A certa altura de A Vida de Brian (1979), dirigido
por Terry Jones, cujo protagonista nasceu na manjedoura ao lado da
de Jesus, uma multidão acorre a uma praça. É
uma espécie de feirão de profetas, que esperam em fila para anunciar suas
qualidades. O cenário religioso da época na Galileia era algo parecido,
tirando, claro, o humor britânico do filme.
A região era um cadinho de seitas e crenças. Os judeus
estavam lá, mas também havia a influência do mitraísmo persa e de cultos
anímicos (sem contar os egípcios e seus deuses, ali pertinho). A invasão romana
catalisou pregadores que anunciavam o
apocalipse, que se misturavam a exorcistas e todo tipo de curandeiro. Conheça
alguns dos mais influentes.
1. Apolônio de tiana
Os relatos sobre Apolônio, que datam do século 3,
o apresentam como um grande filósofo e um dos profetas mais populares do século
1 - muito mais do que Jesus. Nascido por volta de 2 a.C., foi educado
segundo os princípios de Pitágoras. Aos 20 anos de idade, fez um juramento
de silêncio por 5 anos.
Depois, teria viajado até a Índia. Na volta, passou
por Roma e Grécia, onde foi recebido como mágico e curandeiro, capaz de
ressuscitar mortos. Construiu uma escola em Éfeso (Turquia), onde repassou seus
ensinamentos, incluindo uma dieta vegetariana, até morrer, em 98. Seus
discípulos continuaram ativos por pelo menos 150 anos.
2. Simão, o Mago
No livro bíblico dos Atos dos Apóstolos, Simão tenta
comprar dos discípulos de Jesus o poder de fazer milagres. Nos Atos de Pedro,
ele levita, até que Pedro reza para que ele caia no chão" sua
perna quebra em três lugares e ele morre em consequência dos ferimentos.
Tanta atenção em textos bíblicos indica que o profeta
era concorrente dos cristãos. Nascido na Samaria, pregou seus ensinamentos
desde o Egito até Roma, incluindo a Palestina, e deixou seguidores, os
simonianos, que só desapareceram no século 4. Para Simão, existiam duas
encarnações de Deus na Terra. Ele era uma delas e a outra era Helena, uma
prostituta com quem se casou.
3. Honi
Chamado traçador de círculos, por ter o hábito de
meditar desenhando na areia, Honi Ha-M'agel era considerado por
alguns rabinos o filho de Jeová enviado à Terra. Vivia isolado e
comia o menos possível. Em uma de
Na ocasião, teria discutido com Deus, dizendo que
só sairia do lugar se chovesse — e ainda reclamou da qualidade da chuva. O
Talmude, o livro sagrado judeu, diz que ele caiu em um longo sono de 70 anos e
depois despertou. Também era conhecido como grande estudioso. Como Jesus,
atribuía seus milagres à fé de quem os pedia.
4. João Batista
Primo de Jesus, de acordo com o Evangelho
de Lucas, foi quem o batizou, no rio Jordão. Como líder religioso, João preparava
seus discípulos para o fim do mundo. De acordo com o Novo Testamento, vestia
peles, comia mel e gafanhotos e era tratado como uma reencarnação do
profeta Elias.
Era muito mais popular do que Jesus. Nascido em 2
a.C., em uma aldeia nos arredores de Jerusalém, morreu no ano 27 a mando
de Herodes Antipas 1º (10 a.C. 44), governador da Judeia. Seus
discípulos eram numerosos e mantiveram uma religião por 3 séculos. A forma como João praticava
o batismo foi incorporada pelos discípulos de Jesus.
5. Jesus de Ananias
Jesus era um nome muito comum na Palestina da
época, tanto que, no ano 63, o sumo-sacerdote Jesus, filho de Damneu,
foi substituído por Jesus, filho de Gamaliel. O Jesus filho
de Ananias veio da zona rural e, em 62, circulou pelas ruas de
Jerusalém profetizando a destruição do templo (a profecia se cumpriria 8 anos
depois).
De acordo com o historiador Flávio Josefo, ele
repetia, aos gritos: "Uma voz do oriente, uma voz do ocidente, uma voz dos
4 ventos; uma voz contra Jerusalém e o santuário, uma voz contra o noivo e a
noiva, uma voz contra o povo!" Foi levado a julgamento, mas acabou
inocentado por ser considerado louco.
6. Banus
Eremita, viveu no deserto da Judeia em meados do
século I. Dormia ao ar livre, sem se proteger do frio ou dos animais, a quem
tratava com reverência. Vestia folhas e cascas de árvores e se banhava com água
gelada o tempo todo, cada banho era cheio de rituais complicados, que tinham o
objetivo de purificar corpo e alma na preparação para o fim do mundo.
Tinha um pequeno grupo de seguidores, a quem anunciava
que o apocalipse estava próximo e era preciso abandonar qualquer apego por
prazeres mundanos. Seus discípulos não eram bem organizados e acabaram se
dispersando depois que ele morreu.
7. Eleazar
O exorcista mais famoso da Palestina na 2ª metade do
século 1, chegou a retirar demônios de um grupo inteiro de pessoas na frente do
imperador Vespasiano (9-79). O ritual consistia em colocar, debaixo
do nariz do possuído, um anel recheado de raízes que teriam sido prescritas
pelo rei Salomão.
O cheiro forte levava a pessoa a espirrar várias vezes
e o espírito saía pelo nariz. Para dar impacto à cena, Eleazar colocava
uma bacia de metal cheia de água - ao ser expulsa, a entidade derrubava o
líquido e a bacia com grande estrondo. Seu diálogo com os demônios lembra as
frases de Jesus Cristo, um exorcista reconhecido.
8. Hanina ben dosa
Nasceu e viveu em Arava, a 19 km de Nazaré. Devoto da
fé judaica, rezava com tanta intensidade que, conta-se, certa vez não percebeu
que uma cobra venenosa havia mordido seu pé. Mas ele ficou bem e a cobra
morreu. Curiosamente, no Evangelho de Lucas, Jesus diz:
"Dei-lhes o poder de pisar em serpentes, e nada poderá lhes causar
danos".
Como o texto foi escrito entre o fim do século 1 e o
começo do 2, é possível que o autor tenha feito referência ao famoso
profeta. Hanina tinha fama de fazer chover, de curar pessoas a
distância e de fazer renascer árvores e animais. Viveu e morreu na miséria.
9. Enahem, o Essênio
Respeitado pela capacidade de fazer profecias,
encontrou Herodes e o saudou como o futuro rei dos judeus. Quando, de
fato, alcançou o cargo, Herodes (73 4 a.C.) transformou Menahem em
consultor. Viveu cercado por um pequeno grupo de seguidores, a quem ensinava a
arte de realizar profecias. Depois que Herodes morreu, tentou
conspirar contra os romanos.
Foi perseguido, julgado e crucificado. Seu corpo foi
jogado na rua. Para o historiador Israel Knohl, autor de The Messiah Before
Jesus (O Messias Antes de Jesus), Jesus conhecia bem a história
de Menahem e queria para si um destino parecido.
Fonte: AH
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