Há quase três mil anos uma menininha cantora deixou
faraós e membros da realeza egípcia encantados. Ela fazia parte do coro real e
se apresentava nos templos religiosos de Amon-Rá, o rei dos deuses, que
existiram ao longo do rio Nilo. Cantando e tocando instrumentos da época, como
sistrum (uma espécie de chocalho), harpa ou “badalo” de osso, a menina alcançou
tanto prestígio que mereceu ser enterrada em um sarcófago, honraria destinada
apenas à elite real. Hoje, com o uso de novas tecnologias, especialistas estão
desvendando segredos e refazendo histórias de múmias, como as da pequena
cantora Tjayasetimu, que viveu no Egito por volta de 900 aC.
O sarcófago com os restos mortais de Tjayasetimu foi
submetido a um estudo sofisticado realizado em um hospital de Manchester, na
Inglaterra. Os registros obtidos por meio de tomografia computadorizada e
exames de raios-X foram analisados por um software a partir do qual foram
criadas imagens tridimensionais que revelaram o que estava oculto. Sob as
ataduras que envolviam o corpo de Tjayasetimu, os especialistas descobriram um
corpo bem preservado de uma menina que teria entre 7 e 9 anos de idade, com
cabelos na altura dos ombros e um rosto em boas condições. Descobriam também
dentes permanentes que não tinham irrompido, alojados no interior das arcadas.
Professor-adjunto do Departamento de Antropologia e
Arqueologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do
Projeto Bape (Brazilian Archaeological Program in Egypt), José Roberto Pellini
é um entusiasta da aplicação das novas tecnologias ao estudo das múmias
conhecidas desde os séculos 18 e 19, como o caso da menina cantora. “Mostram um
pouco mais do cotidiano do Egito antigo no final do Novo Império e nos dão um
pouco do vislumbre de como essa categoria muito específica de cantoras e
cantores eram representados”, disse Pellini. “Eles estão bem representados nas
tumbas, em imagens de cenas de banquetes e em outros contextos.”
A morte prematura de Tjayasetimu, segundo os
especialistas, pode ter ocorrido por uma doença de curta duração como a cólera,
porque o corpo estava bem preservado, sem traumas ósseos nem fraturas. Mas o
que confirmou a importância da menina cantora na corte egípcia foram o acurado
processo de mumificação e o sarcófago. O corpo estava envolto em bandagens
pintadas e o seu rosto coberto por um véu delicado, sob uma máscara de ouro. A
cantora mirim foi colocada em um sarcófago dourado, embora de um tamanho maior
do que ela, que tinha cerca de um metro de altura. Hieróglifos e pinturas no
sarcófago revelam que ela era “cantora do interior” no templo do deus Amon-Rá.
Segundo Pellini, casos como o de Tjayasetimu comprovam que o trabalho de
“repesquisa” feita nos antigos sarcófagos, múmias e documentos, a partir de
novas tecnologias e novas abordagens, trazem novos dados e completam a
história.
Fonte: IstoRevista É
Nenhum comentário:
Postar um comentário