A NASA pretende voltar à órbita lunar a partir de
2024, através do Programa Artêmis. Uma das pesquisas principais do programa é
voltar para o espaço para recuperar artefatos deixados por lá durante as
missões Apollo.
Sabe-se que, além de deixarem pegadas na superfície,
os astronautas também fizeram suas necessidades na Lua, e agora, cerca de 50 anos depois, eles deverão voltar para buscar 96 sacos
de excrementos, com o objetivo de descobrir se algo ainda está vivo nos dejetos.
As fezes humanas são compostas de quase 50% de
bactérias, resultando num espaço de ecossistema explorável, podendo existir ali
milhares de espécies de micróbios intestinais. Esse lixo
humano deixado na Lua durante
todo esse tempo pode ser útil para descobrir o quão invulnerável é a vida no
espaço lunar, e essa foi a proposta de deixar sacos de excrementos no local.
O Programa Apollo da NASA direcionou seis missões tripuladas bem sucedidas
para a Lua, onde um total de 12 pessoas puderam caminhar sobre sua superfície.
Uma de suas preocupações foi o fato de precisarem arranjar um jeito para que os
astronautas pudessem aliviar suas necessidades fisiológicas.
A solução veio em dois projetos: primeiro foi feito o
desenvolvimento de uma sacola plástica que se acoplava nas nádegas dos
exploradores enquanto estavam dentro das naves espaciais, que conseguia
capturar as fezes sem que ela entrasse em contato com o ambiente.
Já em situações onde eles estavam em órbita, livres no
espaço, a empresa americana desenvolveu uma "vestimenta de máxima absorção
para contenção fecal", como uma espécie de fralda para adultos, e parece
que foi desse jeito que eles deixaram sacos com resíduos humanos ali.
O cientista Charlie Duke, da Apollo 16, missão
ocorrida no ano de 1972, confirmou que deixou resíduos para trás e ainda deu
sua justificativa, dizendo que ele e sua tripulação acreditavam que o lixo
desapareceria pela ação da radiação solar.
As chances de que algum micróbio ou bactéria ainda
esteja nos sacos de excrementos é pequena. Diversas razões dificultam essa esperança
da ciência: primeiro por que a Lua não possui campo magnético contra a radiação
cósmica, não existe camada de ozônio para absorver os raios solares, e o vácuo
lunar impõe improbabilidades para a vida.
Além disso, a Lua também apresenta intensas mudanças
de temperatura, que podem variar entre 100 graus Celsius de dia e -173 ºC à
noite. A falta de umidade também é um fator importante, já que as bactérias não
conseguem se replicar nessas condições, por isso as bolsas com os excrementos
deveriam permanecer úmidas durante todos esses anos, os sacos teriam que estar
intactos até hoje.
Andrew Schuerger, cientista de vida espacial da
Universidade da Flórida e coautor de um artigo sobre micróbios sobreviventes na
Lua, afirma que há uma "pequena probabilidade" de que alguma bactéria
tenha sobrevivido. Margaret Race, bióloga do Instituto SETI, também concorda
com a possibilidade, "os micróbios não precisam ter muita proteção",
disse, "Nós ainda não temos uma definição de vida que diga 'nunca pode ir
além dessa temperatura, além dessa salinidade, além desse nível ácido'. Toda
vez que olhamos lugares [na Terra], encontramos a vida",
No entanto, a visão do cientista da NASA Mark Lupisella, nos dá esperança. Ele afirma que
mesmo que os sacos de resíduos deixados pelos astronautas não tenha sido
suficiente para deixar as bactérias ali vivas, o estudo segue válido, pois a
ciência ainda pode usar as evidências mortas para descobrir quanto tempo os
micróbios conseguiram viver na Lua, se eles evoluíram ou se adaptaram ao
ambiente, além da possibilidade de ressuscitar alguns deles.
"A vida simples pode se espalhar pelo cosmos ou
precisa esperar bilhões de anos até que existam espécies tecnológicas para
espalhá-la? Essa é apenas uma de muitas questões científicas importantes que
tentaremos responder quando voltarmos à Lua", disse o cientista planetário
Phil Metzger.
Fonte: AH
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