso se confirma com as escavações que foram feitas na
Cidade dos Trabalhadores. Múmias de 4.500 anos mostram que muitas dessas
pessoas receberam tratamento médico. Zahi Hawas, diretor do Conselho Supremo de
Antiguidade do Egito, afirma que: “Alguns corpos apresentavam marcas de
fraturas consolidadas, membros amputados e até cirurgias cerebrais. [...] Eram
pessoas comuns que se curaram e voltaram ao trabalho”.
Métodos contraceptivos
Outro avanço que chamou muito a atenção foram os
métodos contraceptivos estudados pelos egípcios. A maioria deles consistia no
uso de emplastros espermicidas na vagina, cujo efeito tente a diminuir a
mobilidade do espermatozoide.
Já quando havia a suspeita de gravidez, testes com urina eram feitos. Geralmente, a mulher urinava
em um recipiente com uma quantidade variada de cevada. Caso houvesse uma
germinação, ficaria constatada a gravidez. Apesar do método ser contestado nos
dias atuais, é notável essa associação entre a composição da urina e a
gravidez.
Fonte: AH
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