Entre os notórios episódios da Guerra Fria, um dos
mais sangrentos foi o Massacre da Praça de Tian’anmen, na China, que ocorreu em
4 de junho de 1989. O conflito foi marcado por uma forte repressão vinda
do Exército
Chinês após uma série de protestos que ocorriam no país nos anos 1980.
As manifestações rondavam algumas pautas ligadas aos
déficits democráticos do Estado Chinês. Elas foram consideravelmente
heterogêneas e envolveram desde intelectuais críticos ao autoritarismo e a
corrupção do Partido Comunista, até trabalhadores das cidades, que protestavam
pelas condições econômicas e inflação. Todavia, os protestos se resumiam em
passeatas pacíficas pela capital.
A
China, nessa época, passava pelo auge do cenário econômico fomentado
por Deng Xiaoping, que inseriu o governo em uma série de reformas econômicas e
governamentais que aproximaram a economia chinesa da economia de mercado
(capitalismo de Estado) ao mesmo tempo em que fortalecia os poderes do governo.
No sentido contrário à tradição de Mao
Tse-Tung, Deng fomentava uma China que se aproximasse dos padrões
ocidentais de economia.
A maioria dos intelectuais chineses acompanhava o
processo da Glasnost de Gorbachev, na URSS, e apontava a necessidade de uma
reforma política estrutural que abrisse o Estado a processos democratizantes.
Eles denunciavam que as reformas econômicas eram pouco efetivas e jogavam a
crise nas costas do trabalhador.
O estopim dos protestos foi a morte de Hu Yaobang,
ex-secretário geral que ficou estigmatizado no Partido por suas concepções
liberalizantes.
Após repressões promovidas por policiais, os protestos
começaram a aumentar, ao mesmo tempo em que se denunciava que a imprensa
oficial estava manipulando a imagem das manifestações para enfraquecê-los. O
centro desses protestos se tornou a Praça Tian’anmen, ou da Paz
Celestial, em Pequim.
Com o crescimento das passeatas, os estudantes
ganharam destaque. Grupos estudantis, apoiados por professores e intelectuais,
e as associações estudantis controladas pelo Partido Comunista, tomaram a
cidade contra o governo.
Com o tempo, outras pautas foram aderidas aos
protestos: defesa da democracia, respeito a Hu Yaobang, fim da corrupção,
reafirmação das pautas dos protestos de 1976, liberdade de imprensa e reforma
política para deslocar o controle do Partido Comunista, etc.
As respostas do governo chinês foram decepcionantes.
Deng Xiaoping tentou algumas vezes, mas logo desistiu de tentar diálogo com os
manifestantes, que na altura de 13 de maio estavam em greve de fome na Praça da
Paz Celestial.
No dia 20, Deng declarou lei marcial no país, mas não
encerrou as manifestações. O atrito entre o povo e o jornal Diário do Povo, que
acusava os manifestantes de baderneiros, só aumentava.
Ao mesmo tempo, a organização e a coesão entre os
manifestantes e os moradores de Pequim aumentavam, acalorando o sentimento de
solidariedade entre os chineses.
Com a lei marcial, o dia 4 de junho ficou marcado na
História. No meio desses protestos, o governo enviou tropas para conter as
manifestações. Entrando com truculência, o Exército Popular de Libertação
iniciou uma batalha campal com fuzis e os tanques do Estado.
O massacre foi um verdadeiro banho de sangue. Os dados
de mortos e feridos desse evento são bastante controversos, indo desde 800
mortos (The New York Times), 2,6 mil (Cruz Vermelha) até 7 mil (manifestantes).
Sabe-se que 23 estudantes universitários foram
oficialmente anunciados como mortos durante o acontecimento. A Universidade de
Tsinghua declarou que o massacre resultou na morte de 4 mil chineses e deixou
30 mil feridos.
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