Era uma vez num reino encantado um rei amado e estimado pelos seus súditos. Quando saia do palácio era aclamado, abraçava criançinhas e idosos e da sua destreza
emanava paz e tranquilidade no reino. Os erros cometidos pela corte eram esquecidos e perdoados, diziam que o soberano não tinha culpa, e o rei continuava sendo idolatrado.
Os leais súditos trabalhavam de sol a sol, mas eram felizes e pagavam com satisfação os impostos reais, e a sobra do que era produzido entregavam com prazer para os coletores
do rei. Essas sobras, segundo o porta-voz do palácio, seriam repartidas em tempos de crise. E todos contribuiam com alegria. Os silos reais eram abastecidos, mensalmente, pelas sobras doadas.
Tragicamente, uma terrível peste se abateu sobre a população. Homens, mulheres, adultos, crianças e velhos ficaram doentes e muitos morreram, outros ficaram impossibilitados
de trabalhar. Instalou-se uma grave crise no reino e a dificuldade se espalhou para todos os lares. Mas, restava uma esperança: os silos reais estavam abarrotados de sobras e todos ansiavam pela divisão.
No décimo segundo mês, os súditos foram intimados para uma reunião na praça do palácio. Vestiram seus melhores trajes e, apesar da calamidade instalada,
seguiram felizes para o encontro. Tinham certeza que o rei anunciaria a divisão das sobras que estava nos silos reais.
Esperavam ansiosos a chegada da majestade. A noite foi caindo e o rei não deu as caras. Então, eis que o porta-voz do palácio foi anunciado ao som das trombetas reais.
Todos ficaram em silêncio, prontos para receberem a boa notícia:
- por ordem do rei menino, comunicamos que não haverá distribuição de sobras, disse o porta-voz.
A balbúrdia foi geral. Todos perguntavam o porquê de tão cruel decisão. Um grupo mais exaltado questionou o empregado real alegando que não era justo, pois
estavam passando severas dificuldades. A grande maioria ficou em silêncio, porém resmungavam entre eles sobre a injustiça do governante que tanto amavam. Os insurgentes foram presos e enforcados por questionarem
a ordem do rei. Os outros seguiram para suas casas, cabisbaixos. Mas, algo miraculoso sobreveio.
Daquela noite em diante o reino encantado saiu da letargia. Os súditos descobriram, envergonhados, que o rei não era o que aparentava. Que as demonstrações de afeto
não passavam de atitudes interesseiras e falsas. Enfim, compreenderam que o rei não estava preocupado com a plebe, somente com as suas regalias e a manutenção de sua corte. E, assim, o povo despertou
e o reino encantado do rei menino desencantou.
Qualquer semelhança com fatos e pessoas do presente terá sido mera coincidência.
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