Tido como o herói do mocambo — sinônimo moderno
utilizada para os quilombos —, ele ainda ganhou o apelido de Zumbi, o senhor da guerra. Filho de negros,
o menino, que chamava Francisco, nasceu livre, mas foi escravizado aos seis
anos.
Quando adulto, o jovem foi inserido em um acordo com o
qual ele não concordava. Indignado com a liderança do Quilombo dos Palmares,
que já existia desde a década de 1580, Francisco assumiu o posto, tornando-se o Zumbi, aos 23 anos.
No total, Zumbi liderou o mocambo durante 17
anos. Dessa posição, o jovem ganhou tanta influência que, hoje em dia, é
considerado um símbolo da resistência negra, segundo a Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo.
“O Zumbi representa simbolicamente uma voz,
uma força, que se levanta em um sistema escravista e colonial”, explica a
ficcionista Carla Caruso, autora do livro Zumbi: O último herói dos Palmares.
“Ele lutou para manter esse sistema fora do sistema”.
Na opinião da escritora, que produziu o livro ficcional
inspirado na luta de Zumbi, tudo que ele queria era dar continuidade à
hegemonia do quilombo. Ainda assim, é importante ressaltar que Francisco “nunca
lutou pela libertação dos escravos”, por mais que ele tenha se tornado o
símbolo “de uma luta por autonomia, pelo ser livre”.
Pai de três filhos, Francisco era casado com Dandara,
uma das maiores guerreiras negras do período colonial. Embora fosse, de fato,
um símbolo, no entanto, Zumbi não fugiu dos boatos e das conspirações
que o perseguiram no futuro.
Como toda figura histórica, então, Zumbi dos
Palmares tornou-se um personagem chave do Brasil. Da mesma forma, ele
passou a ter seu nome envolvido em algumas polêmicas — fossem elas embasadas em
documentos, ou não.
Foi assim que nasceu a ideia, por exemplo, de que
Zumbi nunca foi o verdadeiro herói dos Palmares, mas sim Ganga-Zumba. Junto
dessa, outra teoria diz que, seguindo as tradições coloniais, Zumbi tinha
seus próprios escravos.
Para a autora, então, a teoria de que Zumbi teria
escravizado outras pessoas é bastante complexa. Mas tudo começa pela ideia de
que “o sistema da época era escravista, então muitos escravos libertos começavam
a ter seus próprios escravos”. Contudo, não é possível afirmar, a
partir de documentos históricos, por exemplo, que Zumbi tinha seus
próprios escravos.
“É sabido que na Angola, por exemplo, e em muitos
outros sistemas africanos, as pessoas pagavam suas dívidas com filhos ou
sobrinhos, que iam trabalhar de escravos”, esclarece Carla. “Então o sistema da
escravidão, essa troca, essa forma de trabalho, existia em algumas regiões da
África.”
Ainda assim, na opinião da autora, é importante ressaltar
que existem diferenças entre os sistemas escravistas. “Uma coisa é o
sistema escravista, outra foram os brancos, as grandes potências, terem usado
essa característica cultural para arrastar um contingente de pessoas e
escravizá-las em outro país.”
Zumbi acabou sofrendo como o líder de qualquer
movimento. Perseguido pelos supremacistas da época, foi morto no dia 20 de
novembro de 1695 — e Dandara, por sua vez, cometeu suicídio.
Era o fim de um movimento, de uma voz pulsante e de um
homem que lutava por seus ideais. Como o representante que era, Zumbi também
morreu nas mãos de homens que colocaram seus restos em exposição, como se sua
morte fosse um aviso.
Séculos mais tarde, a Lei 12.519, instaurada em 2011,
declarou que o dia da morte de Francisco seria o Dia Nacional de Zumbi e
da Consciência Negra. Foi assim que uma voz se tornou movimento, se tornou
punhos erguidos na esperança por igualdade.
Fonte: AH
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