Sem ter muita certeza de sua idade, uma pequena menina
de cabelos castanhos olhava para o topo das árvores e sentia o acolhimento da
densa floresta que a cercava. Seus pezinhos estavam descalços e ela podia
sentir a grama gelada entre os dedos.
O som da selva colombiana a envolvia, enquanto a
criança tentava recuperar memórias, quaisquer que fossem, de sua família. Jovem
demais, ela mal sabia falar e não se lembrava do nome da aldeia onde morava.
Aos poucos, o rosto de seus pais foram desaparecendo
de sua consciência e a menininha passou a encontrar familiaridade em outro
lugar. Acolhida por um bando de macacos-prego, foi assim que Marina Chapman
alega ter vivido durante cinco anos.
Perdida na selva
Natural da Colômbia, agora aos 70 anos, Marina conta
sobre seus anos em uma floresta misteriosa à qualquer um que pergunte.
Orgulhosa de seu passado selvagem, ela conta que nasceu em 1950 e que foi tirada de sua
família quando ainda era muito pequena.
Uma de suas memórias mais vívidas diz respeito ao dia
de seu sequestro. Ela lembra de estar brincando em seu jardim, na Colômbia,
quando dois homens agarraram seus braços e a carregaram até o centro de uma
floresta, para abandoná-la, sozinha.
Assustada e sem qualquer amparo, Marina afirma que foi
acolhida por um grupo de pequenos macacos-prego, que cuidaram dela durante
cinco anos. Assim, da mesma forma que Mogli ou Tarzan, ela foi criada pelos primatas.
Conforme o tempo passava, a menina foi perdendo as
maneiras humanas, esqueceu-se do espanhol e passou a viver de sons, expressões
faciais e puro instinto. O sentimento em relação aos macacos, todavia, era
sempre de carinho e compaixão.
Botas na mata
Marina conta que, quando já estava entrosada demais
com os macacos para sequer lembrar que era uma humana, algo aconteceu. Um grupo
de caçadores entrou na floresta, encontrou a menina e a arrancou da vida
na selva.
O que parecia um resgate, no entanto, logo se tornou
mais um episódio emblemático da vida da menina, que já tinha 10 anos. Ela conta
que, assim que retornou ao mundo dos humanos, foi vendida para um bordel em
Cúcuta, uma cidade da Colômbia.
A fim de escapar das garras da instituição, Marina
passou a morar nas ruas e chegou a trabalhar como doméstica na casa de uma
família muito rica. Foi apenas aos 14 anos que ela encontrou alguém que estava
verdadeiramente disposto a ajudar.
Uma grande virada
Enquanto ainda trabalhava na casa da família — que ela
acreditava ser formada por mafiosos —, Marina foi adotada pela filha de uma das
vizinhas. Acolhida pela mulher, a criança, então, mudou-se para Bogotá.
Algum tempo mais tarde, aos 27 anos, Marina foi
enviada para Bradford, na Inglaterra, ao lado de seus irmãos adotivos, em
meados de 1977. Na nova cidade, conheceu um cientista chamado John, com quem se
casou e teve duas filhas.
Foi uma das filhas de que Marina, inclusive, quem a
convenceu a escrever sua biografia — The girl with no name, ou A garota sem
nome, em português. A obra, no entanto, foi rejeitada por diversos editores,
que imaginavam não ser autêntica.
Exames e testes
Durante a idade adulta, Marina foi submetida à
diversos testes que buscavam atestar sua história. Para Carlos Conde, professor
na Colômbia, os fatos contados pela mulher são 100% verdadeiros.
Quando fez um teste de detector de mentiras, por
exemplo, Marina demonstrou um afeto semelhante tanto pelos macacos-prego,
quanto por sua família humana. Resultados estes que, segundo os especialistas,
são impossíveis de falsificar.
Christopher French, professor de psicologia da
Universidade de Londres, no entanto, duvida da versão dos fatos contados por
Marina. Para o especialista, a mulher pode ter diversas memórias afetadas por
falsas lembranças.
Independentemente dos resultados, Marina afirma que
deseja voltar para a Colômbia e rastrear sua família biológica. Mais forte que
essa vontade, no entanto, é o sonho de reencontrar os macacos com quem viveu e
descobrir se eles ainda lembram dela.
Fonte: Aventuras na História
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