Em 15 de novembro, o país relembra os 131 anos
da Proclamação da República.
Além da instauração do presidencialismo, com Marechal Deodoro da Fonseca sendo
o primeiro presidente do país, a data também marca quando os membros da Família Imperial brasileira seguiram
para o exílio na França e no Império Austro-húngaro.
Quando a proclamação foi declarada, Dom Pedro II,
que deixou de ser imperador do Brasil, estava na Cidade Imperial. Foi em solo
carioca, inclusive, que ele recebeu um telegrama informando a queda da Monarquia no
país.
Manifestando seu descontentamento, Pedro II chegou
a escrever uma carta, que foi destinada ao Governo Provisório, em 16 de
novembro. No documento, ele também deseja prosperidade ao Brasil.
Confira:
"A vista da representação que me foi entregue
hoje, às três horas da tarde, resolvo, cedendo ao império das circunstâncias,
partir com a minha família para a Europa, amanhã, deixando assim a pátria, de
nós estremecida, à qual me esforcei por dar constante testemunhos de entranhado
amor e dedicação durante meio século que desempenhei o cargo de Chefe do
Estado. Na ausência, eu, com todas as pessoas da minha família, conservarei do
Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo ardentes votos, por sua grandeza e
prosperidade".
A carta foi endereçada a Deodoro, do qual recebeu
a seguinte resposta: “...o Governo Provisório espera do vosso patriotismo o
sacrifício de deixardes o território brasileiro, com a vossa família, no mais
breve termo possível. Para esse fim se vos estabelece o prazo máximo de vinte e
quatro horas, que contamos não tentareis exceder”.
Maurício Vicente Ferreira Júnior, historiador e direto
do Museu Imperial, localizado em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, disse
que antes de receber a resposta do Marechal, Pedro II fez uma anotação
demonstrando seu desejo de ficar por aqui. “Os documentos mostram que ele queria
permanecer no Brasil”, explica.
Em outro documento ele diz: "Até hoje de manhã
esperava poder me conservar em paz no país que tanto amo. Infelizmente, desde
poucas horas, acho-me sob o peso da profunda mágoa de ver-me privado da
liberdade, que nunca neguei a nenhum brasileiro...". No próprio dia 15,
ele chegou a escrever um poema em seu diário discorrendo sobre o momento
político do país (o trecho pode ser visto na imagem acima).
Apesar dos seus desejos, Dom Pedro II, sua
esposa Teresa Cristina, junto de Isabel, seu esposo D. Gastão e
os filhos D. Pedro de Alcântara, D. Luís e D. Antônio
Gastão, além de Pedro Augusto, filho mais velho da falecida Leopoldina,
partiram até o cruzador Parnaíba e, de lá, foram até a enseada de Abraão, na
região de Angra dos Reis, quando se dirigiram até o vapor Alagoas — que os
traria para a Europa.
O trajeto de volta até o velho continente durou 20
longos dias. No primeiro deles, Maria Amanda, chamada
de Amandinha no círculo imperial, esposa de Franklin Américode
Meneses Dória, barão de Loreto, que acompanharam, por vontade própria, o
imperador durante o exílio, relatou em seu diário como foi o percurso. “O mar
estava um pouco agitado e, temendo enjoo, que me é inevitável, fui entrincheirar-me
no beliche, onde me deitei com vivas saudades e lembranças de origens
diversas”.
Pelos escritos da baronesa, é possível notar o
sentimento de conformidade entre a família real. Quando discutiam política na
embarcação, por exemplo, a palavra mais dita entre eles era “saudade”. Para
tentar esquecer o que passou, Pedro II criou o hábito de rodas
noturnas de leitura.
No novo capítulo, era possível notar a família
imperial com traços de simplicidade. Sem desfrutar de banquetes ou festas. Um
dos únicos momentos requintados ocorreu em 2 de dezembro, aniversário de Pedro
II. Naquele dia, uma garrafa de champanhe foi aberta em uma celebração. “Brindo
à prosperidade do Brasil”, declarou ou imperador ao erguer a
taça.
Apesar de Dom Pedro II não se importar com a
sofisticação, segundo os relatos da baronesa, muitos de seus costumes não
mudaram, como a generosidade. Em uma escala na ilha de São Vicente, em Cabo
Verde, por exemplo, ele fez uma generosa doação a um padre local para que ele
distribuísse aos pobres.
Apesar disso, um dos pontos que mais chamou a atenção
na viagem foi o comportamento estranho de Pedro Augusto, neto mais velho
do imperador, que desde seu nascimento estava sendo preparado para assumir o
trono. O jovem, entretanto, tinha tendências paranoicas e sofreu surtos
psicóticos durante a viagem.
Amandinha, assim como todos que estavam na embarcação,
atribuíram os surtos de Pedro Augusto à movimentação do
navio. “Todas essas manobras só têm servido para assustar o príncipe dom
Pedro Augusto, que, desde ontem, sofre de superexcitação nervosa, se
acha possuído de pânico e pensa que estamos todos perdidos e não chegaremos a
Lisboa. O seu estado é lastimável”, narra.
A chegada a Lisboa, no dia 7 de dezembro, porém, não
foi uma das mais prósperas para a família imperial. Três semanas depois, dia
28, a imperatriz Teresa Cristina pereceu devido a um infarto. Segundo
a baronesa, a fatalidade foi culpa da República. “Desde que saiu do
Brasil, ela mostrava-se impressionada pelos horrorosos acontecimentos tão
sabidos. Eles, sem dúvida, concorreram para a sua morte”.
A constatação é corroborada com as palavras ditas pela
própria imperatriz em seu leito de morte. “Não morro de doença. Morro de dor e
de desgosto". "Sinto a ausência das minhas filhas e de meus netos.
Não posso abençoar pela última vez o Brasil, terra linda ... não posso lá
voltar".
A despedida de Teresa Cristina, inclusive, foi o
momento mais marcante descrito pela baronesa. Apesar das amantes que
teve, Pedro II tinha uma intensa relação com a imperatriz. Sua morte
lhe causou profunda tristeza.
“Antes de soldar-se a urna, o imperador quis
despedir-se da imperatriz e mandou chamar a todos nós para fazermos também
nossas despedidas”, escreveu Amandinha. “Não se pode descrever a dor dos
príncipes e a nossa. Beijamos-lhe a mão e choramos copiosamente sobre o seu
corpo sem vida”.
Conhecido por ser discreto, Dom Pedro II não
conseguiu segurar suas emoções, chorando copiosamente. “Ele abraçou a sua muito
amada esposa soluçando e foi logo retirado dali pelo Mota Maia [médico
da família]. A princesa beijou sua santa mãe repetidas vezes; o mesmo fizeram
os príncipes, e nós beijamos a mão de nossa imperatriz, que fora sempre tão boa
e carinhosa”.
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