Facilitadora do dia-a-dia, a internet se
tornou um instrumento cada vez mais necessário no nosso cotidiano. Seja para
planejamento pessoal ou até mesmo para manter um relacionamento social, a
tecnologia transformou nosso jeito de pensar, agir, se comunicar e até mesmo de
existir como ser.
Se antes as coisas eram muito mais físicas, hoje o
mundo está, literalmente, na palma de nossas mãos. Nas telas de nossos
smartphones, por exemplo, podemos tanto saber o que está acontecendo do outro
lado do mundo, como tudo que ocorre com nossos pais, filhos e
amigos...
Mas será que essa facilidade é tão libertadora assim?
Será que a distância causada pela alienação do celular nos fez perder nossa
essência como pessoas? E nossa educação, sabemos realmente tudo o acreditamos
saber ou vivemos com uma falsa sensação de conhecimento?
O neurocientista Fabiano de Abreu Rodrigues,
pioneiro em estudos sobre a relação da mente humana com a internet, explica
que, apesar da comodidade, nosso organismo não está preparado para essa
facilidade. “Foram milhares de anos para desenvolvermos um cérebro para um
determinado nível intelectual e em décadas estamos mudando esta evolução para
algo mais simplificado”.
“Até 1970 nossa sociedade estava se desenvolvendo e
aprendendo bem com os erros do passado, em 1980 vivíamos um bom momento em
termos de sociedade e pensamentos”, diz. “Havia uma evolução intelectual mais
racional e diante disto, mais humilde. Hoje os efeitos do mau uso da internet
estão a potencializar todos os defeitos que advém do nosso instinto primitivo,
resultando assim em uma regressão, não igual a dos tempos mais remotos, já que
as facilidades nos tornam piores”.
Para Fabiano, apesar da internet nos proporcionar
uma quantidade infinita de informações, somente uma minoria das pessoas sabe
coordenar seu tempo para melhor usá-la. Com isso, muitos usuários possuem
apenas uma ‘falsa sensação’ de sabedoria, baseada na facilidade que elas têm
para buscar as notícias, mas isso não significa absorvê-las.
“Uma grande parte não busca o conhecimento, apenas
interpreta o título e já define o contexto sem ler por completo um artigo na
imprensa, por exemplo”, explica. Isso faz, segundo ele, muitos viveram em uma
realidade abstrata.
Um dos fatores fundamentais para isso, de acordo o
neurocientista, é a economia de energia do cérebro. Por instinto, os seres
humanos economizam energia para armazenarem em seu cérebro memórias que
realmente sejam importantes e necessárias. Sendo assim, como temos o Google,
por exemplo, nos dando todas as informações que precisamos na hora que
queremos, acabamos não absorvendo essas informações.
“Há também a questão da mídia social que fez florescer
o narcisismo que há dentro de nós e o potencializou, tornou-o patológico”,
alerta Rodrigues. “É um poder abstrato por detrás de uma tela, onde se tem
a falsa sensação de poder. As publicações refletem-se em aplausos, em likes,
mesmo que desmerecidos de consciência. Quem os recebe vê nos números uma
condição de aceitação. A mídia social fez vir à tona a compensação da
insegurança de uma sociedade insatisfeita”.
Cientificamente falando, isso acontece devido a
liberação de dopamina, um neurotransmissor que desempenha importantes
papéis em nosso corpo e no cérebro. É ela que nos dá, por exemplo, as boas
sensações de recompensa, além de outras condições naturais para
sobrevivermos.
“A questão é que a dopamina é viciante, quando um
usuário de drogas tem abstinência por exemplo, é devido à falta dela”, diz Fabiano.
E é justamente isso, inclusive, que faz as pessoas cada vez mais viciadas em
internet.
“A cada like, comentário na rede social, cada
conquista no jogo, cada iPhone comprado, a dopamina é liberada em proporções de
acordo com a personalidade do indivíduo" afirma. Quanto mais liberada,
maior a ansiedade para que libere mais, tornando-se assim um ciclo de
dependência que leva ao estresse”.
A facilitadora internet é muito mais prejudicial do
que muitos imaginam. Com seu uso constante, nossos neurônios se tornam menos
capacitados, o que aumenta as chances de doenças na velhice, como a demência e
outros derivados. Sendo assim, não seria nenhum absurdo afirmar que a ‘internet
está deixando as pessoas mais burras’.
Discurso de ódio e Fake News
Como já apontado por Fabiano, as mídias sociais fizeram
florescer todo o narcisismo que existe nas pessoas. Esse fator, aliado à falta
de conhecimento e a razão abstrata faz com que a internet seja o palco de
comportamentos de estresse, ansiedade, solidão, egoísmo e, principalmente, o
distanciamento social uns dos outros.
Isso pode muito bem explicar as chamadas bolhas
sociais, onde nos tornamos presos muito mais a pessoas que concordam com nosso
pensamento e posicionamento, deixando de lado e menosprezando grupos que
discordem de nossas visões. O ego e o narcisismo fazem com que as pessoas sejam
cada vez menos politizadas e cada vez mais reis de suas próprias
barrigas.
Toda essa insatisfação pessoal e esse ar de
superioridade, contribui — e muito — para o aumento de discursos de ódio e
supremacistas nas redes sociais, segundo explica Fabiano. “Há um
inconsciente que cobra e não há um consciente que percebe. Fica então instalado
uma pendência indeterminada que causa revolta sem explicação consciente, que é
descontada. Este narcisismo resulta em revolta do sucesso do outro. Há então a
inveja, ou raiva do sucesso, ou até mesmo raiva de si e do mundo que resulta em
atos de descontar no outro ou em algo”.
Para o neurocientista, porém, ainda uma maneira de
rever todos esses malefícios. “Devemos nos educar, sabermos usar a internet,
controlar os horários e usá-la de forma que possa nos beneficiar e não prejudicar.
Tudo na vida tem que ser em equilíbrio, tudo que é demais não é bom. Precisamos
urgentemente delimitar horários não só em casa, não só dos filhos, da família,
mas também temos que ter leis que controlam isso, como há em outros países”,
conclui.
Fonte: AH
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