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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

UMA BREVE HISTÓRIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE COELHO NETO

 

Carlos Machado

É quase consensual que o Município de Coelho Neto originou-se a partir da instalação de currais, nas proximidades do Rio Parnaíba, que serviam de repouso para o gado oriundo dos Estados do Piauí e Ceará. A empreitada, árdua, durava meses e o destino, da maioria das viagens, era os longínquos Estados de Pernambuco, Bahia ou a região aurífera de Minas Gerais.

Ao tempo em que se erguiam currais, pequenos casebres eram construídos para descanso dos vaqueiros condutores das manadas. Hipoteticamente, os primeiros moradores, do que viria a ser o Sítio Curralinho, se instalaram nesse período. Cansados das estafantes viagens, paulatinamente, piauienses e cearenses foram largando a lida e fixando moradia no local. A região, rica em água, em vegetação para o alimento dos animais, terras férteis para a produção agrícola, árvores frutíferas, peixes e caças oferecia as condições ideais para se fazer morada.

Não foram localizados, até o momento, registros históricos que determine quem primeiro habitou as terras de Curralinho (ou uma data provável da fixação dos primeiros habitantes), embora sem vestígios ou prova documental alguns afirmem que foram os “Índios Pimenteiras”.

As terras pertencentes ao Sítio Curralinho foram designadas pelo rei de Portugal, D. João V (1706-1750) através de carta de sesmaria. As cartas de sesmarias eram documentos passados pelas autoridades para doar terras; nelas, os donatários ou governadores de províncias autorizavam ou não as doações. “Os registros de terras surgiram no Brasil logo após o estabelecimento das capitanias hereditárias, com as doações de sesmarias. Os documentos mais antigos das capitanias datam de 1534.” (Arquivo Público do Estado de São Paulo).

A primeira solicitação de sesmaria para a área que compreendia as terras do Sitio Curralinho foi feita pelo sesmeiro Paulo Vaz Freire, que na segunda tentativa conseguiu do governador da Província do Maranhão, João de Abreu Castelo Branco, a concessão de três léguas de terra (equivalente a 18 km). O termo de doação foi lavrado pelo secretário de Estado, José Gonçalves de Fonseca, em 9 de julho de 1738. A primeira tentativa de doação, frustrada, leva a entender que o sesmeiro já residia nas terras do sítio em data anterior à doação oficial.

Outro que conseguiu carta de sesmaria foi Antônio José Martins que chegou procedente de Caxias, entre 1800 e 1810. As terras do sesmeiro faziam limite com as de Paulo Vaz freire e chegavam até a Vila de Santana de Buriti. Em seu latifúndio fundou a Fazenda Santana, hoje Santana Velha, pólo de escravos no início do século XIX.

O Sítio Curralinho esteve jurisdicionado a outras instâncias administrativas: São Luís (1738-1747), Vila de São Bernardo (1720), Vila de Caxias das Aldeias Altas (1721-1820), Vila de Brejo de Anapurus e, por último, a Vila de Buriti de Inácia Vaz.

No período colonial, estendido ao imperial, as Câmaras Municipais só podiam ser instaladas em vilas ou municípios. Com o crescimento do Sítio Curralinho tentativas foram feitas com o intuito de transformá-lo na categoria Vila. A primeira, datada de 1862, não obteve sucesso, apesar dos argumentos apresentados serem satisfatórios, como conta o historiador Milson Coutinho (1986, p.102)

              “Estava o povoado próximo ao rio Parnaíba, excelente porto, dispunha de Igreja-torre de pedra e cal com todas as alfaias, ficava próximo a Caxias das Aldeias Altas, ponto de comércio mais avançado e desenvolvido do interior da província, contava inúmeros engenhos, alta produção de algodão, arroz, milho e feijão, diversas lojas, artífices, artesãos, arruamentos simétricos, uma população que na sede ia para além de 500 vizinhos, etc.”.

Posteriormente, Alfredo da Cunha Martins, consegui aprovar a Lei nº 1.053 de 15 de junho de 1874, que embora sancionada pelo presidente da província não foi executada.

Dezenove anos depois, da sanção da primeira lei emancipatória, o deputado Martins Júnior apresentou projeto-de-lei requerendo a transformação do sitio em Vila. Exercia, interinamente, o governo do Estado, Alfredo da Cunha Martins, o primeiro propositor da emancipação. Usando a influência do cargo fez com que a Assembleia Legislativa aprovasse, sancionou e fez publicar a Lei nº 53 de 15 de maio de 1893, elevando à condição de vila o Sítio Curralinho.

O cumprimento da Lei deu-se em 31 de outubro de 1893, quando a Câmara Municipal da Vila de Buriti instalou oficialmente a Vila de Sant’Anna do Curralinho e, consequentemente, a Primeira Câmara Municipal, que foi responsável pelos passos iniciais do núcleo político-administrativo.

Os primeiros vereadores (1893-1896):

-Bernardo Antônio de Aguiar

-José Antônio de Araújo Bacelar

-Luiz Pereira do Lago Júnior

-Joaquim Diniz Nunes

-Ângelo Custódio Mendes

Ainda na mesma legislatura:

-João Batista da Silva

-Aureliano Leopoldino Pereira do Lago

A emancipação política da Vila de Sant’Anna do Curralinho, em 1893, sofreu diversos revertérios com a anulação do poder político-administrativo. A primeira extinção ocorreu através da Lei nº 529 de 1º de abril de 1910, quando a sede da Câmara Municipal e da Intendência passaram, novamente, para o controle da Vila de Buriti de Inácia Vaz.

Através da Lei nº 667 de 28 de abril de 1914 restituiu-se a independência da Vila e a nova instalação ocorreu em 3 de agosto de 1915; nova extinção ocorreu através do decreto-lei nº 75 de 22 de abril de 1931 e, mais uma vez, a Vila de Sant’Anna do Curralinho foi anexada a vila de Buriti. Após manifestações populares e forte pressão política o decreto nº 75 foi anulado através de outro decreto-lei, o de nº 121 de 12 de junho do mesmo ano, restaurando a soberania político-administrativa de Curralinho.

Satisfazendo a conjuntura política nacional, a Câmara do Curralinho foi, de novo, impedida de funcionar obedecendo ao decreto nº 9.398, que instituiu o governo provisório de Getúlio Vargas e dissolveu o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais. E, ainda, durante o Estado Novo, entre 1937 e 1945, as Câmaras Municipais foram fechadas e o poder legislativo dos Municípios extinto. Somente a partir de 1948 a *Câmara Municipal de Coelho Neto foi reaberta, definitivamente.

*O nome Vila de Sant’Anna do Curralinho foi mudado para Coelho Neto, através do Decreto-Lei nº 746 de 22 de dezembro de 1934, em homenagem ao escritor, político e professor, nascido em Caxias-MA, Henrique Maximiano Coelho Neto (1864-1934).

 

Fontes bibliográficas

COUTINHO, Milson. A cidade de Coelho Neto na história do Maranhão. Edições Sioge. São Luis.1986.

MACHADO, José Carlos Moraes. A origem e o processo de emancipação política do Município de Duque Bacelar.Uespi.2005

MACHADO, José Carlos Moraes. Atos da Câmara Municipal de Coelho Neto-Legislaturas:1959 a 1966.Inta.2007

REVISTA LEIA HOJE: enciclopédia do Maranhão/Coelho Neto. ano VI. Nº 50. junho. São Luís. AOC propaganda. 2000.

FOTOGRAFIA: Samuel Bastos