Piloto de uma das naus da primeira expedição de
reconhecimento do litoral brasileiro, Américo Vespúcio descreveu a
chegada ao Rio de Janeiro, no
primeiro dia do ano de 1502, como uma imagem “paradisíaca”.
O navegador italiano foi responsável por batizar a Baía
de Guanabara de “Rio de Janeiro”. Segundo registros históricos, ele foi o
primeiro europeu a ter contato com a paisagem carioca.
Entretanto, apesar desse vislumbre, a beleza carioca
logo se transformou num cenário de guerra quando os portugueses entraram em
conflito com os índios tamoios, que viviam espalhados em centenas de aldeias
formadas por cerca de 500 a 3.000 indígenas em cada uma.
Apesar de seus conhecimentos sobre a fauna e flora da
região, os nativos acabaram sendo dizimados. Os poucos que sobraram viram suas
terras se transformarem em uma cidade. O gigantesco e mortífero confronto ficou
conhecido como A Batalha de Uruçumirim, que foi iniciada em 20 de janeiro de
1567.
A cidade do Rio de Janeiro como conhecemos hoje, quiçá
nunca existiria — ao menos não com as mesmas características — se o conflito
não tivesse o desfecho que teve. Antes disso, em 1º de março de 1565, Estácio
de Sá, comandando 220 homens, havia fundado a atual cidade do Rio de Janeiro no
sopé do morro do Pão de Açúcar.
Porém, a dominação portuguesa só ocorreu quando o rei
de Portugal decidiu enviar reforços bélicos para a colônia dois anos depois.
Naquele 20 de janeiro, mais de duzentos homens chefiados pelo
governador-geral Mém de Sá e auxiliados por Arariboia — que
era o líder dos índios temiminós — chegaram para bater de frente com os
tamoios, comandados pelo cacique Aimberê e seu genro francês, Ernesto.
O combate aconteceu, como o próprio nome já supõe, em
Uruçumirim — onde hoje é compreendido as praias de Flamengo e da Glória. No
início do século 16, os índios do Gato (que depois ficaram conhecidos como
temiminós), residiam na Ilha de Paranapuã (atual Ilha do Governador). Porém,
como estavam cercados de todos os lados pelos tamioios, uma derrota parecia
cada vez mais eminente.
Diante desse cenário, o lider Maracajaguaçu pediu aos
portugueses para que os ajudassem a serem levados até o sul do Espírito Santo.
O apoio serviu para selar uma duradoura aliança e uma eterna rivalidade contra
franceses e tamoios.
Quando a Batalha estourou, em 1567, o terror na
Guanabara se estendeu até a Ilha de Paranapuã, durando 48 horas. Durante esse
período, os tamoios tiveram suas aldeias atacadas e queimadas, e também foram
alvejados com milhares de flechas e tiros de canhão.
Passado esse tempo, o reduto tamoio em terras cariocas
tinha ido abaixo. Como se não bastasse, Aimberê e Ernesto foram
mortos no conflito, assim como os chefes indígenas de Igaraçu e Pindobuçu.
Sem resistência de seu povo, eles tiveram suas cabeças
espetadas em estacas. Os poucos índios que sobreviveram do lado
perdedor fugiram e se estabeleceram na região serrana.
Apesar de saírem vitoriosos, os portugueses e
os temiminós também sofreram perdas importantes, como o
capitão-mor Estácio de Sá, que havia levado uma flechada na face.
Em primeiro momento, exatamente um mês depois, em 20
de fevereiro, ele veio a padecer em decorrência dos seus graves ferimentos, que
provavelmente causaram septicemia.
Além de pôr um fim nos tamoios, a Batalha de
Uruçumirim também serviu para jogar uma pá de cal nos projetos franceses de
criar um novo refúgio calvinista em terras tupiniquins, que havia sido
idealizada pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegagnon e
reforçada pelo Conde deColigny.
Um ano e meio depois a brutal Batalha de Uruçumirim
ser findada, o governador-geral do Brasil transferiu a sede da cidade para o
Morro do Castelo, local que ainda contou com a construção de um forte, onde
iniciou-se a povoação, em definitivo, do Rio de Janeiro.
O Morro permaneceu de pé até o início da República,
quando foi demolido para fomentar a imagem de ordem e progresso do primeiro
mundo e sepultar, de uma vez por todas, a memória do Brasil Colonial.
Fonte: AH
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