No dia 2 de outubro de 1992, o Massacre do
Carandiru entrava para a
história como um dos episódios mais chocantes do Brasil. Uma ação da Polícia
Militar após uma rebelião que acontecia na Casa de Detenção foi a responsável
por tal tragédia. Acredita-se que pelo menos 111 detentos foram assassinados
por policiais naquele dia.
Sob os cuidados de Ramos de Azevedo, o Carandiru foi
projetado inicialmente para abrigar 2 mil presos. No entanto, na década de 90,
a criminalidade na cidade teve um aumento repentino, o que levou à superlotação do local. No mesmo período, foi considerado o
maior presídio da América Latina, abrigando mais de 8 mil detentos.
As condições desumanas em que os eles vivam dentro da
prisão culminaram no terrível massacre — rebeliões, estupros, extorsões,
mortes, agressões e fugas de sucesso marcaram a história do Carandiru.
Estima-se ainda que este episódio tenha feito mais vítimas do que as
autoridades divulgaram.
"Foi uma carnificina aquele dia, eu comparo o que aconteceu com Auschwitz, Camboja e outras tragédias que eu via só em filme ou livro”, afirmou o ex-detento Sidney Sales, que tinha 24 anos quando a chacina aconteceu, em entrevista ao El País.
“Da forma como fomos surpreendidos pela tropa,
qualquer um entrava em pânico. Um helicóptero da polícia deu um rasante
atirando sem dó, aí desistimos e voltamos pra dentro. Não tenho mais pesadelos,
mas traz uma revolta lembrar disso tudo né? Quem sobreviveu fica revoltado”,
confessou o sobrevivente. “Eu sou desacreditado do Estado até hoje”, conclui.
Muitos dos presos foram mortos de maneira instantânea,
com tiros certeiros. Mas outros tiveram que lidar com agressões por com
cassetetes e coronhadas vindas dos policiais que adentraram a prisão com a
intenção de matar.
O único elevador do Carandiru, localizado no pavilhão, também se tornou instrumento
de assassinato para os agentes do Estado. De acordo com Sales, “os policiais
abriram as portas, e de cada 10 presos que passavam eles empurravam dois ou
três no fosso. Imagina, uma queda de cinco andares”.
Alguns dos detentos, depois da chacina, ainda tiveram
que ajudar os policiais a coletarem os corpos dos mortos. Eles tiveram de
carregar pessoas mortas, algumas ainda sofrendo devido aos ferimentos e outras
claramente vivas para o pátio, onde seriam levados por carros do Instituto
Médico Legal.
O depoimento do sobrevivente Sidney
Sales também ajuda a entender mais sobre isso. “Um preso pegava os braços
e outro as pernas. Carreguei uns 25 corpos. Descíamos eles dos andares e
amontoávamos no pátio. A gente tentava ignorar esses gritos dos que ainda
viviam. Colocávamos presos mortos em cima deles pra ver se paravam de gemer”,
lembra.
O massacre, além de causar a o assassinato de ao menos
111 detentos, também foi responsável por proliferar doenças que já eram causa
de muitas mortes dentro do local. O derramamento de sangue intensificou essa
disseminação.
Com as execuções, muito sangue foi espalhado pelo chão
do Carandiru. O vírus da aids, o HIV, era muito comum entre os
presos, e, com o líquido vermelho sendo derramado pelo local, muitos o
adquiriram com facilidade.
Estima-se que este episódio tenha feito ainda mais
vítimas do que as autoridades divulgaram. Em 2002, durante o governo de Geraldo
Alckmin, iniciou-se o processo de desativação do Carandiru. Atualmente, o local
abriga instituições educacionais e de cultura, como o Parque da Juventude e a
Biblioteca de São Paulo.
Fonte: AH
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