AMOR PARA ALÉM DA VIDA
Carlos Machado
De uma conversa boba que nada oferecia
Brotou a certeza que um dia reinaria e, como amazona de
gestos pueris, minha vida domaria.
Vieste, depois de um longo tempo, e num breve momento
Se entregou toda acanhada, assombrada com medo da perdição.
Desnuviada perdeu a inocência e sem complacência amarrou-me
com as cordas da paixão.
Hoje, suga as minhas forças, destrói minhas defesas, domina
minhas vontades.
Dominado, sigo sempiterno nesse amor que causa alento, que
ameiga a dor, que traz medo de morrer fisicamente, mas que ousa viver para
sempre.
Sem sofrer sigo agarrado num amor sincero, exato, com gosto
de eterno.
Que seja eterna essa vontade louca de matar-me entre as
pernas, de sufocar-me no abraço, de afogar-me no beijo surreal, eternizando a
candura do olhar que brilha na cobiça de amar.
Abençoado seja o teu riso angelical, teu corpo escultural,
tua pele natural com cheiro de Cestrum
nocturnum; que tua honestidade ajuíze nossos atos, que exagere do instinto maternal
e da amizade colossal.
E, quando a rosa-dos-ventos assoprar nos teus cabelos,
Quando passear o mundo inteiro
Montada no meu coração
Verás com bucólica emoção que, entrelaçados no gozo da
felicidade, fomos cúmplices no assassinato da monotonia.
Mas absolvidos pelo destino, que advoga em nome do amor,
chegamos à plenitude de nossos deleites, extenuando a rotina fria, vivendo como
eternos amantes em cada segundo do dia, dia após dia.
E, na chegada implacável do fim, riremos da tola atitude de quem
imaginou nos apartar. E, quando na minha partida, a morte aturdida descobrirá
que o nosso amor é para além da vida, da outra vida que brotará.
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