Fique aqui, não vá pra lá
Esse negócio da mãe preta ser leiteira
Já encheu sua mamadeira
Vá mamar noutro lugar
Xô xuá
Cada macaco no seu galho
Xô xuá
O meu galho é na Bahia” - (Riachão).
Em 1972, Caetano Veloso e Gilberto Gil voltaram do exílio em Londres imposto
pela ditadura militar. Mesmo os dois sendo bons compositores, com capacidade de
celebrarem o retorno com uma música de autoria deles, com nível intelectual à
altura de suas composições, os baianos preferiram assinalar a volta com a
música “Cada Macaco No Seu Galho”, feita por um compositor desconhecido, mas
baiano como eles, chamado Riachão. Não se sabe o que levou os compositores a
não tirarem de suas lavras uma música de exaltação ao retorno deles ao Brasil.
Eles escolheram e gravaram pra isso “Cada Macaco No Seu Galho”, a música de
Riachão.
O exílio dos cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil veio justamente
por suas composições. As letras delas incomodavam o regime militar implantado
no Brasil por meio da ditadura. Além das músicas de protesto, com letras de
ideologia política, Caetano e Gil eram anarquistas, sim, senhor, pelo traje que
usavam. Eles combatiam a ditadura com as músicas que faziam, e anarquizavam-na
com as roupas extravagantes e irônicas que vestiam no movimento “Tropicália”,
quebrando a ordem natural das coisas.
Em Londres, Gilberto Gil compôs a música “Aquele Abraço” e gravou lá. Foi
abraço para o Rio de Janeiro, para o Chacrinha – Velho Guerreiro – e para a
torcida do Flamengo, enquanto Caetano Veloso preferiu uma homenagem à cidade
inglesa que os acolheu no exílio. A música “London London” foi composta por
Caetano com essa finalidade. Ele mandou para Gal Costa gravar no Brasil. Foi um
grande sucesso.
Se eu fosse Caetano e Gil, pelo amor que eles têm à Bahia, teria escolhido a
música “Na Baixa do Sapateiro”, do compositor Ary Barroso, como fundo musical
do retorno deles ao Brasil. Ary era mineiro, mas baiano de coração, como prova
a música dele. A música de Ary, Na Baixa do Sapateiro, é uma ode à Bahia.
“Bahia, terra da felicidade
Morena, eu ando louco de saudade
Meu Senhor do Bomfim
Arranje outra morena (Bahia)
Igualzinha pra mim
Ô, Bahia, não me sai do pensamento”...
Roberto Carlos antecipou o retorno de Caetano ao Brasil, em dezembro de 1971,
com a música “Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos”, no seu LP daquele ano.
Roberto e Erasmo Carlos compuseram isso, referindo-se a Caetano quando ele
voltasse à Bahia:
“Um dia areia branca seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos a água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir
Pra ver você voltar
E ao se sentir em casa
Sorrindo vai chorar
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história para contar
De um mundo tão distante”.
A expressão cada macaco no seu galho não indica uma adaptação do macaco,
pulando de galho em galho, no querer se dar bem em tudo, em qualquer lugar. O
macaco gosta de pular de galho em galho, mas não é isso que “Cada Macaco No Seu
Galho” nos ensina. Por essa expressão, aprendemos que uma pessoa não deve se
meter naquilo que não lhe diga respeito. E ensina mais isso: cada um na sua, em
seu devido lugar, sem querer ocupar o lugar do outro.
Afirma-se, com “Cada Macaco No Seu Galho”, que cada pessoa tem seu lugar certo,
ou seu o próprio galho. Não é necessário preocupar-se com o lugar do outro, com
intromissões indevidas. Um quebra-galho aqui e outro ali, em determinada
situação, não tira de sentido o “Cada Macaco No Seu Galho”
Aí sobram razões para Caetano Veloso e Gilberto Gil afirmarem, por meio da
música de Riachão, que eles são macaco e o galho deles é o Brasil, e, como não
poderia deixar ser – e principalmente – a Bahia.
Xô xuá!
Até domingo, Duque Bacelar.
Xô xuá!
Tu és minha árvore.
Xô xuá!
Sou um macaco no teu galho.