Em discurso de abertura da 75ª Assembleia Geral da
ONU, Jair Bolsonaro afirmou, por meio de vídeo gravado, que o Brasil foi
"vítima" de uma campanha de desinformação contra
o governo a respeito das queimadas na Amazônia e no Pantanal.
Segundo palavras dele, pela grande umidade da floresta
amazônica, ela só pegaria fogo 'nos cantos', negando os acontecimentos
divulgados pela mídia sobre a gravidade das queimadas.
"Nossa floresta é úmida e não permite a
propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente nos
mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam
seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas",
indagou o presidente brasileiro.
O ambientalista Antonio Oviedo, assessor do Instituto
Sócio-Ambiental (ISA), ONG presente na Amazônia há 25 anos, explicou ao G1 que a
floresta, apesar de permanecer úmida em algumas regiões, já perdeu parte de
suas particularidades originais por conta do desmatamento e da construção de
estradas no local. Desse modo, a Amazônia teria se tornado mais propensa a não
aguentar grandes incêndios.
"Ela é úmida em áreas como no interior do Rio
Solimões ou no alto do Rio Negro, onde não tem muitas estradas, mas mesmo lá o
fogo já tem entrado, por conta do desmatamento. Quando se fragmenta a floresta
em blocos, vem o efeito de borda. Quanto mais bordas tiver, mais seca fica, e
facilita a entrada do fogo”, afirmou Oviedo.
A respeito de quem iniciou as queimadas, dados de satélite monitorados pela Nasa mostraram
que 54% dos focos de incêndio na
Floresta Amazônica em 2020 foram iniciados por conta do desmatamento.
Além disso, uma pesquisa lançada no mês passado pela
revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, também se
opõe às falas do presidente a respeito dos indígenas serem os responsáveis
pelas queimadas. De acordo com o estudo divulgado, o
desflorestamento do bioma foi considerado menor em áreas indígenas, por conta
da proteção dessas terras por parte de seus residentes, que necessitam dos
frutos do bioma para sobrevivência.
“Esse aumento não vem dos indígenas. Quando
usam o fogo, eles colocam numa área muito pequena, só mesmo para poderem fazer
a agricultura”, contou o bispo Dom Wilmar Santin em entrevista ao G1 no ano
passado. Ele ainda afirmou com clareza que as terras indígenas do Pará vêm
sendo constantemente atacadas pelo garimpo e pelo desmatamento.
O pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Paulo e presidente do Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas, Carlos Nobre, também se posicionou sobre o caso em entrevista à BBC
News Brasil.
Ele afirma que a maioria dos incêndios na Amazônia não
ocorre em áreas já desmatadas e não
é provocado por caboclos e índios no objetivo de aumentar suas roças de
agricultura. Ele impõe a autoria das queimadas à expansão do agronegócio na
região, que apesar dessas ações serem crime ambiental, os garimpeiros,
madeireiros e empresários não são julgados pela justiça, e seus crimes são
ocultados pelo governo federal.
"É o famoso e tradicional processo de expansão da
área de agropecuária. E quase tudo, acima de 80% dessa expansão, é feita por
grandes propriedades, não é o pequeno agricultor ou o caboclo ou a roça
indígena. O pequeno agricultor e o caboclo usam fogo, todos usam, mas o número
de área queimada pela pequena agricultura é relativamente pequeno, A grande
maioria é área queimada pela expansão de grandes propriedades", disse
Nobre em entrevista.
Fonte: AH
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