O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre fez questão de se apresentar
como “homem do povo”. À moda de populistas em todo o mundo, vangloria-se de
falar num idioma próximo do homem comum, repleto de metáforas futebolísticas e
“causos” de botequim. Os alvos são sempre os mesmos: os banqueiros, as elites,
a “mídia” e todos aqueles que acusa de ter preconceito contra um ex-retirante
nordestino que chegou ao posto de maior poder no país.
Para seus
opositores mais eloquentes, Lula é apenas um hipócrita que enriqueceu à custa
da corrupção, um “bilionário” que mantém fortunas em contas secretas fora do
país, onde acumula tudo o que surrupiou dos cofres públicos.
Impossível
saber se o valor bloqueado por Moro corresponde a toda a fortuna de Lula. Ele
foi condenado como proprietário oculto de um apartamento no Guarujá e ainda
responde a processos por esconder em nome de terceiros propinas de R$ 12
milhões recebidas da Odebrecht, na forma do terreno usado para construir o
Instituto Lula, de um sítio em Atibaia e outros agrados de menor monta.
A questão é:
Lula teria como acumular tudo isso apenas com os vencimentos que recebeu ao
longo da vida, do partido, de suas aposentadorias e dos cargos públicos que
ocupou?
Para guardar
R$ 9 milhões, supondo um rendimento real de 5% ao ano – compatível com os
ganhos da Selic sobre a inflação –, um indivíduo da idade de Lula que tivesse
começado a poupar aos 30 anos precisaria guardar R$ 5.865 por mês (em dinheiro
de hoje) ao longo de 35 anos. Seria possível Lula ter mantido tais
contribuições?
Claro que
não. Seu dinheiro foi, contudo, encontrado em duas contas, uma com R$ 1,8
milhão em seu nome, outra em nome de sua empresa de palestras, a LILS, com R$
7,19 milhões. É possível inferir que a segunda conta reúne os rendimentos
polpudos de sua carreira de palestrante, iniciada depois que ele deixou o
governo, enquanto a primeira acumula sua poupança ao longo da vida. Lula nega
ter realizado palestras de fachada para disfarçar propinas e apresentou provas
de ter feito várias delas.
Independentemente
da dúvida que cerca essa carreira lucrativa, para guardar o R$ 1,8 milhão,
alguém com o perfil e a idade de Lula precisaria ter poupado pouco menos de R$
1.200 por mês ao longo de 35 anos. Não é um absurdo, mas certamente não é um
rendimento acessível a um “homem do povo”, nem a ninguém que receba salário
mínimo. Mesmo professores universitários ou gerentes de nível médio teriam
dificuldade para manter tal poupança.
A condenação
de Lula apenas confirma um fato que ele tenta a todo custo esconder atrás de
sua retórica populista: ele tem um padrão de vida e uma riqueza compatíveis com
uma vida de classe alta. Pertence, portanto, à mesmíssima elite que tanto
insiste em atacar.
Por Helio
Gurovitz
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