Texto de Lya Luft que foi reproduzido do Blog do Kenard.
Quando falo em excelência, não me refiro a ser o
melhor de todos, ideia que me parece arrogante e tola. Nada pior do que um
arrogante bobo, o tipo que chega a uma reunião, seja festa, seja trabalho, e já
começa achando todos os demais idiotas. Nada mais patético do que aquele que se
pensa ou se deseja sempre o primeirão da classe, da turma, do trabalho, do
bairro, do mundo, quem sabe? Talento e discrição fazem uma combinação ótima.
Então, excelência para mim significa tentar ser bom
no que se faz, e no que se é. Um ser humano decente, solidário, afetuoso,
respeitoso, digno, esperançoso sem ser tolo, idealista sem ser alienado,
produtivo sem ser viciado em trabalho. E, no trabalho, dar o melhor de si sem
sacrificar a vida, a família, a alegria, de que andamos tão carentes, embora os
trios elétricos desfilem e as baladas varem a madrugada.
Estamos carentes de excelência. A mediocridade
reina, assustadora, implacável e persistente. Autoridades, altos cargos,
líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos, lamentáveis.
Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas
universidades, que aos poucos — refiro-me às públicas — vão se tornando reduto
de pobreza intelectual.
As infelizes cotas, contra as quais tenho escrito e
às quais me oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançarmos este
objetivo: a mediocrizaçâo também do ensino superior. Alunos que não conseguem
raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha.
E, porque não sabem ler nem escrever direito e com
naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e
pobre. Professores que, mal pagos, mal estimulados, são mal preparados,
desanimados e exaustos ou desinteressados. Atenção: há para tudo isso grandes e
animadoras exceções, mas são exceções, tanto escolas quanto alunos e mestres. O
quadro geral é entristecedor.
E as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam
ter acesso ao ensino superior por mérito, porque o governo lhes tivesse dado
uma ótima escola pública e bolsas excelentes: não porque, sendo incapazes e
despreparados, precisassem desse empurrão. Meu conceito serve para cotas
raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem
deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade, porque teve
ótimos 1º e 2° graus em escola pública e ou bolsas que o ampararam.
Além do mais, as bolsas por raça ou cor são
altamente discriminatórias: ou teriam de ser dadas a filhos de imigrantes
japoneses, alemães, italianos, que todos sofreram grandemente chegando aqui, e
muitos continuam precisando de esforços inauditos para mandar um filho à
universidade.
Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as
coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o trabalho, zelo, esforço,
busca de mérito, uso de sua própria capacidade e talento, já entre as crianças.
O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os pequenos aprender
brincando.